Papas reis ou Sacro Império Germânico: Qual é a interpretação correta?

Com a possível morte do Papa Francisco, aumentaram as especulações de que o próximo papa será o oitavo rei de Apocalipse 17. Mas será isso verdade?

Há muitos anos, desenvolvi uma explicação sobre essa profecia utilizando o método historicista. Minha conclusão é que Apocalipse 17 se refere ao Sacro Império Romano-Germânico e não ao Estado do Vaticano e seus papas após o Tratado de Latrão.

Por ora, quero apresentar cinco razões gerais pelas quais essa interpretação não se sustenta:

  1. O SIGNIFICADO DA BESTA E DA MULHER: Em profecia, “besta” significa império, não homens ou papas. O simbolismo da “besta” está ligado aos grandes impérios que governaram o mundo: Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma. A besta representa um governo secular, não um governo religioso. Nesta profecia, há uma “mulher” montada sobre a besta. O termo “mulher” simboliza uma igreja. Logo, temos uma igreja dominando um extenso império secular, algo que se concretizou na história medieval, quando a Igreja Católica exerceu grande influência sobre o Sacro Império Romano-Germânico. O erro da interpretação dos papas-reis é que ela confunde a besta com a mulher.
  2. CHIFRES E COROAS: Em profecia, “chifres” representam reis, conforme a interpretação dada pelo anjo em Apocalipse 17:12. Geralmente, esse simbolismo se aplica a reinos menores e pequenos poderes. Já a “coroa” indica que aquele que a possui está reinando. Diferentemente dos dez chifres de Apocalipse 13, que tinham coroas, os dez reis de Apocalipse 17 “ainda não receberam o reino”. Isso descarta a possibilidade de serem os mesmos dez reis. Assim, devemos procurar na história outros dez reis posteriores aos reinos bárbaros.
  3. A BESTA QUE ERA E JÁ NÃO É: Se a besta “que era e já não é” representasse o Vaticano e as sete cabeças, que são os sete montes, fossem sete papas, então quem seriam os dez chifres que deveriam surgir do Vaticano? Para seguir a lógica da profecia, um desses sete papas, o oitavo rei, deveria dar origem aos dez reis. O que não faz nenhum sentido. E, se entendermos que se referem a dez reinos europeus, a besta não é o Vaticano, mas a União Europeia.
  4. ENTREGARÃO SEU PODER À BESTA: Alguns argumentam que os dez chifres representam dez nações da União Europeia que entregarão o controle político ao Vaticano. No entanto, essa teoria apresenta falhas:
    1. Em primeiro lugar, a União Europeia não é composta por apenas dez nações.
    2. Em segundo lugar, o Vaticano não tem participação política no Parlamento Europeu.
    3. Em terceiro lugar, a besta de Apocalipse 19:19 representa a União Europeia, não o Vaticano.
    4. Em quarto lugar, essa profecia de Apocalipse 19:19 não mostra o Vaticano (o Falso Profeta) alinhado com a besta.
  5. ODIARÃO A PROSTITUTA: A profecia afirma que os “dez chifres”, os dez reinos, odiarão a “prostituta”. Isso é totalmente oposto a uma aliança, muito menos a uma partilha de poder. Se a besta é o Vaticano, formado ou aliado a dez reis, o próprio Vaticano (besta) liderado pela Igreja (mulher) iria se posicionar contra a Igreja?
  6. COMERÃO SUAS CARNES: A expressão “comerão a sua carne” indica destruição, não fortalecimento. Na Idade Média a Igreja Católica chegou a possuir um terço das terras europeias, mas hoje suas possessões estão reduzidas ao Vaticano. Isso representa uma degradação de seu poder, não o nascimento de uma besta. Para entendermos a simbologia da “carne”, podemos recorrer à parábola dos ossos secos de Ezequiel 37, onde as carnes sobre os ossos simbolizam o estabelecimento do Estado de Israel, quando as terras lhes foram devolvidas. O contrário disso, quando terras lhes são tiradas, seria o enfraquecimento de um Estado. A profecia mostra que os dez reis comeram a carne da “mulher”, ou seja, tiraram seus territórios, não lhe concederam. Por fim, de novo, se a besta é o Vaticano, então o ele destruiu a Igreja Católica?
  7. QUEIMARÃO NO FOGO: Além disso, a simbologia do “fogo” indica que os reis superaram a mulher (Igreja Católica) em termos de conhecimento. O fogo, entre outras coisas, representa conhecimento. Isso está relacionado ao Iluminismo, um movimento de racionalização científica na Europa que retirou da Igreja o controle sobre o saber.
  8. UMA HORA: Por fim, segundo alguns intérpretes, a “uma hora”, período em que os reis atuam junto com a besta, corresponderia a 15 dias literais. Como isso se cumpriria? Em apenas 15 dias aconteceriam eventos tão significativos, como a união das dez nações europeias com a Igreja Católica, a luta contra o Cordeiro (Jesus), a revolta dos reis contra a Madre Igreja e sua posterior destruição? Quando isso ocorreria? Depois da volta de Jesus?

Esses são alguns dos principais pontos que evidenciam falhas nessa interpretação.

Agora, conheça um pouco a história desta interpretação de que o Apocalipse 17 se refere a sete papas pós Tratado de Latrão.

História da interpretação dos papas reis

Desde a década de 1990, diversos autores têm explorado a interpretação que associa os sete reis de Apocalipse 17 aos papas da Igreja Católica, especialmente a partir do Tratado de Latrão de 1929, que estabeleceu a soberania do Vaticano. Abaixo, destacam-se alguns desses autores e suas contribuições:

1. Dr. Robert N. Smith Jr.

Em 1993, o Dr. Robert N. Smith Jr., um leigo adventista do Texas, publicou o livro “The Sixth King – ‘666’ and The New World Order”. Nesta obra, ele propõe que os sete reis mencionados em Apocalipse 17 representam os papas que governaram a Igreja Católica desde 1929. Segundo sua interpretação, o sexto rei seria o papa João Paulo II, que estava no pontificado na época da publicação.

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2. Dr. Robert Hauser

Uma década antes, em 1983, o Dr. Robert Hauser, da Califórnia, lançou o livro “Give Glory to Him – The Sanctuary in the Book of Revelation”. Embora publicado antes da década de 1990, sua obra influenciou autores posteriores ao abordar a identificação dos sete reis de Apocalipse 17 com os papas pós-1929.

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3. Dr. José Carlos Ramos

Em julho de 1999, o Dr. José Carlos Ramos publicou um artigo na Revista Adventista intitulado “Como entender a profecia de Apocalipse 17:9-11?”. Neste texto, ele analisa a interpretação que associa os sete reis aos papas desde 1929, levantando questionamentos sobre essa perspectiva e destacando a complexidade da profecia.

Scribd

4. Fernando Vallejo

Em 2007, o escritor colombiano naturalizado mexicano Fernando Vallejo publicou “La Puta de Babilonia”. Embora não se concentre exclusivamente na interpretação de Apocalipse 17, a obra critica a Igreja Católica e faz referência à associação histórica entre a instituição e a figura da “Babilônia” mencionada no Apocalipse.

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5. Vanderlei Dornelles

Em 2013, Vanderlei Dornelles escreveu sobre Apocalipse 17 e o oitavo império, discutindo diferentes interpretações da profecia e analisando a visão que relaciona os papas aos sete reis mencionados no texto bíblico.

Adventistas Taio

É importante notar que essas interpretações não são unânimes e são objeto de debate entre estudiosos e teólogos.

Conheça a nossa interpretação sobre esta profecia, clique aqui:

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