WASHINGTON E NOVA YORK — Após anos de tensões com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pelo que considera uma “tendência anti-Israel”, o governo americano anunciou nesta quinta-feira que prevê deixar a agência, atualmente em processo de eleição de um novo diretor-geral. Horas depois, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que também se preparava para abandonar a organização. A saída, no entanto, não é uma surpresa, em um momento em que Washington vem adotando uma política de retirada de tratados, como o Acordo do Clima de Paris, e de organizações internacionais, como o Nafta. Além disso, a possibilidade de o próximo diretor ser um árabe poderia ter sido a gota d’água para os dois aliados. Desde que suspenderam sua contribuição financeira à agência, em 2011, após a admissão da Palestina como Estado-membro, os EUA acumularam dívidas de cerca de US$ 600 milhões. Em nota, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, lamentou profundamente o anúncio.
Segundo funcionários, o governo estava se preparando para uma possível retirada há meses, e esperava uma decisão antes do fim do ano. Vários representantes diplomáticos que seriam enviados à missão na agência este ano foram informados que seus postos estavam suspensos e aconselhados a buscar outras vagas. A saída será efetivada em 31 de dezembro de 2018, quando os EUA passarão a Estado observador.
— A decisão não foi tomada rapidamente e reflete a preocupação dos EUA com os crescentes atrasos nos pagamentos à Unesco, a necessidade de uma reforma fundamental na organização e o contínuo preconceito contra Israel — disse a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.
A saída acontece em um período delicado para a agência, que vota para escolher um novo diretor esta semana, em uma eleição marcada por problemas de financiamento e que evidencia as divisões sobre a associação palestina. A liderança do candidato qatari, Adulaziz al-Kawari, que disputa o cargo com a francesa Audrey Azoulay, mas seguidos de perto pelo egípcio Moushira Khattab, é vista pelos dois países como um fracasso nos esforços para eleger alguém que consideram mais amigável. Esta semana, o embaixador israelense na Unesco descreveu a votação como uma “má notícia para a organização e, infelizmente, também para Israel”.
Para analistas, a retirada é uma escalada significativa das tensões com a ONU. Em outro movimento similar, Trump deve anunciar hoje sua decisão sobre o acordo nuclear iraniano — tudo indica que o presidente se negará a certificá-lo.