O mistério do Evangelho de João revelado

Esta é uma análise hermenêutica de direções horizontal e vertical que busca encontrar o tema central do evangelho joanino de forma lógica, diminuindo, na medida do possível as brechas da interpretação pessoal ou apenas filosófica, que, na verdade, fechou o entendimento geral do Evangelho aos mais leigos. Este Evangelho foi interpretado ao longo da história do Cristianismo sob a égide do pensamento grego sobre o Logos, que ajudou a definir no Concílio de Nicéia, 325 a.D, a ideia de que Jesus era Deus, assim como o Pai. A partir de então, toda cristologia se assentou nesta base, fechando paulatinamente as portas para a compreensão desta maravilhosa narrativa sobre quem é Jesus.

Sobre a hermenêutica de direções horizontal e vertical é apenas uma forma, uma ferramenta mental, bem representada por linhas e colunas que criam uma estrutura lógica de relações entre os aspectos principais das narrativas joaninas. A inspiração para construção dessa ferramenta foi o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss. Principalmente, sua ideia de mitemas [1], quando ele analisa as narrativas míticas. O que foi feito nesta análise se aproxima bastante do reducionismo científico aplicado por ele no seu estudo científico dos mitos. Assim, cada episódio narrado por João foi analisado e estruturado em partes menores e indivisíveis para se chegar ao nível mínimo de informação, com isso, alcançar o maior grau possível de precisão interpretativa sem correr o risco de submeter a interpretação ao subjetivismo.

A análise se concentra em torno de três palavras-chaves que estruturam todo o texto do evangelho: Ensino, Glorificação e Crer. Estes três termos foram, na verdade, o resultado da análise, que permitiu organizar este texto. A aplicação, porém, não foi pré-pensada como uma solução, mas uma necessidade que surgiu depois de muito vasculhar e anotar pontos importantes dentro do texto do evangelho, que me levou à suspeição da estrutura da narrativa. A aplicação do método veio para confirmar a suspeita e consolidar a pré-análise. O resultado é uma nova visão sobre o Evangelho que, certamente, desafiará a teologia vigente.

A essência do Evangelho de João é mostrar que a palavra de Deus chegou aos homens através da pregação do Messias. Compreender a temática de João poderia ser feito de forma simples ao ler o versículo: […] Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome, (João 20:31). Deste texto, deduz-se que o tema central do Evangelho de João é mostrar que Jesus é o Messias, aquele que trouxe a palavra de Deus. Contudo, a interpretação dada pelos filósofos da igreja do segundo ao quinto século trouxe uma nuvem negra de confusão sobre a linguagem usada por João. É o pensamento destes primeiros interpretes que tem predominado ao longo da história do cristianismo e tem dificultado o entendimento do livro. A aplicação do conceito grego ao texto de João 1 levou  à mudança de sentido do objetivo do escrito joanino. O conceito judaico do Logos de João capítulo 1 é o de uma ordem, comando criador, emitida pela “boca de Deus” para a criação de todas as coisas. Já, o conceito grego é o de um agente, um ser entre Deus e a matéria. Para os gregos este agente era o responsável pela criação de todas as coisas e pela relação entre a entidade divina e o Universo. No conceito judaico, Deus falava e as coisas eram criadas. No conceito grego, Deus não criava diretamente, mas dava a ordem a um agente (segundo Deus) para criar. Nada mais errado do que transportar a ideia grega de que o Logos é um deus-agente para a Bíblia. Isto causou uma enorme mudança de sentido em João 1:1 e nos demais textos do Evangelho de João. Com a introdução dessa filosofia grega, resultando na interpretação de que o Logos (Verbo, ou Palavra) é o Deus-Filho, ou Jesus, aqueles que leem João presos a esta ideia terão muitas dificuldades para compreender e muitos textos perderão o verdadeiro sentido, tais como: João 6:62: onde primeiro estava?; João 8:38 – vi junto de meu Pai; João 17:5 – junto de ti mesmo; João 13:3 – havia saído de Deus; João 16:8 – Saí do Pai, e vim ao mundo; João 17:8 – que saí de ti; João 7:33 – aquele que me enviou; João 17:21 – para que o mundo creia que tu me enviaste; João 5:36 – que o Pai me enviou; João 3:13 – senão o que desceu do céu; João 6:33 – aquele que desce do céu.

Antes de continuar, é preciso ter em mente a diferença conceitual e substancial entre Deus, Jesus e o Messias. Deus é o arquiteto, o Messias é o projeto divino idealizado por Deus, Jesus o engenheiro executor que desempenhou sua função cumprindo a missão designada pelo Pai. Disso, podemos intuir que há uma separação conceitual e substancial entre Jesus e os termos Messias, Filho de Deus, Filho do Homem. Estes três últimos foram títulos usados para designar o papel desempenhado por Jesus de forma mais específica dentro de seu ministério. Jesus foi o nome do homem que desempenhou este papel.

Assim, dos zero aos trinta ele foi conhecido entre o povo como o Jesus, o filho de José. A partir de seu batismo e tendo vencido as tentações de Satanás, foi aprovado por Deus como seu Filho. E, assim, em seu ministério, parte passou a reconhecê-lo como o Messias, o Filho de Deus, e até como o Rei de Israel. Depois de sua ressureição e vida de santidade, tendo vencido não apenas satanás, mas também a morte, foi declarado Filho de Deus.

Diferenciar Jesus de Deus e Jesus de sua função de Messias é fundamental para nosso estudo. Com isso, vamos entender que Jesus foi o Filho de Deus, gerado no ventre de Maria, e só a partir de seu ventre, até que em sua vida adulta foi aprovado e enviado por Deus para cumprir sua missão debaixo da autoridade de Messias. Esta missão era a de evangelizar o mundo, trazer a boa nova do Reino de Deus. O eixo central dessa missão era fazer com que os homens conhecessem a Deus e reconhecessem sua palavra. Jesus não era a palavra, ou Logos, como muitos pensam, era quem ensinava a palavra, o Mestre divinamente inspirado, a luz do mundo. O Verbo nunca foi Jesus, como os Pais da Igreja defeniram.

A hermenêutica estrutural/vertical e horizontal de João

Através desta análise hermenêutica-estrutural [2] se perceberá que o Evangelho de João não tem como meta conceituar Jesus como Deus-Filho preexistente com Deus-Pai. Esta análise vai mostrar que Jesus não é a Palavra (ou o Verbo). Ele era um homem que precisou aprender de Deus. Também que messias é a função, o papel desempenhado por Ele. Ser reconhecido como messias foi a Sua glorificação.

Os intérpretes ao longo da história perderam o tema de João de vista e se concentraram apenas na falsa ideia de que a palavra de Deus era o próprio Messias. Nada mais errado. Nesta parte, será realizada uma análise estruturada do Evangelho de João para recuperar seu verdadeiro sentido. Esta análise hermenêutica se apoia numa estrutura de direções vertical e horizontal do texto joanino. A estrutura de direção horizontal será percebida a partir de três palavras-chaves, propriamente três verbos: ensinar, glorificar e crer. Através destas palavras é possível traçar uma equivalência lógica de sentido entre as histórias narradas por João.

Todas as histórias do Evangelho de João são marcadas por três conceitos básicos: (1) a fonte da palavra, Deus; (2) quem transmitiu a palavra de Deus, Jesus; (3) os que creram na palavra de Deus, os discípulos. Este evangelho foi narrado em torno destes três conceitos para mostrar que a palavra de Deus (1) desceu do céu, (2) foi pregada com autoridade por Jesus e (3) crida pelos homens.

Tabela da ideia exposta acima.

VERBOAÇÃOEXEMPLO 1EXEMPLO 2
EnsinarComo meu Pai me ensinouMestre vindo de DeusO Messias ensinará
GlorificarO Filhos será levantadoSubiu ao céuSoubesse quem é
CrerMuitros creramNicodemosSamaritanos

Visualizando a hermenêutica na direção horizontal

Esta hermenêutica de direção horizontal será aplicada sobre todas as narrativas de João, tendo como tinta a colorir três níveis de observação estas três as palavras-chaves: ensino, glorificação e crença.

Exemplificando melhor. Os linguistas sabem que o tema de um texto é definido por seu vocabulário. Assim as palavras maçã, laranja e uva formam um vocabulário do tema frutas. Já florestas, montanhas e rios sobre o tema natureza. Ensino, glorificação e crença são palavras-chaves do tema do Evangelho de João. São palavras que agrupam em torno de si as demais palavras, frases e orações, nas sua imensa maioria em linguagem figurada com intuito de mostrar a ideia central do Evangelho.

Por exemplo, a frase figurada de João 8:12 “eu sou a luz do mundo” é uma figura de linguagem para eu sou o professor e mestre, ou eu sou o Messias. Ainda, a frase do verso 6:32 “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” é uma figura para a palavra de Deus, o mesmo Verbo de Deus em João capítulo 1. Desta forma, a palavar de Deus não é um pão literalmente, assim como Jesus não é uma luz que clareia ambientes físicos. Disso podemos concluir que a frase dita por Jesus em João 6:35 “Eu sou o pão da vida…” não o transforma na palavra de Deus, porque a palavra “pão” foi como uma metáfora para a palavra de Deus, que desceu do céu, e, aproveitando-se disso Jesus da mesma metáfora para alertar os judeus onde estava o “pão” que dá vida, isto é, nEle. Apreendemos, então, que a palavra de Deus desceu do céu até Jesus. Ele era o depositário dessa palavra, ou, metaforicamente, o pão da vida, ou, como também aparece na mesma frase, “água da vida”.

As três as palavras-chaves ensino, glorificação e crença são os centros de convergência das demais palavras que circulam em torno destas três ideias principais e que já haviam sido apresentadas no prólogo de João. A Palavra (Verbo/pão) que “no princípio” estava com Deus (João 1:1), sai dEle, desce ao mundo (João 1:11), primeiro parcialmente em Moisés e plenamente em Jesus (João 1:17), sempre em direção dos homens, parte dos quais creem, se tornando filhos de Deus, e a outra parte recusa, se tornando filhos do diabo, como bem expressou Jesus aos judeus (João 8:44).

Com isso em mente, podemos traçar três faixas horizontais perpassando por todas as histórias do Evangelho de João, tendo: na faixa superior, a fonte da Palavra, Deus; na faixa do meio, o ensino da palavra, por Jesus; e na faixa inferior, a crença na palavra, os homens, assim como mostrado na tabela acima.

Visualizando a hermenêutica na direção vertical

O Evangelho de João, diferente dos demais, apresenta também uma estrutura de direção vertical marcada pela relação Deus/Jesus/discípulos. Assim como aplicaremos uma visualização horizontal sobre as histórias narradas por João, saltando de uma para outra, também aplicaremos uma visualização vertical, que permanece dentro da mesma narrativa, mas desce ou sobe em relação aos agentes da história: Deus, Jesus e os homens.

Esta relação vertical liga os três níveis, acima mencionados, representados pelos verbos: ensinar, glorificar e crer. Esta estrutura vertical das narrativas é apresentada numa relação de dois movimentos entre os três níveis. No primeiro movimento a Palavra de Deus, sai dEle e chega até Jesus. No segundo movimento, a Palavra de Deus, sai de Jesus e chega ao coração dos homens. Nesses movimentos algo sempre está no alto e desce para baixo, que é a Palavra de Deus.

No primeiro movimento, João mostra categoricamente uma relação entre um Ser que está no Alto (Deus) e outro que está embaixo (Jesus). Esta relação é caracterizada entre um que ensina e outro que aprende. Um que envia, outro que é enviado. Um que está no Céu, outro que está na Terra. O Pai, fonte instrutora, no alto, nos céus, é quem ensina o Filho, o aluno, embaixo, na terra. Esta característica vertical da relação entre Deus e seu Filho é notável em textos figurativos, tais como: João 3:13: …ninguém subiu, senão o que desceu do céu; João 6:62: onde primeiro estava; João 6:33: aquele que desce do céu; João 6:62: vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava; João 6:50: Este é o pão que desce do céu. Estes textos não estão dizendo que Jesus, o homem, desceu ou subiu ao céu. Simplesmente falam de uma relação de ensino/aprendizado. Quando Jesus aprendeu de Deus, Ele se tornou o Messias, isto é “subiu ao céu” (aqui é uma figura de linguagem para dizer que foi exaltado como Messias). Isto aconteceu porque Deus ensinou e Jesus internalizou todo o entendimento da Sua palavra, da Sua vontade e das Suas leis. Assim, o que desce do céu é a palavra, o ensino, a doutrina, o plano, a ideia, o conceito, a promessa de Deus sobre o Messias concretizada em Jesus. Messias é aquele, ou aquilo, que reúne tudo de Deus em si, Filho de Deus/Filho do Homem. O plano abstrato de Deus de Messias ou, simplesmente, o Messias, foi enviado do céu, mas a pessoa física de Jesus nunca esteve no céu. Deus transferiu dos céus Sua palavra a Jesus aqui na terra e Ele a recebeu porque procurou saber tudo de Seu Pai.

Nesta relação vertical de ensino/aprendizado, Jesus foi elevado em conhecimento. Por exemplo, no encontro com Nicodemos, ao dizer de forma figurada, como mencionado no parágrafo anterior, “ninguém subiu ao céu, senão o que de lá desceu”, (João 3:13), Ele está afirmando que foi o único a aprender toda a doutrina de Deus. Nicodemos se tornou (isto é, “subiu”) como mestre do conhecimento humano, mas Jesus se tornou mestre do conhecimento celestial. Jesus foi elevado acima de todo conhecimento humano.

A direção vertical se encontra também no processo de exaltação de Jesus como messias. Assim como um aluno universitário é confirmado que subiu seu nível de conhecimento quando participa da solenidade de Colação de Grau, Jesus precisava ser autenticado como o Messias. Para isso, um processo de glorificação foi realizado por Deus. Esse processo é confirmado por testemunhos especificamente selecionados pelo apóstolo João. João teve o cuidado de escolher e mencionar que cada história glorifica, exalta e eleva Jesus como Messias. As frequentes expressões glorificação, exaltação e elevação denotam que Jesus saiu de uma posição inferior e subiu, isto é, se tornou uma autoridade do Pai. Jesus foi glorificado por Deus e também glorificou a Deus. Deus testificou de Jesus como sendo seu Filho e Jesus testificou de Deus como sendo seu Pai. O testemunho de dois homens é verdadeiro. João constantemente evidencia estas provas da autoridade de Jesus.

Ainda, outro aspecto pode ser apresentado para confirmação da autoridade:  o emprego da palavra “nome” para referir Jesus. A expressão “nome” no aramaico quer dizer na pessoa e denota autoridade dela. João explica que muitos creram no Seu nome, isto é, na pessoa de Jesus, na autoridade de suas palavras. João também diz que Ele veio em nome do Pai e o espírito santo foi enviado em Seu nome. Jesus era uma autoridade elevada por Deus. Esta elevação de Jesus, o homem, como o Messias, filho de Deus, é mais uma colaboração para a estrutura vertical da narrativa joanina.

O segundo movimento da Palavra de Deus nesta relação vertical acontece entre Jesus e os homens. Jesus está no “alto” – não está dizendo nos céus, mas no nível mais alto do conhecimento como Messias, o Mestre – que ensina o povo que está “embaixo” nos seus pecados, João 8:23. Ou alto no nível de Deus em santidade, sem pecado, enquanto o povo está no nível baixo, do mundo, no caso, se comportam como pessoas naturais, sem Deus, vivem em seus pecados.

Assim como Jesus “subiu ao céu” metaforicamente aprendeu de Deus, alguns homens tabmém subiram para junto de Jesus. Caso muito claro é o de Zaqueu, que sendo um homem de baixa etatura, ao ouvir e aceitar verdadeiramente a palava de Deus se arrependeu imediatamente quatro vezes mais do que qualquer outro ouvinte no meio da multidão, porque entendeu a palavra de Deus vindo do alto, olhou para cima e não para os lados. Não foi o caso de Nicodemos, que mesmo sendo mestre em Israel, não conseguia, numa entrevista exclusiva com Jesus, sozinho, no silêncio da noite, compreender as coisas celestiais, do alto, que era a palavra de Deus que descia do céu. Nicodemos olhava muito mais para sua escola teológica que era materialista, terrena. E, tempos depois, na morte de Jesus, ele exitava entre os seus pares.

Esse padrão se repete em todas as narrativas joaninas, mostrando esse movimento da Palavra de Deus entre os níveis que cada ator estava posicionado.

Como visto, João apresenta seus relatos estruturados verticalmente em três partes, ou ideias relacionadas entre si: ensino, glorificação e crença. O ensino, a primeira, a parte superior, tem como fonte o Pai e Jesus como canal. A glorificação, a parte segunda e intermediária, tem Deus e Jesus como agentes. Deus glorifica o Filho e o Filho ao Pai. E a terceira, a base, a crença, tem o povo e os discípulos crendo ou não crendo na palavra. Então, tem-se na direção vertical Deus que ensinou Jesus que ensinou os homens. Deus é a fonte (=Pai), Jesus é o canal, os discípulos o destino da palavra de Deus.

A partir dessa visualizaçaõ vertical, a análise horizontal é caracterizada pela deslocação linear por todas as histórias de João desta estrutura ensino/glorificação/crença. Na direção horizontal este sistema de sentido vertical Pai/Filho/mundo, ou povo, em alguns momentos, discípulos, se repete em cada história.

Esta estrutura já é percebida na introdução, capítulo 1:1-18:

ENSINO: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus (PAI) […] Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens (MUNDO). E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. […] Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. (1:1-5, 9).

Aqui a primeira parte da estrutura ENSINAR/GLORIFICAR/CRER, caracterizada pelo verbo ensinar. Iluminar é ensinar. A palavra de Deus foi ensinada, mas os homens não a compreenderam e não foram iluminados. Como visto na seção anterior, aqui não se trata da pessoa de Jesus, apenas da palavra de Deus. É na palavra de Deus que estão as instruções para todo o homem que nasce neste mundo. Quem entende estas instruções, adquire a vida para sempre. É verdade que esta palavra foi repassada por Jesus, as palavras, porém, não eram dEle, nem Ele, eram de Deus para o mundo, tendo Jesus como intermediário. Lembrem de Hebreus 1:3, que diz que Deus “falou antigamente pelos profetas”, mas agora fala pelo Filho. Os profetas, como Moisés, trouxeram uma palavra incompleta, eles não detiveram todo o conhecimento de Deus como obteve Jesus. Jesus anunciou a palavra de Deus de forma plena. Por isso, o mesmo texto de Hebreus diz que Ele sustenta todas as coisas pela “palavra do seu poder.”

GLORIFICAÇÃO: Estava no mundo (PALAVRA/VERBO), e o mundo foi feito por ele, […] (1:10). […] vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. […] O que vem após mim (PALAVRA/VERBO) é antes de mim (MUNDO/POVO), porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. (1:14-16)

Aqui a segunda parte da estrutura ENSINAR/GLORIFICAR/CRER, caracterizada pelo verbo glorificar. A palavra de Deus é glorificada pelo fato de que foi ela quem criou o próprio mundo. Ela é cheia de glória, assim como um filho único é importante para seu pai. Neste caso, a palavra de Deus, que estava chegando ao mundo, é mais importante do que João e seus ensinos. A palavra de Deus é exaltada, é glorificada. Não se trata de Jesus, pois ele ainda não tinha começado seu trabalho e não havia sido ainda glorificado, conforme João 7:39.

CRENÇA: […] e o mundo (POVO/DISCÍPULOS) não o conheceu. (1:10). Veio para o que era seu (POVO DO MUNDO), e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam (POVO/DISCÍPULOS), deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (DO ALTO), (1:11-13).

Aqui a terceira parte da estrutura ENSINAR/GLORIFICAR/CRER, caracterizada pelo verbo crer. O mundo não conheceu a palavra de Deus que foi ensinada aos homens, por isso nem todos creram. Mas, os que creram se tornaram filhos de Deus, nascidos dEle.

O prólogo do Evangelho mostra esta estrutura vertical ENSINO/GLORIFICAÇÃO/CRENÇA. A fonte de ensino da gloriosa palavra de Deus é o próprio Deus. A palavra de Deus veio do alto e foi ensinada aos homens, em baixo, no mundo, alguns creram e outros não. A palavra de Deus não entrou diretamente no coração dos homens, ela veio plenamente a Jesus, o intermediário, que “subiu”, isto é, buscou conhecer as coisas do Pai, e depois foi por Ele anunciada aos homens, completando seu movimento de ser tornar a Palavra de Deus “carne”, isto é, compreensível para os homens. Em suma, Deus, a fonte (do ensino), tinha uma mensagem aos homens, mas de difícil compreensão imediata. Então, Deus preparou (glorificou) um intermediário, Jesus, para primeiro aprender e depois repassar numa linguagem acessível aos homens.

Nos episódios históricos do Evangelho que seguem a partir do capítulo 2 esta estrutura se faz presente. São basicamente doze boas histórias, e outras menos relevantes, ocorridas durante o período de pregação de Jesus que foram escolhidas por João para mostrar que Ele era o Messias. Também mais alguns outros episódios relativos aos últimos dias de seu ministério. Todas elas estruturadas na ideia de que Jesus ensinou, foi glorificado e crido. São elas: o testemunho de João, a escolha dos discípulos, as bodas de Caná, a purificação do templo, a instrução a Nicodemos, o novo testemunho de João Batista, a mulher samaritana, a incredulidade dos irmãos de Jesus, a mulher adúltera, a cura do cego de nascença, a incredulidade dos judeus (bom pastor) e a ressureição de Lázaro.

Porém, por questão de espaço e foco, apenas três narrativas relevantes, Nicodemos, a mulher samaritana e a mulher adúltera, serão analisadas, pois já são suficientes para o entendimento da aplicação da hermenêutica de estrutura horizontal/vertical que encontra as três principais ideias que permeiam todo o Evangelho de João. As demais serão apenas mencionadas de acordo com o modelo estrutural de análise hermenêutica aplicado neste estudo.

Antes de analisar estas três narrativas, tenhamos em mente que a intenção de João é provar que Jesus é o Messias (João 20:31). Para conseguir isso, selecionou algumas entre as várias histórias da vida de Jesus. Cada história precisava mostrar três coisas: que o ensino de Jesus vinha de Deus; que Jesus detinha todo o conhecimento do divino; que as pessoas acreditavam no que Ele dizia.

Nota: prestar atenção às palavras sublinhadas.

Instrução a Nicodemos

Frases em torno da ideia de ensino:

“Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus” (3:2), “nascer do alto”, “Se falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais”, (3:3).

Frases em torno da ideia de glorificação:

“Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; (3:13,14).

Frases em torno da ideia de crença:

“Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, (3:15,16).

Como sustentado, os três aspectos estruturais da teologia de João, são: ensino, glorificação e crença. Na história de Nicodemos, todos se fazem presentes. João mostra que Jesus é glorificado e aprovado por Deus como mestre em Israel. Que Jesus ensina a doutrina de Deus de forma que os homens possam entender e crer. O ensino de Jesus não pertencia às escolas humanas, como a de Nicodemos. A escola, a fonte, o lugar de onde vinham os ensinos de Jesus era o alto, o divino. Ninguém no mundo havia alcançado grau tão elevado de conhecimento sobre Deus, somente aquele homem que havia sido planejado pelo próprio Deus no céu. Apenas o projeto, o plano sobre o Filho do Homem foi elaborado no céu, mas sua realização se deu aqui na terra. Por isso, Ele disse que “ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu”. O que desceu foi o conceito de Filho do Homem, (veio de entre as nuvens do céu, Daniel 7:13) não a pessoa Jesus. A pessoa Jesus precisava ser e foi levantada como Filho do Homem, isto é “subir”. A serpente levantada no deserto por Moisés foi a metáfora usada para exemplificar a elevação do conhecimento de Jesus sobre as coisas celestiais. João termina a narrativa sobre Nicodemos, talvez com o texto bíblico mais conhecido dos homens, “Deus amou…”, mostrando que era necessário crer em Jesus.

Assim, ensino, glorificação e crença são as partes estruturais da narrativa do encontro noturno com Nicodemos. Neste episódio, assim como no capítulo 1, João quer mostrar que a palavra divina desceu dos altos céus aos homens através dos ensinos de Jesus. Não há nada na expressão “ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu” que pode ser usada como prova de que a pessoa Jesus estava no céu, junto de Deus, desde a criação. Esta é apenas uma expressão que denota o elevado grau de conhecimento de Jesus frente ao conhecimento de Nicodemos. Faz parte do estilo vertical da narrativa de João. Ele fez isso em seu evangelho para poder explicar o quão elevado e sublime era o ensino de Jesus. Jesus “subiu ao céu”, no sentido espiritual, porque Ele era o Filho do Homem que “desceu do céu”, também no sentido espiritual. Por espiritual, entenda-se algo que seja apenas fruto da mente de Deus e da mente dos homens.

A mulher samaritana

Frases em torno da ideia de ensino:

“Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos ensinará tudo”, (4:25).

Frases em torno da ideia de glorificação:

“Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz”, (4:10).

Frases em torno da ideia de crença:

“E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele”, (4:39); “E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo”, (4:42).

Não é diferente, o estilo vertical da narrativa joanina se faz presente de acordo com a estrutura ensino/glorificação/crença. Na história anterior, Nicodemos era mestre em Israel, a samaritana, ao contrário, era uma pobre mulher que não podia sequer conversar com um judeu (“por ver Jesus conversando com uma mulher”, João 4:27 — os judeus não se comunicavam com samaritanos, João 4:9).

Aqui, não é um mestre como Nicodemos, mas alguém diferente em vários sentidos. Primeiro, por ser mulher, depois por ser samaritana e conseguinte por não estar bem informada sobre a teologia dos judeus. Ainda, era uma frenética pecadora que havia passado por cinco casamentos e estava irregular no sexto. De acordo com o estilo vertical da escrita joanina a mulher samaritana estava na parte mais baixa. Com certeza, ela precisava muito aprender do Mestre. Jesus não perdeu a oportunidade e usou de todos os artifícios espirituais para ensinar a palavra de Deus. O elevado ensino de Jesus alcançou a pobre e humilde samaritana que creu, juntamente com muitos outros samaritanos.

De acordo com a estrutura da análise, João retratou nesta narrativa a ideia de ENSINO com a declaração da mulher: “…quando ele vier, nos ensinará tudo”; a ideia da GLORIFICAÇÃO com as expressões: “Senhor, vejo que és um profeta”, (João 4:19); “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz”, (João 4:10); a ideia da CRENÇA com a frase: “E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele”, (4:39).

Todas estas expressões elevam o conceito de Jesus de um simples homem que passava por terras samaritanas — os judeus, normalmente não faziam isso —, para o conceito de Filho do Homem, o Messias. E a parte da CRENÇA no fato de que muitos samaritanos, depois de ouvirem a mulher, ouviram a Jesus e creram nEle. Na história da mulher samaritana, o ensino do mais alto céu veio ao mais baixo dos homens, no caso, as mulheres e samaritanos desprezados e estes creram. Assim, como na história de Nicodemos, esta história revela o estilo vertical do Evangelho de João. Aos poucos, se percebe que certas expressões de João foram empregadas para valorizar Jesus como Messias, não para descrevê-lo como Deus, ou como palavra, preexistente no céu.

A mulher adúltera

Frases em torno da ideia de ensino:

“E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava”, (8:2). “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”, (8:12). Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, ensinando no templo”, (8:20).

Frases em torno da ideia de glorificação:

“Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou”, (8:18). “Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”, (8:23). “Disseram-lhe, pois: Quem és tu? Jesus lhes disse: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse”, (8:25). “Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou”, (8:28). “Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue”, (8:50). “És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser? Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso Deus”, (8:53,54). “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou“, (8:58).

Frases em torno da ideia de crença:

“Dizendo ele estas coisas, muitos creram nele,  (8:30). “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele”, (8:31). Talvez, o caso da mulher adúltera seja o mais importante em todo o evangelho, cuja estrutura vertical ensino/glorificação/crença se destaca pela grande ênfase na glorificação de Jesus.

Relembrando que o objetivo do apóstolo João é provar que Jesus era o Messias, por isso, procurou mostrar o quão grande Ele era. Como visto, mais uma vez Jesus aparece cumprindo sua missão de ensinar. Estava no templo logo pela manhã. No caso da mulher samaritana, Jesus disse diretamente que Ele era o Messias (aquele que devia ensinar, João 4:25), mas ao povo e aos doutores da lei Ele se apresenta como a “luz do mundo”. Esta é uma maneira figurada de dizer que era o Mestre, o Rabi. Quem tem ou quem é a “luz” é alguém com conhecimento e entendimento mais elevado para ensinar os outros, no caso, Jesus estava ali para ensinar o mundo, até mesmo os doutores da lei. Isto mostra o quão importante e exaltado era seu ensino. Ao contrário, quem não tem a “luz” é aluno (o “a” é negação da luz, “luno”, assim como o “a” de átomo, é a negação de sua divisão), que como discípulo aprende do mestre. De acordo com as profecias, o Messias seria um profeta com autoridade para ensinar. Moisés, disse que o Senhor levantaria um profeta semelhante a ele, a quem os judeus deveriam ouvir, ou seja, aprender. Jesus era este profeta e estava ali para trazer o correto ensino sobre a lei.

Aproveitando o caso da mulher adúltera, ensinou sobre a verdadeira justiça da lei. A nova luz sobre a lei e o posicionamento de Jesus como “a luz do mundo” (o novo mestre) causaram certa indignação aos fariseus que passaram a questionar a autoridade de Jesus. Então, sucede um longo e acalorado debate, cujas palavras e expressões utilizadas por João nesta narração demonstram seu esforço redacional para manter Jesus glorificado nas alturas. Os fariseus disseram que os testemunhos de Jesus de nada valiam porque falava de si mesmo e questionavam “quem és tu?”. Mas Jesus se defende dizendo que sabia de onde veio e para onde ía. Defende a fonte e a qualidade de seu ensino. Fala que Ele era do alto e os fariseus de baixo. Que seria levantado como Filho do Homem. Que não buscava sua glória, pois alguém buscava por Ele. Todas estas expressões colocavam Jesus numa posição cada vez mais elevada e irritavam ainda mais os fariseus. Eles insistentemente o desonravam e queriam rebaixá-lo a um samaritano com demônio e questionavam: “És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?”, ( João 8:53), ou seja, porque de fazes tão importante. Jesus explica que não está glorificando a si mesmo, pois de nada valeria esta exaltação, mas o Pai o glorificava. Devido à glória dada pelo Pai, Jesus se apresenta aos fariseus como Filho do Homem, alguém tão importante que até mesmo Abraão queria ver seu dia. A expressão “antes de Abraão”, neste contexto, mostra que o Messias era maior que Abraão, conhecido, elevado, glorificado e aclamado em tempos anteriores ao Pai da Fé. Trata de superioridade em contraposição a inferioridade que os fariseus queriam classificá-lo e nada quer dizer sobre idade e existência natural de Jesus. Erram aqueles que, fora de contexto, aplicam esta expressão no sentido de antiguidade. Por fim, lembrar que esta intensa discussão e acusação contra Jesus se deu com aqueles que creram nEle. “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele”, (João 8:31). Imagine se fosse com aqueles que não criam?

Esta análise hermenêutica estrutural tem o poder de clarear o sentido geral do Evangelho de João. A narrativa de João obedece a estrutura ensino/glorificação/crença. É apenas um estilo, um jeito, o modo de escrever de João que procurou glorificar Jesus como Messias. Para cumprir tal objetivo, João fez uso de uma linguagem que, se lida de forma independente e não estruturada, pode desviar o sentido do texto para a concepção do leitor, aquela grega de que o Logos é a palavra.

Segue uma relação com as outras histórias do evangelho. O leitor poderá, posteriormente, estudá-la mais detalhadamente. O raciocínio acima se aplica nestes textos. Testemunho de João: Ensino: “Batizará com Espírito Santo”, (1:33).  Glorificação: “um homem que tem a primazia”, (1:30); “Eu vi e testifico que este é o Filho de Deus”, (1:34). Crença: [não presente no texto] Discípulos: Ensino: “Rabi (que quer dizer Mestre)”, (1:38). Glorificação: “Rabi, tu és o Filho de Deus”, (1:49). Crença: “Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês?”, (1:50). Bodas de Caná: Crença: [não presente]. Glorificação: “Ainda não é chegada a minha hora”, (2:4); “manifestou sua glória”, (2:11). Crença: “e seus discípulos creram nele”, (2:11). Purificação do templo: Crença: [não presente]. Glorificação: [não presente]. Crença: “e seus discípulos creram nele”, (2:22); “muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome”, (2:23). Novo testemunho de João Batista:  Ensino:isso testifica”, (3:32); “fala as palavras de Deus”, (3:34). Glorificação: “foi dado do céu”, (3:27); “ele cresça e eu diminua”, (3:30); “vem de cima é sobre todos […] vem do céu é sobre todos”, (3:31). Crença: “[…] mas ninguém aceita […] Aquele que aceitou”, (3:32,33); “Aquele que crê […] que não crê no Filho”, (3:36). A incredulidade dos irmãos de Jesus e a pregação na festa: Ensino: “os teus discípulos”, (7:3); “e ensinava”, (7:14); “sabe este letras, não as tendo aprendido?”, (7:15); “minha doutrina não é minha”, (7:16). Glorificação:procure ser conhecido”, (7:4); “por ainda Jesus não ter sido glorificado”, (7:39); “sua própria glória; mas o que busca a glória”, (7:18). Crença: “nem […] criam nele”, (7:5); multidão creram nele”, (7:31); “creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus?”, (7:48). A cura do cego de nascença: Ensino: “sou a luz do mundo”, (9:5); “fazer-vos também seus discípulos?”, (9:27,28). Glorificação: “Que é profeta”, (9:17). Crença:Crês tu no Filho de Deus? […] para que nele creia? […] Ele disse: Creio”, (9:35-38). Bom pastor e a incredulidade dos judeus: Ensino: “não entenderam o que era que lhes dizia”, (10:6). Glorificação: “As obras […] essas testificam de mim”, (10:25). Crença: “não o credes”, (10:25); “vós não credes”, (10:26); “muitos ali creram nele”, (10:42). Ressureição de Lázaro: Ensino: [Não presente]. Glorificação: “mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”, (11:4). Crença: “para que acrediteis”, (11:5); “quem crê em mim, […] e crê em mim […]; crês tu isto? Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio”, (11:25-27); “se creres, verás”, (11:40); “para que creiam que tu me enviaste”, (11:42); “muitos, pois, dentre os judeus […] creram nele”, (11:45); “todos crerão nele”, (11:48). Capítulo 12: Ensino: “Enquanto tendes luz…”, (João 12:36); “E se alguém ouvir as minhas palavras,” (12:47); “não tenho falado de mim mesmo; […] mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar”, (12:49). Glorificação: “quando Jesus foi glorificado”, (12:16); “hora em que o Filho do homem há de ser glorificado”, (12:23); “Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei”, (12:28); “quando for levantado da terra”, (12:32); “convém que o Filho do homem seja levantado?”, (12:34); “viu a sua glória”, (12:41); “mais a glória dos homens do que a glória de Deus”, (12:43). Crença: “iam e criam em Jesus”, (João 12:11); “crede na luz […] não criam nele; […] quem creu na nossa pregação? […] não podiam crer”, (12:36-39); “muitos dos principais creram nele”, (12:42); “Quem crê em mim, crê, não em mim”, (12:44); “aquele que crê em mim” , (12:44); “e não crer”, (12:47). Capítulo 13:  Ensino: [não presente]. Glorificação: “de passar deste mundo para o Pai”, (13:1); “Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar”, (13:31,32). Crença: [não presente]. Capítulo 14: Ensino:palavras que eu vos digo”, (14:10); “esse vos ensinará todas as coisas”, (14:26). Glorificação: “o Pai seja glorificado no Filho,” (14:13). Crença:credes em Deus, crede também em mim”, (14:1); “Não crês tu que eu estou no Pai, […] Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras […] aquele que crê em mim”, (14:10-12); “quando acontecer, vós acrediteis”, (14:10-12). Capítulo 15: Ensino: “pela palavra que vos tenho falado”, (15:3); “as minhas palavras”, (15:7); “…porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”, (15:15);  “nem lhes houvera falado”, (15:22). Glorificação: “Nisto é glorificado meu Pai”, (15:8). Crença: [não presente]. Capítulo 16: Ensino:muito que vos dizer {ensinar}”, (16:12). Glorificação: “me glorificará”, (16:14); “porquanto vou para o Pai {ir para o Pai é ser levantado da terra, isto é, glorificado}”, (16:16); “e vou para o Pai”, (16:28). Crença: “porque não crêem em mim”, (16:9); ”e crestes que saí de Deus”, (16:27); “cremos que saíste de Deus […] Credes agora?”, (16:30,31). Capítulo 17: Ensino: “Agora já têm conhecido {entendido} […] lhes dei as palavras que tu me deste {ensinou}”, (17:6-8). Glorificação: “glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti”, (17:1); “glorifiquei-te na terra, […] agora glorifica-me tu, […] com aquela glória”, (17:4,5); “e neles sou glorificado”, (17:10); “dei-lhes a glória”, (17:22); “vejam a minha glória”, (17:24). Crença: “e creram que me enviaste”, (17:8) “hão de crer em mim […] para que o mundo creia”, (17:20,21). Capítulo 18: Ensino: “eu sempre ensinei […] é que lhes ensinei”, (18:20,21). Glorificação: [não presente]. Crença: [não presente] Capítulo 18: Ensino: [não presente]. Glorificação: [não presente]. Crença: “para que também vós o creiais”, (19:35). Capítulo 20: Ensino: [não presente]. Glorificação: “não subi para meu Pai, […] que eu subo para meu Pai”, (20:17). Crença: “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo”, (20:31). Capítulo 21: Ensino: [não presente]. Glorificação: “que morte havia ele de glorificar a Deus”, (21:19). Crença: [não presente]

Este esforço analítico tem como objetivo reforçar o tema central do Evangelho de João. Sabem os hermenêuticos que um assunto é definido por seu vocabulário. Por exemplo, se o assunto é a saúde, as palavras-chaves são remédios, médicos, hospitais, farmácias, vacinas etc. Se o assunto é a natureza, o vocabulário converge para rios, lagos, árvores, montanhas, florestas etc. No caso do Evangelho de João, o vocabulário é composto por algumas palavras-chaves, cujas principais são: ensino, discípulos, aprender, doutrina, mestre, glorificação, elevação, exaltação e crença. Essas palavras-chaves são a pista para definir com mais assertividade o tema central. Esta análise hermenêutica encontrou uma estrutura nas histórias de João composta de três partes categorizadas como: ensino, glorificação e crença. Há um conjunto de palavras em torno do verbo ENSINAR compondo a primeira parte, palavras como: falou, disse, discípulos, aprender, doutrina, mestre, ensino. Em torno do verbo GLORIFICAR, compondo a segunda parte: exaltado, levantado, elevado, subir, glória, glorificar, glorificado, poder, autoridade, maior. Em torno do verbo ACREDITAR, compondo a terceira parte: crença, acreditar, crerdes, ouvirdes etc. É contundente o fato de que o livro de João trata de um tema bem específico que pode ser assim definido: A palavra de Deus desceu do céu quando Jesus ensinou os homens.

O que nos resulta disso? Que todas as expressões como “subiu ao céu”, “desceu do céu”, “esta junto de Deus”, “antes onde primeiro estava”, “antes de Abraão”, entre outras, devem ser entendidas apenas sob a égide dessa afirmativa que compõe o contexto global do livro.

[1] Mitema: um mitema é a partícula essencial de um mito, um elemento irredutível e imutável similar a um meme cultural, algo que sempre se encontra dividido com outros, mitemas relacionados e reunidos em variações “empacotadas” na metáfora de Claude Lévi-Strauss – ou vinculados em relações extremamente complexas, como uma molécula em um composto. Por exemplo, os mitos de Adônis e Osíris compartilham vários elementos, levando alguns estudiosos a conclusão de que partilham uma mesma origem[1]. Fonte: Wikipedia

[2] Por análise Hemenêutica-Estrutural é utilizado o conceito de uma relação lógica entre os fatos, mais ou menos como é feito na interpretação jurídica, onde a interpretação gramatical, interpretação teleológica, interpretação histórica e interpretação logica sistemática vão contribuir para o entendimento do ordenamento jurídico. No caso aqui em pauta, consiste apenas em extrair das histórias selecionadas pelo apóstolo João as características lógicas que estruturam o objetivo do seu texto e compará-las coerentemente entre si possibilitando a compreensão objetiva do tema. Por parte lógica é entendido a ideia, ou ideias, principais de cada história.  

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