Satanás nunca foi Lúcifer: a verdade sobre a origem do mal

O Mal é algo que só se caracteriza graças, primeiramente, a existência do Bem. Porém, ao caracterizar-se, o Mal acaba por caracterizar o Bem, ou seja, caracteriza que o Bem é Bom. O Bem e o Mal são forças que se anulariam caso existisse apenas uma. Por exemplo, a saúde é algo bom, mas só para quem conhece a doença, que é algo mau. Ora quando temos saúde não damos importância ao tipo de bebida ou comida que consumimos. O importante é que sejam agradáveis ao nosso paladar. No entanto, quando adoecemos é que percebemos que a saúde é algo bom, ou seja, por intermédio do mal descobri que o bem é bom.

Essa relação é diretamente proporcional, ou seja, quanto maior for o mal, mais certeza teremos de que o bem é bom. No exemplo em questão, quanto maior for a enfermidade mais certeza terá o enfermo de que a saúde é algo bom. Logo, o mal da doença caracteriza a benignidade da saúde. Mas, não existe doença sem que haja primeiramente a saúde. Portanto, o mal caracteriza o bem, mas sua existência depende da prévia existência do bem.

Muitos, ou todos, condenam Adão e Eva por terem comido o fruto da árvore do conhecimento entre o Bem e o Mal. Para nós é muito fácil dizer que o que eles fizeram não foi correto, mas só sabemos disso porque somos conhecedores do pecado. Certamente que Adão e Eva não sabiam que a vida eterna era algo bom, até conhecerem a morte. Depois disso, passaram a dar valor ao fruto de uma árvore que sempre esteve à disposição deles, mas lhes parecia tão normal quanto às outras, por isso não lhe dava importância: A Árvore da Vida. Mas, agora não eram mais dignos de chegarem a ela. Por isso Deus colocou querubins para guardarem-na:
“Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim não estenda a mão, e tome também a árvore da vida, e coma, e viva eternamente. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado.
E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do éden (…) para guardar o caminho da árvore da vida” ( Gn 3:22-24 )  Portanto, a Vida Eterna só se caracterizou como algo bom graças ao conhecimento sobre a Morte que, naquele momento, caracterizava-se como má.

Uma questão pode ser levantada nesta situação: “Qual motivo da existência da árvore do conhecimento, sobre o bem e o mal, no paraíso, se ela viria a trazer tantos malefícios?” Acredito, e agora se trata de uma reflexão meramente individual, portanto passível de discussão, que a existência da árvore do conhecimento tem o objetivo de caracterizar a benignidade de Deus, ou seja, primeiro existiu o Bem, mas foi necessária a introdução do Mal para que o Bem pudesse ser caracterizado. E, com base nisso, pode-se afirmar: “O Mal já existia no paraíso antes mesmo da criação do homem, mais precisamente no terceiro dia da criação ele surgiu. Logo, é verdade afirmar que Adão e Eva foram os primeiros homens a pecar, mas não que eles foram os responsáveis pela introdução do mal no paraíso, pois o Mal já existia antes mesmo deles terem comido o fruto proibido. Ora, Satanás estava na serpente, logo o Mal já existia e tanto isso é verdade que Deus criou a primeira lei: “… de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás…” ( Gn 2:16-17 ). Se havia lei era porque já havia o mal (transgressão), pois: “onde não há lei, também não há transgressão…” ( Rm 4:15 ); “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” ( Rm 3:20 ).

Sabe-se, portanto, que o Mal já existia no paraíso antes mesmo de Adão e Eva terem pecado, mas a questão que fundamenta este estudo é: “Como surgiu o Mal?”. Necessariamente quando se busca um conhecimento sobre origem do mal, busca-se, também, o conhecimento sobre a origem de seu maior representante: Satanás (Diabo). Nas próximas páginas vamos discorrer um aprofundado estudo bíblico a procura de evidências que possam fundamentar toda essa estória de um dia Satanás ter sido Lúcifer, um anjo que queria ser mais poderoso que Deus, e que iniciou uma peleja no Céu, na qual foi derrotado e lançado a Terra e nos tenta até hoje.
Após este estudo descobriremos que tudo isso não passa de uma lenda causada por uma interpretação equivocada dos leitores e estudiosos da bíblia.

A estória da origem de satanás

Durante toda a minha vida, até hoje, ouço a estória de que Deus tinha um anjo, que era o mais belo, chamado Lúcifer que, por causa da sua formosura, achou que podia ser mais poderoso que Deus. Porém, quando Deus percebeu a iniqüidade no coração de Lúcifer, este foi expulso do Céu, após uma grande batalha, e lançado a Terra; Lúcifer passou a se chamar Satanás…

Muitas pessoas acreditam e defendem essa estória como verdadeira, inclusive grandes estudiosos, como o autor do livro “Patriarcas e Profetas”, criam estórias fantasiosas, desprovidas de qualquer embasamento bíblico. Vejamos um trecho que trata sobre a origem de Satanás:
“…Enquanto todos os seres criados reconheceram a lealdade pelo amor, houve perfeita harmonia em todo o universo de Deus. Era a alegria da hoste celestial cumprir o propósito do Criador. Deleitavam-se em refletir a sua glória e patentear o seu louvor. E enquanto foi supremo o amor para com Deus, o amor de uns para com os outros foi cheio de confiança e abnegação. Nenhuma nota discordante havia para deslustrar as harmonias celestiais. Sobreveio, porém, uma mudança neste estado de felicidade. Houve um ser que perverteu a liberdade que Deus concedera a suas criaturas. O pecado originou-se com aquele que, abaixo de Cristo, fora o mais honrado por Deus, e o mais elevado em poder e glória entre os habitantes do céu. Lúcifer, Filho da Alva, era o primeiro dos querubins cobridores, santo, incontaminado… pouco a pouco Lúcifer veio a condescender com o desejo de exaltação própria…” (Patriarcas e Profetas, pág.: 35).

O autor fala com tanta segurança que chega a nos passar a idéia de indiscutibilidade de sua teoria. No entanto, com base em que ele escreve toda essa estória? Em que trecho, em toda a bíblia, há uma descrição do universo antes da manifestação do pecado? Onde? Ora, isto não passa de uma estória fantasiosa onde os fundamentos estão, na verdade, na infinita capacidade de criação da mente humana. Nada mais que isso.
Acredito que todos conhecem essa estória de Lúcifer. Seus possíveis fundamentos, defendidos por aqueles que neles acreditam serem verdadeiros, encontram-se em três livros proféticos da bíblia: Ezequiel, Apocalipse e Isaías. Mas, antes de discutirmos os conteúdos desses livros, precisamos fazer um estudo histórico, de fundamentação puramente bíblica, para que, só assim, possamos ter condições de contestar atuais fundamentações sobre a origem de Satanás.

Os povos abençoados por Deus

Na bíblia, mais precisamente no Antigo Testamento, há relatos sobre dezenas de povos que tiveram, direta ou indiretamente, alguma relação com o povo de Israel. Entre eles podemos citar os egípcios, os fariseus, os babilônios, os sidomeses, os de Tiro, os da Assíria, os de Moabe, etc. Todos esses povos tiveram alguma relação negativa com o povo de Israel e, através de profecias, receberam duras penas de Deus. No livro intitulado Ezequiel encontra-se várias profecias contra alguns desses povos. Por exemplo, em Ezequiel 25 há profecias contra os povos de Amom, Moabe, Edom e Filístia. Em várias outras partes da bíblia, principalmente em Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, podem ser encontradas diversas dessas profecias.

Porém, em relação a alguns povos Deus, por intermédio dos profetas, além de anunciar profecias de destruição, anunciou, também, lamentações. Os únicos povos que Deus lamentou destruir foram: Israel, Egito, Tiro e Babilônia. Qual seria o motivo que levou Deus a lamentar a destruição desses povos? Ora, por uma razão comum: Os reis, ou príncipes, desses povos eram abençoados e amados por Deus. Ora, como pôde Deus amar e abençoar povos como, por exemplo, os egípcios que tanto mal lhe fez, se é que fizeram algum bem?! Esta indagação só pode ser respondida, com clareza, após uma profunda análise dos relatos bíblicos sobre esses povos e, logo após, vamos associar as conclusões com a equivocada estória sobre a origem de Satanás, que é o objetivo de nossa discussão.

As lamentações a esses povos podem ser encontradas em:

  1. Lamentações (Livro todo dedicado ao sofrimento do povo de Israel);
  2. Ezequiel 27:1-4 (Lamentações à Tiro e seu rei): 
    “Veio Amim a palavra do SENHOR, dizendo: Tu, pois, ó filho do homem, levanta uma lamentação sobre Tiro; dize a Tiro (…): Assim diz o SENHOR: Ó Tiro, tu dizes: Eu sou perfeita em formosura. No coração dos mares, estão os teus limites; os que te edificaram aperfeiçoaram a tua formosura.”
  3. Jeremias 51:7-9 (Lamentação à Babilônia e seu rei): 
    “A Babilônia era um copo de ouro na mão do SENHOR (…). Repentinamente, caiu Babilônia ela, porém, não sarou (…) lamentai por ela, tomai bálsamo para a sua ferida.”
  4.  Ezequiel 32:1-2 (Lamentação ao Egito): 
    “(…) Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, levanta uma lamentação contra faraó, rei do Egito, e dize-lhe: Foste comparado a um filho de leão entre as nações (…)”

Sabe-se, agora, após ler esses trechos, que Deus realmente lamentou destruir esses povos mas, exatamente, o que significa “lamentar”?

Se analisarmos em um dicionário, lamentar é o mesmo que: 1) Chorar, gemendo ou gritando; 2) Lastimar, deplorar; 3) Proferir palavras de tristeza, aflição. Logo, Deus estava muito triste ao anunciar os castigos a esses povos, aos quais os amava bastante.

O povo de Israel

Não há dúvidas sobre o grande amor de Deus em relação ao povo de Israel, o “Povo de Deus” (Ex 3:10), principalmente à cidade de Jerusalém, sendo esta, simbolicamente, considerada a “Noiva de Deus” (Is 62:3-5).
Porém a recíproca desse amor não era verdadeira, uma vez que este povo desapontava tanto a Deus que Ele, por diversas vezes, o castigou e, arrependendo-se, por conta de Seu grande amor, o perdoou: “Então, enviou o SENHOR a peste a Israel, desde a manhã até o tempo que determinou; e, de Dã até Berseba, morreram setenta mil homens do povo. Estendendo, pois, o Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o SENHOR do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão…” (2 Sm 24:15-16). “…Assim diz o SENHOR, Deus de Israel…: Se permaneceres nesta terra, então, vos edificarei e não vos derribarei; porque estou arrependido do mal que vos tenho feito.” (Jr 42:9-11).

Talvez o período de domínio da Babilônia sobre Israel tenha sido o maior castigo de Deus para com o seu povo: “…Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Visto que não escutastes as minhas palavras, eis que mandarei buscar todas as tribos do Norte, diz o SENHOR, como também a Nabucodonossor, rei da Babilônia, meu servo, e os trarei contra esta terra, contra os seus moradores e contra todas as nações em redor, e os destruirei totalmente… toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; todas estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta anos” (Jr 25:8,9,11). 

Era com grande tristeza que Ele o castigava: “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? ? Diz o SENHOR; não desejo eu, antes, que ele se converta e viva?… Não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus. Portanto, convertei-vos e vivei.” (Ez 18:23,32). Tamanha era essa tristeza que há um livro todo focado em prantear o castigo sofrido pelo povo de Israel durante o domínio babilônico. Este livro é intitulado Lamentações. Logo, não há dúvidas do motivo de Deus lamentar o castigo dado a Israel era porque o amava muito, tanto que o escolheu como Seu povo.

O povo do Egito

Antes de iniciarmos uma análise sobre a relação que Deus tinha com o Egito, é preciso que se reflita sobre a seguinte indagação: “Se Deus, em Suas próprias palavras, ao descrever o Brasil, simbolicamente, o comparasse a maior, mais bela e formosa árvore do éden e que nenhuma outra árvore a ela se assemelhava. Que conclusões poderíamos tirar disso? Ora, que o Brasil seria um lugar abençoado por Deus e Ele muito o quer bem. Correto?
Pois você sabia, leitor, que foi exatamente essa comparação que Deus fez, por intermédio do profeta Ezequiel, ao descrever o Egito? 
“(…) Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, dize a faraó, rei do Egito, e a multidão do seu povo: A quem és semelhante na tua grandeza? (…) Se elevou a sua estatura sobre todas as árvores do campo, e se multiplicaram os seus ramos (…) por causa das muitas águas durante o seu crescimento. Os cedros no jardim de Deus não lhe eram rivais (…), nenhuma árvore do jardim de Deus se assemelhava a ele na sua formosura. (…) Todas as árvores do éden, que estavam no jardim de Deus, tiveram inveja dele.” ( Ez 31:1-2;5;8-9).

Quem proporcionou ao Egito ser merecedor de tais adjetivos? Ora, o próprio Deus assim o fez: “Formoso o fiz na multidão de seus ramos; todas as árvores do Éden, que estavam no Jardim de Deus, tiveram inveja dele…” (Ez 31:9). Mas, apesar de todas as bênçãos recebidas, os egípcios não as reconheceram como sendo oriundas de Deus. Antes acreditavam ser Faraó um deus: “A terra do Egito se tornará em desolação e deserto; e saberão que eu sou o SENHOR. Visto que disseste: o rio é meu, e eu o fiz, eis que estou contra ti e contra os teus rios.” (Ez 29:9-10). 

Por esta razão Deus decidiu entregar o Egito nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, assim como fez a Israel: “(…) Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu darei a Nabucodonossor, rei da Babilônia, a terra do Egito (…)” (Ez 29:19). “Assim diz o SENHOR Deus: Eu, pois, farei cessar a pompa do Egito, por intermédio de Naucodonossor, rei da Babilônia.” (Ez 30:10).

É, portanto, por Deus ter abençoado a Faraó e este não ter reconhecido que seu poder vinha de Deus, ao contrário, ele achava que era um deus, que Ele lamentou profundamente ter que destruí-lo: “Filho do homem, levanta uma lamentação contra Faraó, rei do Egito, e dize-lhe: …Quando eu te extinguir, cobrirei os céus e farei enegrecer as suas estrelas; encobrirei o sol com uma nuvem, e a lua não resplandecerá a sua luz. Por tua causa, vestirei de preto todos os brilhantes luminares do céu e trarei trevas sobre o teu país, diz o SENHOR Deus.” (Ez 32: 2,7-8).

O povo de Tiro

Tiro era uma cidade muito próspera no comércio marítimo e, por causa disso, exercia grande influência sobre diversos povos, sendo considerada a “Feira das Nações” (Is 23:3), ou seja, a fonte de abastecimento dos povos. Tiro era também chamada de “a Grande Distribuidora de Coroas” (Is 23:8), caracterizando a grande riqueza que possuía.

Em Ezequiel 27 acha-se uma lista dos povos aos quais Tiro exercia grande influência comercial. Povos como: Basã, Egito, Sidom, Persas, Társis, Síria, Judá, Israel, Arábia, Sabã, entre outros. Em troca das mercadorias oriundas da cidade Tiro os povos davam: Prata, bronze, escravos, madeira de Ébano, esmeraldas, linho puro, trigo, azeite, cordeiros, bodes, carneiros, ouro, aromas finos, navios e, inclusive, povos como os Persas ofereciam seus soldados para lutarem em nome de Tiro: “Os Persas (…) se acharam em teu exército e eram teus homens de guerra; escudos e capacetes penduraram em ti; manifestaram a tua glória.” (Ez 27:10)

Como pudemos observar, a cidade de Tiro era muito rica, próspera e, sobretudo, poderosa. Todo esse poder foi conseguido graças ao seu rei, que vamos conhecer a seguir.

O rei de Tiro

Era um dos homens mais sábios da época, segundo as próprias palavras de Deus: “Sim, és mais sábio que Daniel, não há segredo algum que possa esconder de ti; pela tua sabedoria e pelo teu entendimento, alcançaste o teu poder e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros…” (Ez 28:3-4). Sendo, como pudemos verificar, mais sábio que Daniel, um dos grandes profetas de Deus. Logo, pode-se dizer que o rei de Tiro era uma pessoa abençoada por Deus, uma vez que só Deus dá a sabedoria e o poder: “Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.” (Dn 2:20-21). A todos aqueles que Deus dá a sabedoria, esta lhe proporciona sorte de bens e tesouros, como aconteceu com o rei de Tiro: “Eu, a sabedoria, (…) ando pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo, para dotar de bens os que me amam e lhes encher os tesouros.” (Pv 8:12;20-21). Porém os estrondosos aumentos de riquezas e de poder fizeram com que o rei de Tiro ganhasse tanta estima, de diversos povos, que ele começou a achar que era o próprio Deus: “…Dize ao príncipe de Tiro: Assim o diz o SENHOR Deus: Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares, e não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus…” (Ez 28:2). Por causa disso, Deus decidiu entregar a cidade de Tiro nas mãos da Babilônia: “…Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu trarei contra Tiro a Nabucodonossor, rei da Babilônia…” (Is 23:13,15).

O povo da Babilônia

A Babilônia, no reinado de Nabucodonosor, era o povo mais forte, rico e poderoso da época. Se você, leitor, percebeu, todos os outros três povos, analisados por nós, foram submetidos ao poder da Babilônia. Para se entender melhor o motivo de Deus ter dado tanto poder à Babilônia é necessário que se estude, e entenda, a relação entre Nabucodonosor e Deus.

O rei da Babilônia

Não existiu um rei, não-judeu, tão abençoado por Deus quanto o rei Nabucodonosor, e isso pode ser claramente observado na forma como o próprio Deus se referia a ele: “O rei dos reis” (Ez 26:7); “Meu servo” (Jr 27:6 e Jr 43:10). Nabucodonosor foi um rei que conquistou grande poder graças a sua fidelidade a Deus, pois Deus abençoa os justos, como assim o fez a Nabucodonosor: “Eu fiz a terra, o homem e os animais que estão sobre a face da terra, com meu grande poder e com meu braço estendido, e os dou àquele a quem for justo. Agora, eu entregarei todas estas terras ao poder de Nabucodonosor, rei da Babilônia, meu servo; e também lhe dei os animais do campo para que o sirvam…” (Jr 27:5-6).

Por ter sido considerado, por Deus, uma pessoa justa é que Nabucodonosor teve a honra de receber aqueles dois adjetivos da própria boca de Deus.
O rei Nabucodonosor era fiel a Deus, ao qual O reconhecia como “O Deus dos deuses” e “O senhor dos reis” (Dn 2:46-47) e bendizia o Seu nome: “(…) Eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu (…) e bendisse o Altíssimo (..), louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus caminhos, justos (…)” ( Dn 4:34,37). Deus abençoava tanto a Nabucodonosor que, durante o cativeiro, ordenou que o Seu povo prestasse obediência ao rei da Babilônia, punindo com a morte quem assim o não fizesse (Jr 27:11-14). Portanto, não há dúvidas que a Babilônia era uma grande nação abençoada por Deus por causa de seu rei. 

O reflexo do caráter e obediência de Nabucodonosor pode ser visto no poder e nas glórias alcançadas pela Babilônia: “Fortalecerei os braços do rei da Babilônia e lhe porei na mão a minha espada (…)” (Ez 30:24). “Saberão que eu sou o SENHOR, quando eu puser a minha espada nas mãos do rei da Babilônia…” (Ez 30:25). “A Babilônia era um copo de ouro na mão do SENHOR…” (Jr 51:7). “Tu, Babilônia, eras o meu martelo e minhas armas de guerra; por meio de ti destrui reis…” (Jr 51:20). 

Porém uma coisa é certa, e esta é uma reflexão minha, o poder e a riqueza são os elementos que mais tentam o coração dos justos à desobediência aos preceitos de Deus, levando o homem à loucura. Foi exatamente isso o que aconteceu a Nabucodonosor. Depois de tanto poder e riqueza ele começou a se desviar dos caminhos de Deus; a gota d´água foi quando ele fez uma imagem de ouro de outro deus, e obrigou que todos a adorassem:
“O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro… Levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia… Qualquer que não se prostrar e não adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente.” (Dn 3:1,6).

Neste momento Deus perdoa Israel e arrepende-se do mal que lhe fez: “…Assim diz o SENHOR, Deus de Israel…: Se permaneceres nesta terra, então, vos edificarei e não vos derribarei; porque estou arrependido do mal que vos tenho feito.” (Jr 42:9-11). Deus, então, anuncia a destruição da Babilônia: “Eis agora vem uma tropa de homens, cavaleiros de dois a dois. Então, ergueu ele a voz disse: Caiu, caiu Babilônia; e todas as imagens de escultura dos seus deuses jazem despedaçadas por terra.” (Is 21:9-10) “Ponde-vos em ordem de batalha em redor contra a Babilônia, todos vós que manejais o arco; atirai-lhe, não poupeis as flechas; porque ela pecou contra o SENHOR… Portanto, assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que castigarei o rei da Babilônia e a sua terra…” (Jr 50:14,18). Porém, Deus lamentou profundamente ter que fazer isso: “A Babilônia era um copo de ouro na mão do SENHOR, o qual embriagava a toda a terra; do seu vinho beberam as nações; por isso, enlouqueceram. Repentinamente, caiu Babilônia e ficou arruinada; lamentai por ela, tomai bálsamo para a sua ferida; porventura sarará. Queríamos curar Babilônia, ela, porém, não sarou; deixai-a, e cada um vá para a sua terra; porque o seu juízo chega até ao céu e se eleva até as mais altas nuvens.” (Jr 51:7-9) “Tu Babilônia, eras o meu martelo e minhas armas de guerra; por meio de ti, despedacei nações e destrui reis; por meio de ti despedacei o homem e a mulher, despedacei o velho e o moço, despedacei o jovem e a virgem; por meio de ti, despedacei o pastor e seu rebanho, despedacei o lavrador e sua junta de bois, despedacei governadores e vice-reis.” (Jr 51: 20-23)

 Então, por meio de um sonho, Deus anuncia a Nabucodonosor a sua queda e destruição do reino: “Eu, Nabucodonosor, estava tranqüilo em minha casa e feliz no meu palácio. Tive um sonho que me espantou; e, quando estava no meu leito, os pensamentos e as visões da minha cabeça me turbaram.
Eram assim as visões da minha cabeça (…): Eu estava olhando e vi uma árvore no meio da terra, cuja altura era grande; crescia a árvore e se tornava forte, de maneira que sua altura chegava até ao céu; e era vista até os confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sustento para todos (…) No meu sonho (…) vi um vigilante, um santo, que descia do céu, clamando fortemente e dizendo: Derribai a árvore, cortai-lhe os ramos, derriçai-lhe as folhas, espalhai o seu fruto; afugentem os animais de debaixo dela e as aves, dos seus ramos. A árvore que viste, que cresceu e se tornou forte, cuja altura chegou até ao céu, e que foi vista por toda a terra (…) És tu, ó rei, que cresceste e vieste a ser forte; a tua grandeza cresceu e chega até ao céu, e o teu domínio, até a extremidade da terra. Esta é a interpretação, ó rei, este é o decreto do Altíssimo, que virá contra o rei, meu senhor: Serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e dar-te-ão a comer ervas como aos bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer.” (Dn 4:4-5, 10-14, 20, 22, 24-25). 

Em Daniel 4:33-34, 37 encontra-se, em detalhes, como aconteceu a queda de Nabucodonosor. Analisando-se esse trecho percebe-se que Nabucodonosor foi humilhado por Deus mas, apesar de toda a desgraça que lhe foi imposta, ele arrependeu-se de tudo o que tinha feito de mal aos olhos do SENHOR e O glorificou: “No mesmo instante, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi expulso de entre os homens e passou a comer ervas como os bois, o seu corpo foi molhado com o orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves. Mas, no fim daqueles dias,eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba.” (Dn 4:33-34, 37)
Com isso terminamos nossa análise sobre os povos mais abençoados por Deus e, partindo desse conhecimento, vamos descobrir quão equivocada é a interpretação bíblica que os grandes estudiosos fazem sobre a origem de Satanás, maquiando-o como tendo sido um Anjo de Deus.

Os supostos fundamentos para a origem de Satanás

Como já foi dito, no início dessa discussão, os supostos fundamentos para sustentar a teoria de que Satanás era um anjo, chamado Lúcifer, são encontrados em três livros bíblicos, aos quais vamos analisar agora:

Ezequiel capítulo 28 versos 13 a 17

“Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte santo de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem.”

Acredita-se que esse trecho seja sobre a origem de Satanás porque se pode encontrar fortes evidências, como as que estão destacadas em negrito no texto. A bíblia é um poderoso instrumento que deve ser utilizado para o estudo, e não apenas para uma leitura solta e vazia; estudar a bíblia, acredito, é analisá-la cuidadosamente, sem pressa, observando todo o contexto histórico de cada verso e ligando os fatos ocorridos ao motivo de tais palavras terem sido escritas.

É por falta dessa análise contextual que muitas pessoas se convencem ser esse trecho direcionado à figura de Satanás. A partir de agora vai ser exigida a compreensão de toda a análise histórica feita no capítulo anterior.
Este trecho, na verdade, corresponde a um trecho de uma lamentação que Deus levanta ao rei de Tiro; não é difícil constatar isso, basta ler os dois versos anteriores: “Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura…” (Ez 28:11-12). 

Reflita agora leitor e me responda: “Quem é, segundo as próprias palavras de Deus, nesse contexto, o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura? Satanás?”. Torna-se difícil, e ilógico, acreditar que todos esses adjetivos sejam destinados ao rei de Tiro? Mas, só para quem deixou passar, desapercebidamente, todo o contexto histórico que circunda o motivo de tais palavras terem sido proferidas, ou seja, todo o relato desse trecho é direcionado ao rei de Tiro pelos motivos aos quais debatemos quando analisamos a história, bíblica, da cidade de Tiro.

Quando Deus diz: “Tu eras querubim” e “Estavas no Éden jardim de Deus”, é evidente que há aqui o mesmo recurso de comparação simbólica utilizada por Ele para descrever o Egito. Da mesma forma, como vimos, que Deus compara Faraó e o Egito a mais bela e formosa árvore do Éden, mais bela inclusive que a árvore da Vida. Ele compara simbolicamente o rei de Tiro ao mais sábio e formoso querubim do Éden.

Veja, agora, como o restante da análise do texto se encaixa com harmonia:

1- Quando Deus diz: “Perfeito eras nos teus caminhos”, fica claro que é sobre o motivo pelo qual Deus concedeu tanto poder e riqueza ao rei de Tiro, pois toda e qualquer autoridade, como de um rei por exemplo, provém de Deus: “… porque não há autoridade que não proceda de Deus; as autoridades foram por Ele instituídas…” (Rm 13:1). E essa autoridade Deus concede aos que forem justos aos Seus olhos: “Eu fiz a terra, o homem e os animais que estão sobre a face da terra, com meu grande poder e com meu braço estendido, e os dou àquele a quem for justo…” (Jr 27:5).

2- Quando Deus diz: “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura”, é evidente que sobre a loucura do rei de Tiro em acreditar que era o próprio Deus: “…Dize ao príncipe de Tiro: Assim o diz o SENHOR Deus: Visto que se eleva o teu coração,e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento…” (Ez 28:2 ). Logo, o querubim, o anjo da guarda ungido, ao qual esse trecho, em análise, se refere é, na verdade, o rei de Tiro e não Satanás. Não há sentido em se afirmar que esse trecho está se referindo à figura de Satanás, porque não há fundamentação alguma, não há contexto histórico algum, em toda a bíblia, que possa ser usado como ponte para essa afirmação, ou seja, com base em que se pode dizer que esse querubim é Satanás? De onde vem a fundamentação?

Apocalipse, capítulo 12 e versos 7 ao 9 

“Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; Todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor do mundo, sim, foi atirado para a terra e, com ele, os seus anjos…”

Para os que acreditam na estória de Satanás ter sido Lúcifer, esse trecho complementa o trecho analisado no sub-capítulo anterior, ou seja, depois que Deus descobriu a iniqüidade no coração de Satanás teria acontecido essa peleja, acima descrita, para expulsá-lo do céu. Logo, o que fundamenta esse trecho são exatamente as conclusões infundadas que tiram do trecho do sub-capítulo anterior. Nada mais ilógico! 

Mais uma vez é feita uma análise de um trecho bíblico sem a atenção necessária à análise do contexto ao qual, verdadeiramente, o fundamenta. 
O ponto a ser considerado, neste caso, é: Sim, esta peleja é no céu e contra Satanás; porém, ela ainda não aconteceu. Ora, Apocalipse é um livro profético, ou seja, um livro de profecias que, segundo qualquer dicionário, significa: “Predição feita por um profeta.” E profeta significa: “Indivíduo que prediz o futuro”.

Há algum cabimento o fato de um profeta fazer profecias de coisas já ocorridas? O próprio apóstolo João, escritor do Apocalipse, diz o propósito do livro: “…Mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer…” (Ap 1:1) Logo, serão relatadas coisas que ainda irão acontecer e não fatos já ocorridos. Não há sentido em se profetizar o passado; neste caso, o termo mais adequado seria “relembrar” ou “rever” e não “profetizar”.

Se essa peleja realmente aconteceu no princípio, por que absolutamente nada é relatado em Gênesis? Principalmente quando a serpente, Satanás, faz o homem transgredir no paraíso? Nenhum indício de peleja alguma, nada! A peleja descrita acontecerá quando houver se cumprido a profecia sobre a Mulher e o Dragão (Ap 12:1-6). Em resumo, o que realmente acontecerá, segundo a bíblia é (nesta análise não houve qualquer preocupação em se discutir o significado da simbologia acerca da mulher, apenas relatar o fato): “A mulher está grávida e aponto de lar a luz; porém, o dragão quer devorar o filho dela (que é Jesus). No entanto, ao nascer, o filho da mulher é arrebatado para o céu. Como o objetivo do dragão é matá-lo, ele sobe ao céu para tentar concretizar esse objetivo e lá, aí sim, ocorrerá essa peleja.” Tanto isso é verdade que, quando o dragão é expulso do céu ele volta para perseguir a mulher. Logo, para que haja tal peleja, é preciso que se concretize a profecia a respeito da mulher grávida, ou seja, é preciso que exista essa mulher grávida.

Segundo a teoria, a rebelião de Lúcifer aconteceu no céu ainda antes da Criação, ou seja, antes mesmo que Deus tivesse criado o homem, o mar, os animais, enfim, todas as coisas. Porém, indago, em tom de desafio, a todo e qualquer estudioso da Palavra de Deus, a me provar, biblicamente, a existência de qualquer forma de vida antes de Deus ter iniciado Sua obra de criação!

” No princípio, criou Deus os céus e a terra.” ( Gêneses 1:1 ) Este é o primeiro verso da Bíblia, este é o verso que atesta o princípio de todas as coisas, a criação dos céus e da terra e tudo o que neles há. A verdade só existe quando se manifesta em sua total plenitude, ou seja, ou a verdade é 100% ou ela não é verdade. 99% de verdade torna-a uma mentira, uma falsa verdade. É exatamente essa falsa verdade, que eu prefiro chamar de mentira, que é pregada quando se induz as pessoas a acreditarem nesse tempo e espaço da suposta peleja entre Lúcifer e os habitantes do céu.
Há uma grande desarmonia com a Palavra de Deus (Bíblia ), no que diz respeito ao tempo em que ocorreu esta peleja: Antes da Criação. Ora, como é que um estratagema tão tolo se passa por Verdade durante tanto tempo? Como é que pôde, leitores em sã consciência, acontecer uma peleja no céu se os céus ainda nem tinham sido criados?! Logo, acreditar que essa peleja representa a expulsão, no céu, de Satanás, quando este ainda era chamado de Lúcifer, e seus anjos, é acreditar numa suposta desarmonia (contradição) bíblica, na qual uma hora se afirma, em Gênesis, que Deus criou o universo e tudo o que nele há e outra hora se afirma, em Apocalipse, que já havia vida, tempo e espaço antes mesmo da criação dos céus e da terra. Acreditar nessa desarmonia é acreditar que a Bíblia não é a fonte da Verdade, é acreditar que ela não é fonte de inspiração divina.

Outra grande desarmonia encontrasse no aspecto do local ao qual ocorreu esta peleja: Iniciou-se no Céu e culminou com Lúcifer sendo lançado à Terra. Mais uma vez indago: Como Lúcifer conseguiu rebelar-se e iniciar uma peleja no céu, se ainda não havia céu? Como conseguiram expulsá-lo de um céu, que ainda não existia, e atira-lo à Terra, quando esta, também, ainda não havia sido criada? Estamos diante, talvez, da maior farsa da história, sob o aspecto religioso.

Finalmente, com base em que se pode afirmar que essa peleja aconteceu antes do princípio dos tempos? Qual ponte, em argumentos fundamentados, há entre esta peleja e Satanás ter sido um querubim de Deus? O único indício de quem era Satanás, no princípio dos tempos, é o de que ele era “A antiga serpente” (Ap 12:9) e não um querubim.

É incrível como toda essa estória, a respeito dessa peleja, pregada por aí, consiga passar-se por verdadeira sendo apoiada em estratagemas tão tolos, como o de se afirmar que é possível profetizar-se o passado e de que havia um universo paralelo antes da criação. Todo embasamento para ser justificado deve encontrar harmonia com os escritos bíblicos; se não for necessária essa harmonia, é melhor pararmos a discussão por aqui.

Isaías, capítulo 14 e versos 12 ao 14 

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitava as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo…”

Este trecho, verdadeiramente, não tem relação alguma com a possível origem de Satanás por dois motivos: Um de simples verificação e outro de profunda análise. Fazendo uma simples verificação do contexto, observa-se que se trata de um trecho dirigido ao rei da Babilônia. Não precisa esforçar-se muito para chegar a essa conclusão, basta ler os versos 4 e 22 deste mesmo capítulo: “…então proferirás este motejo contra o rei da Babilônia…” (Is 14:4) “Levantar-me-ei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos; exterminarei de Babilônia o nome e os sobreviventes, os descendentes e a posteridade, diz o SENHOR.” (Is 14:22) Logo, com isso, percebe-se que o capítulo 14 de Isaías, do verso 1 ao 23, trata-se de uma profecia sobre a queda do maior reino da terra, na época: O reino da Babilônia.

Fazendo, por outro lado, uma análise profunda de todo o contexto histórico, análise essa discutida quando analisamos a história de Nabucodonosor, observamos o seguinte: No verso 12, os adjetivos “estrela da manhã” (em traduções antigas: Lúcifer. Eis aí o motivo de toda a confusão ) e “filho da alva” são direcionados ao rei Nabucodonosor, da mesma forma que Deus assim o fez quanto aos reis do Egito e de Tiro. Quando é dito: “Como caíste do céu (…) tu que debilitava as nações”. Há um reforço de que estas palavras são direcionadas a Nabucodonosor, pois, me diga leitor, qual foi o rei cuja grandeza e o poder chegavam até ao céu e o domínio até a extremidade da terra? Se você não lembra, releia o tópico sobre o rei da Babilôna, acima, e descubra a resposta, mas já vou adiantando que não foi Satanás.

Os versos 13 e 14 tratam sobre a loucura de Nabucodonosor, por conta do grande crescimento de seu poder e, por causa de sua exaltação própria, pois ele tinha poder sobre a vida e a morte de qualquer indivíduo, como pode se verificar nas palavras do profeta Daniel: “(…) Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor (…) o reino e grandeza, glória e majestade. Por causa da grandeza que lhe deu, povos, nações e homens de todas as línguas tremiam diante dele; matava a quem queria e a quem queria deixava com vida; a quem queria exaltava e a quem queria abatia. Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a sua glória.” (Dn5:18-20)

Faça agora, leitor, uma análise em todo o Antigo Testamento e você verá que, como foi dito anteriormente, não houve um rei não-judeu mais poderoso, e abençoado por Deus, que Nabucodonosor, e é por causa de sua traição contra Deus que a Babilônia é um dos povos mais citados e odiados em toda a Bíblia.

Portanto, o Lúcifer ao qual se refere à bíblia, em traduções mais antigas, nada mais é que o rei Nabucodonosor. Que Satanás possa ter exercido alguma influência sobre ele é uma hipótese até aceitável, mas chegar-se ao cúmulo de dizer que esta profecia de Isaías, sobre a queda da Babilônia, corresponde à expulsão de Satanás do paraíso é de uma malignidade sem tamanho, pois não há qualquer embasamento bíblico para justificá-la. Entretanto, há uma resposta de Jesus Cristo àqueles que estudam a Palavra, mas encobrem a verdade: “Ai de vós, intérpretes da Lei! Porque tomaste a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando.” (Lc 11:52).

Considerações finais

Ora, se Satanás não foi Lúcifer: “O anjo de luz”, “a estrela da manhã”, “o filho da alva”. Se toda essa estória não tem fundamento, qual seria, então, a verdadeira origem de Satanás? Quando isso aconteceu?

A verdade é que a bíblia não faz referência a tal assunto; a referência mais antiga sobre Satanás é a que diz ter sido ele a “antiga serpente do Éden” (Ap 20:2), e só! Nada sobre a sua origem. Mas de uma coisa esteja certo, leitor, ele foi criado por Deus na mesma semana que o homem assim o foi, ou seja, a origem de Satanás é mais antiga que a do homem em, no máximo, 5 dias, pois Deus criou o universo, e tudo o que nele há, em 6 dias e no 7º dia descansou e nada fez. Portanto, toda a estória de que houve um “Universo de Deus” onde Satanás (Lúcifer) vivia em perfeita harmonia com Ele etc., como é pregada por aí e é descrita em vários livros como, por exemplo, no livro intitulado “Patriarcas e Profetas”, não passa de mais uma estória que saiu da mente fantasiosa de seu autor, uma vez que não há a mínima fundamentação bíblica que demonstre isso. Todas as pessoas que acreditam nisso estão sendo, na verdade, incoerentes com a bíblia e com as próprias palavras de Jesus e do apóstolo João sobre quem realmente foi e é Satanás:
“(…) Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade…” (Jo 8:44 ) “(…) O Diabo vive pecando desde o princípio…” (1Jo 3:8 ) Logo, com base nos trechos acima, temos a certeza de que Satanás nunca foi bom, perfeito e amigo de Deus, como alguns dizem por aí.

Acredito que o motivo da disseminação de toda essa estória, de universo paralelo e anjo decaído, é o de mascarar a verdade de que o próprio Deus é o criador do Mal. As pessoas mentem ao tentar caracterizar Deus apenas como o criador do bem e que o mal jamais procedeu e jamais procederá Dele. Para tentar justificar isso criaram toda essa estória, afim de que a origem do mal fosse proveniente de Satanás, e não de Deus. Criando essa estória, afirmam: “De Deus procede o Bem. Quando Ele criou Lúcifer eis que este era bom e sábio. Portanto, coube a Lúcifer a origem do Mal, e não a Deus, pois o mal não procede de Deus…”

Com qual propósito criaram essa mentira? Na verdade, com essa estória tentam tirar um poder de Deus e dá-lo a Satanás. Assim sendo, Deus é o criador de tudo o que é Bom e Satanás o criador de tudo o que é Mau; logo, temos, na verdade, dois criadores e não apenas um. É nisso que você acredita, leitor? Verdadeiramente, só existe um criador de TODAS as coisas e ele é Deus. Foi Ele quem criou o bem e foi Ele, também, quem criou o mal e as trevas. Deus criou Satanás do jeito que ele é e sempre foi, sem essa fantasia de anjo do bem.

Alguns devem estar pensando que eu estou louco ao afirmar que Deus é, também, o Pai criador do mal e das trevas. Entretanto, não pensem que sou tão inteligente assim, não me deem este crédito todo, pois ele não saiu de minha cabeça, mas da bíblia, a “inegável fonte da verdadeira verdade”:
“Eu sou o SENHOR, e não há outro (…). Para que se saiba, até ao nascer do sol e até o poente, que além de mim não há outro; eu sou o SENHOR e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Is 45:5-7)

Acredito, entretanto, que a origem de Satanás tenha ocorrido no terceiro dia da criação, ou seja, no dia da criação da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, pois é neste momento que o mal é criado e, acredito também, seu maior representante, pois acho pouco provável ter havido o mal sem que houvesse Satanás, uma vez que ele é o mal propriamente dito. Ele é a criação e não o criador, ou seja, ele é o mal e não o criador do mal. O criador é único: Deus.

Fonte: Webartigos | Este artigo sofreu pequenas edições.

Robson Bento Santos ( E-mail: perytyler@hotmail.com )

São Lourenço da Mata, 03 de fevereiro de 2007

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1 comentário em “Satanás nunca foi Lúcifer: a verdade sobre a origem do mal”

  1. EdyBrilhador

    Bom artigo, o autor caminha pelos mesmos passos de outros pesquisadores que já investigaram o assunto. Combate a estória de que satanás foi um anjo perfeito, que caiu do céu, pelo simples relato bíblico que não deixa dúvida sobre o objetivo dos textos de Isaías e Ezequiel que é relatar a queda dos reinos da Babilônia e Tiro.

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