O livrinho doce e amargo

Uma interpretação de Apocalipse 10 que apresenta a tradução do NT como sentido da profecia...

O anjo da nuvem branca

“E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo;” (Apocalipse 10:1)

Anjo representa uma pessoa, ou grupos de pessoas, que traz uma mensagem e exerce influência espiritual e liderança sobre outras (Malaquias 3:1; Apocalipse 2:1, Daniel 8:10; Isaías 14:12-17). Forte porque é um anjo poderoso, cuja mensagem transforma o mundo (Apocalipse 5:2; 18:21). A expressão “descia do céu” significa algo que vêm da parte de Deus (Apocalipse 6:13; 8:10; 11:12,13; 13:13; 14:6,13; 18:1,4 e 21:2). “Vestido de uma nuvem” porque estava oculto aos olhos de muitas pessoas (Apocalipse 11:12; 14:14-16). “Arco celeste” representa um concerto de Deus com os homens (Gênesis 8:8-17). Estas duas afirmações “seu rosto era como o sol” e “seus pés como colunas de fogo” ligam com a pessoa de Jesus Cristo (veja Mateus 17:2; Neemias 9:12; Êxodo 13:2; Apocalipse 1:15,16) e também nos transmite a idéia de andar na luz. Deve-se entender que a profecia não está falando especificamente de Cristo, mas de um aspecto dEle, pois ela retrata algo que acontece na história. Transformando os símbolos numa linguagem literal, temos a seguinte expressão: O poderoso povo de Deus, o povo do concerto, que não era percebido pelos homens, trouxe a mensagem divina ao mundo numa época de muitas trevas espirituais.

Pelas interpretações dadas fica fácil buscar na história quem era este povo. Mas vamos desvendar mais alguns elementos simbólicos para dar maior clareza.

O livrinho aberto

“E tinha na sua mão um livrinho aberto. E pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra;” (Apocalipse 10:2)

Livrinho aberto” significa uma mensagem escrita e liberada aos homens. Antes, esta mensagem estava oculta, como podemos bem entender a partir de Daniel 12:4, 9-10. Ela dá a entender que parte da palavra de Deus estaria oculta por um determinado tempo, e quando os homens corressem de um lado para o outro e a ciência se multiplicasse, então, seria compreendida. Diz a profecia que este momento é: “para um tempo, tempos e metade de um tempo” (Daniel 12:7). Os estudiosos da profecia, segundo uma regra de interpretação, entendem que esta expressão trata de um período que vai de 538 a 1.798 d.C, pois um “tempo” seria um ano, igual a 360 dias, dois “tempos” 720 dias, e “metade de um tempo” 180 dias, perfazendo 1.260 dias simbólicos, que transformado em sentido literal seriam 1.260 anos. A profecia de Daniel ainda dá a entender que o livro seria aberto quando o poder do povo santo estive fragilizado, verso 7: “e quando tiverem acabado de espalhar o poder do povo santo, todas estas coisas serão cumpridas”. Reunindo estas informações, chegamos facilmente à conclusão de que este período se deu na passagem da Alta Idade Média para a Baixa idade Média, entre os séculos X e XIII. Esta época está bem no centro do período profético de “tempos, dois tempos e metade de um tempo”.

Alguns acontecimentos desta época caracterizam a profecia de Daniel. Dentre os acontecimentos mais relevantes, temos: ou auge do feudalismo, as cruzadas, a supremacia da Igreja Católica e o início do comércio mundial. O auge do feudalismo coincide com o auge da Idade Média, também conhecida como Idade das Trevas, uma era de pouco conhecimento dos homens. Foi neste tempo que a Igreja Católica chegou ao auge de seu poder, devido a uma sociedade inculta. Os artifícios usados pela Igreja para deter o controle sobre as pessoas foram desde não permitir a divulgação do conhecimento, como, por exemplo, a leitura e a tradução de diversos livros, principalmente da Bíblia, a ameaçá-los com as torturas das inquisições. Com uma sociedade economicamente degradada pelo longo processo do feudalismo, a população aumentando dia a dia, começou haver a falta de condições básicas para o seu sustento dos europeus. Então, foram proclamadas as cruzadas pela Igreja com o objetivo de resolver os problemas. Porém, os resultados foram inversos. Com cerca de um milhão de homens moribundos viajando para a Terra Santa, o contato com a cultura e o comércio oriental foi inevitável, com implicações para toda a Europa. Em função das cruzadas, o comércio com o Oriente aumentou e a necessidade de maior conhecimento também. Os homens precisavam saber, pelo menos, o básico da leitura e das operações matemáticas para manter o crescente sistema comercial. A profecia de Daniel, do livro fechado, começava a ser revelada. Os homens indo de um lado para o outro em suas atividades comerciais, o conhecimento se multiplicando e o poder do povo santo abatido por causa da supremacia católica. Tudo isso, bem no centro do período de “um tempo, tempos e metade de um tempo”. Com os novos avanços culturais os homens passaram a ler porções do Novo Testamento que eram traduzidas para suas línguas maternas. O “livrinho” estava aberto pelo povo de Deus.    

Como disse acima: o poderoso povo de Deus, o povo do concerto, que não era percebido pelos homens, trouxe a mensagem divina ao mundo numa época de muitas trevas espirituais. Esta mensagem só poderia ser oposta à mensagem consensual da época, da Igreja Católica, que obrigava todos a se submeterem a seu escrutínio poder. Nesta época, a mensagem verdadeira estava sufocada pelas intensas perseguições ao povo santo (Apocalipse 12:6). Mas, no “deserto”, o povo santo era alimentado por Deus e reagiu vencendo o “dragão” e a “besta” como diz Apocalipse 12:11 e 15:2. Estas informações são mais do que o suficiente para olharmos para a história entre o ano 1.000 e 1.300 d.C e identificarmos quem era este povo que se opôs ao catolicismo.         

Muitos historiadores falam de povos considerados pela Igreja Católica como heréticos. Entre estes povos temos: os Bogomilos, os Cátaros (ou Albigenses), os Valdenses e os Lolardos. Todavia, quando analisamos as crenças desses povos, percebemos que eles tinham uma fé muito mais próxima da mensagem bíblica do que da mensagem católica. O que leva a entender que, no mínimo, se eles não fossem o verdadeiro povo de Deus, eram influenciados por estes. Há de se entender, que sendo eles perseguidos, não puderam registrar sua história oficial, o que sabemos sobre eles, é contado por seus inimigos. Sendo assim, a interpretação das suas doutrinas dada pelos historiadores, principalmente católicos, não reflete plenamente a realidade. Mas, com olhar atento, podemos perceber que estes povos não eram católicos em suas crenças. Os Bogomilos eram considerados hereges porque acreditavam em dois deuses, o que, na verdade, era a crença numa força do bem, representada pelo Filho de Deus, e uma força do mal, representada por Satanás. Os Cátaros eram um seguimento europeu dos bogomilos da Bulgária. Viviam no Sul da França e norte da Espanha e Itália. Os Valdenses, que também surgiram no sul da França, tinham uma ligação com os Cátaros. Eram seguidores de Pedro Valdo. Os Lolardos eram um estágio avançado dos Valdenses. Alguns historiadores dizem que ele eram seguidores de John WyCliffe, mas tudo indica que eram seguidores de Valter Lollard, um pregador valdense da Holanda. Não é possível afirmar que eram em sua totalidade o verdadeiro povo de Deus, mas, sem sombra de dúvida, no meio destes povos estavam o verdadeiros servos de Deus com o “livrinho” do evangelho eterno nas mãos, conforme a profecia.

Esta pequena resenha serve para nos informar sobre a existência de um povo que protestou contra a Igreja Católica muito antes dos Reformadores. A origem de todos eles está centrada nos Bogomilos, que, por sua vez, são considerados um seguimento dos paulicianos. Os Bogomilos, segundo a história, surgiram a partir do avanço dos Paulicianos para o Ocidente a partir do século VII. Os bogomilos foram considerados pela Igreja como uma seita dualista datada do século X e, por isso, alvo da Santa Inquisição. Surgiu no antigo Império Búlgaro que, naquela época, estendia-se da Ucrânia ao Adriático. Posteriormente, suas idéias se espalharam pela Grécia e pelos Balcãs Ocidentais. Os bogomilos diziam ser a “verdadeira e oculta Igreja Cristã”. Segundo Yuri Stoyanov, esta heresia precipitou o surgimento do catarismo e era tradicionalmente reconhecida por eclesiásticos e inquisidores como “tradição oculta por trás do catarismo”. Partilhavam muitos princípios com os cátaros e com os paterinos. Como hereges, foram perseguidos pela Inquisição, durante o século XIII, mas resistiram até 1.463 na Bósnia.[1] Esta citação confere com a profecia que diz que o anjo estava “vestido numa nuvem”, isto é, oculto.

O catarismo (“puro”) foi uma seita cristã politeísta principal motivo pelo qual foi considerada como heresia, surgida no Languedoc e no norte da península Itálica ao final do século XI. As suas ideias constituiam-se num amálgama de conceitos cristãos, gnósticos e maniqueístas. Alguns historiadores indicam a sua formação a partir do século VII quando heréticos daquelas correntes, oriundos do Oriente Médio e do Norte da África, migraram para aquelas regiões da Europa diante da expansão muçulmana; outros, entretanto, afirmam que seriam fruto da expansão das heresias dos bogomilos (Reino dos Búlgaros) e dos paulicianos (Oriente Médio)[2]

Os Valdenses são uma denominação cristã que teve sua origem entre os seguidores de Pedro Valdo, morto em 1217. Ele era um comerciante de Lyon; criou sua religião por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou a sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres.[3]

Estes povos tinham em comum uma característica: tinham a Bíblia como única regra de fé e prática. Segundo W. Walker, os valdenses tinham o “princípio de que a Bíblia, e em especial o Novo Testamento, é a única regra de fé e vida (…) Era-lhes a Bíblia um livro de leis — de minuciosas prescrições para observância literal. Decoravam longas passagens.”[4] Já, segundo Walker, “as Escrituras eram muito usadas pelos cátaros. Eles as traduziam e diziam estarem baseados nelas seus ensinos. Havia os que rejeitavam por completo o Antigo Testamento, considerando-o obra do poder do mal. Outros aceitavam os salmos e os profetas. Todos, porém, tendo o Novo Testamento como vindo de Deus bom, o acatavam.”[5]

Vemos nestas passagens da história, que estes povos davam ênfase na leitura e aceitação do Novo Testamento. Isto é perfeito para a compreensão da profecia, que diz: “E tinha na sua mão um livrinho aberto.” A expressão no diminutivo “livrinho” mostra que havia outro livro maior do que este, ou mais completo, a Bíblia. Faz sentido porque eles aderiram basicamente ao Novo Testamento em diminuição do Antigo. Estar na mão do “anjo”, dá a entender que este detinha a posse do livrinho e agia em sua função.  A expressão “mãos” significa ação (Veja I Timóteo 2:8, Mateus 27:24). Por fim, vamos entender a expressão “e pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra;” (Apocalipse 10:2b). Colocar o “pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra” representa a universalidade da mensagem do “anjo”, ou seja, onde ele iria colocar a sua mensagem, não somente, numa “terra”, mas também no “mar”, ou seja, em todas as nações do mundo. Por ora, podemos resumir estes dois versos na seguinte afirmação: o verdadeiro povo de Deus, desconhecido do mundo, mas conhecido entre os bogomilos, cátaros, valdenses e lolardos, compreendiam a verdadeira mensagem de Deus contida no Novo Testamento.

As vozes do leão e dos sete trovões

“E clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes.” (Apocalipse 10:3)

A expressão “grande voz” aparece várias vezes no Apocalipse, sempre está simbolizando uma grande mensagem. Apocalipse 1:10 é um exemplo e significa o início da mensagem cristã. Outro exemplo, é Apocalipse 14:7, a “grande voz” deste verso representa a mensagem do evangelho eterno. O importante é fixar a idéia de “voz” como mensagem e o “grande”, a força da mensagem. A força neste caso era “como quando ruge um leão”. Mas, outras vozes ainda mais fortes surgiram como conseqüência da voz do anjo. Depois que ele bradou, os “sete trovões emitiram suas vozes”. Isto mostra que a voz do anjo abriu caminho para os sete trovões soarem suas vozes.

Quem são estes “sete trovões” na história? Se eles soaram suas vozes após a voz do anjo, e o anjo representa o povo de Deus, que esteve oculto entre os bogomilos, cátaros, valdenses e lolardos, como visto anteriormente, então, os “trovões” só podem ser os protestos liderados por diversos reformadores, que nos séculos seguintes clamaram contra a Igreja Católica. Daí podemos enumerar as sete principais correntes da Reforma, que fragmentou-se nas dezenas de milhares de segmentos religiosos em nossos dias: luteranismo, calvinismo, anglicanismo, congregacionalismo, anabatismo, metodismo e pentecostalismo.

Os historiadores entendem que houve um período pré-reforma, iniciado por Pedro Valdo. A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero. A história fecha perfeitamente com a profecia. Ela fala de duas mensagens em dois momentos diferentes, uma que soou como voz de “leão” e outra como voz de “trovão”. Esta simbologia mostra claramente a diferença entre a força da mensagem pregada pelos bogomilos, cátaros e valdenses nos séculos XI a XV e a mensagem pregada pelos reformadores nos séculos XVI em diante. Um trovão já abafaria o rugido de um leão, imagina sete. Foi isto o que aconteceu com a mensagem do evangelho eterno pregado pelo povo de Deus no início do milênio passado. Foi suprimido pela mensagem protestante.

O selamento das sete vozes

E, quando os sete trovões acabaram de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que os sete trovões emitiram, e não o escrevas. (Apocalipse 10:4)

Esta parte da profecia merece uma reflexão aprimorada. O verso dá a entender que a mensagem do “anjo” seria conhecida em toda a terra, enquanto a mensagem dos “trovões” foi selada. Por que será? Aqui é importante uma boa noção sobre o quê a Bíblia fala da igreja e da apostasia para se obter o sentido da expressão profética. Na Palavra de Deus há uma distinção bem explícita entre a igreja de Deus e a igreja fruto da apostasia. No Apocalipse, estas duas linhagens de religião estão representadas. A verdadeira igreja é uma “mulher vestida de sol” no Apocalipse 12 e a falsa uma “mulher vestida de escarlata” no Apocalipse 17. Boa parte dos intérpretes entende que a “mulher escarlata” representa a Igreja Católica com sua opulência e riqueza, principalmente durante a Idade Média. Como vimos anteriormente, a voz do leão representa a mensagem de uma denominação cristã pré-reforma e as vozes dos trovões representavam a mensagem da Reforma Protestante. Não há dúvida de que o “anjo” aqui retratado se refere ao verdadeiro povo de Deus, pois no verso 6 ele jura pelo Deus do céu e da terra. Nenhum outro teria condições de fazer tal juramento se não fosse o verdadeiro povo que estava entre os bogomilos, cátaros e valdenses (Não afirmo que todos eram o verdadeiro povo de Deus, mas que o povo de Deus, a verdadeira igreja estava entre eles. A história mostra que os valdenses, depois de intensa perseguição católica, mudaram suas doutrinas e hoje em dia são muito semelhantes ao catolicismo). É importante entender que a mensagem do anjo devia ser levada ao mundo, enquanto, a mensagem dos “trovões” devia ser ocultada, pois uma “voz do céu”, a voz de Deus, proibiu o apóstolo João de escrever. Fica claro que a mensagem dos reformadores protestantes não está coerente com a Bíblia, por isso não era para ser escrita.

O juramento do anjo

E o anjo que vi estar sobre o mar e sobre a terra levantou a sua mão ao céu, e jurou por aquele que vive para todo o sempre, o qual criou o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que não haveria mais demora; mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos. (Apocalipse 10:5-7)

Quanto quem é este “anjo” e o sobre o seu juramento, já comentei anteriormente, e argumentei que ele representa o verdadeiro povo de Deus, que pregou o evangelho na Alta Idade Média, os bogomilos, cátaros e valdenses. Este anjo só pode ser o verdadeiro povo de Deus porque não haveria outro povo que tivesse condições de jurar “por aquele que vive para todo o sempre”, que criou o céu, a terra, o mar e o que neles há.  Mas, o que quero frisar nesta passagem é o juramento e o que está contido nele. O primeiro aspecto a ser abordado é que “não haveria mais demora”. O segundo aspecto é que o fato a acontecer é a revelação do segredo de Deus.

Não haver “mais demora” demonstra que já nos dias da voz deste “anjo”, ou pouco tempo depois, este segredo de Deus seria revelado. O elemento tempo é dado nesta profecia: “nos dias da voz do sétimo anjo”. E o que diz o sétimo anjo? No capítulo 11 de Apocalipse, verso 15, está escrito: “E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.” Destas duas passagens podemos entender: primeiro, que o toque da sétima trombeta revelou o segredo de Deus “como anunciou aos profetas, seus servos”; segundo, que o segredo de Deus é a mensagem dos profetas que está nos livros de Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Zacarias e outros, eles falaram de um reino de paz e justiça a ser estabelecido na terra, (então, basta lermos os profetas para conhecermos este segredo); terceiro, fica claro que este segredo é a posse dos reinos por Deus e por seu Filho.

Então, o juramento tem haver com a pregação do evangelho do reino. A pregação realizada ainda no tempo da Alta Idade Média pelos bogomilos, cátaros e valdenses, que foram responsáveis por trazer uma mensagem ao mundo baseada no Novo Testamento. Eles traduziram o Novo Testamento para a língua vernácula de vários povos da Europa e a mensagem que estava “selada”, foi revelada. Este ato desencadeou vários processos na Europa que resultaram numa transformação radical no modo de vida, (veremos mais sobre isso adiante).

Diante do exposto, também pode ser entendido que o toque da sétima trombeta já é um processo em andamento a partir da Idade Média. Pois, se a profecia de Apocalipse 10 retrata a mensagem dada por estes povos cristãos não-conformes com a Igreja Católica no auge da Idade Média, e se o “anjo” jura por Deus que não haveria mais demora e que seria nos dias da voz do “sétimo anjo”, então o toque da sétima trombeta acontece desde aqueles séculos. A mensagem do “livrinho”, Novo Testamento, nas mãos do anjo “vestido de uma nuvem”, o povo de Deus oculto entre os bogomilos, cátaros e valdenses, desencadeou o toque da sétima trombeta. Mas, isto será melhor compreendido no estudo sobre Apocalipse 11.

Por ora, entendemos que este “anjo” é o povo Deus da Idade Média que promoveu o conhecimento do Novo Testamento às nações, revelando o Seu segredo, a posse das nações, ao toque da sétima trombeta.   

O livro doce e amargo

“E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo.” (Apocalipse 10:8-10).

A “voz do céu” havia falado com João para ele não escrever o que os sete trovões falaram. Agora, ela fala novamente e ordena que ele pegue o “livrinho” da mão do anjo e coma-o. “Coma-o” entra no sentido figurado, significa obter conhecimento da palavra de Deus, estudá-la, apreciá-la, respeitá-la. Um exemplo que denota este sentido, Jeremias 15:16, diz: “Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR Deus dos Exércitos.” Este verso também mostra que ela é de paladar agradável àqueles que a conhecem. Todavia, ela pode trazer conseqüências amargosas para aqueles que a defendem com amor e verdade. Foi o que aconteceu com o apóstolo João nesta visão. Na boca a palavra foi “doce como mel”, no ventre se tornou “amarga”.

Este simbolismo representa muito bem a história vivida pelos bogomilos, cátaros e valdenses entre os séculos XI e XIII. Eles receberam a palavra de Deus, se deliciaram com suas verdades, se entregaram em amores por ela. Porém, o preço deste amor foi o valor de suas próprias vidas nas fogueiras da Inquisição.

Para confirmar esta profecia, volto a citar Walker: “as Escrituras eram muito usadas pelos cátaros. Eles as traduziam e diziam estarem baseados nelas seus ensinos. (…) Todos, porém, tendo o Novo Testamento como vindo de Deus bom, o acatavam.” Os valdenses não eram diferentes: “a Bíblia, e em especial o Novo Testamento, é a única regra de fé e vida”.

Porém, veja como foram amargas as conseqüências do ato deles “comerem” a Palavra de Deus. “A Heresia Cátara provocou a Cruzada albigense, onde vários que eram considerados ‘Hereges Medievais’, e habitavam as cidades e seus arredores, sofreram agressões e mortes violentas no XIII. Toda a região de Rennes-le-Château carrega o estigma dos resíduos dessa história de amargura e sangue até hoje.” Esta Cruzada foi ordenada pelo Papa Inocêncio III e durou 35 anos. Esta citação foi retirada da Wikipédia, com meu destaque na palavra amargura, para que fique bem claro o cumprimento da profecia. Os valdenses também viveram uma história de fé, amor e amargura. A história diz que o sentimento dos valdenses pela Bíblia era tanto que eles memorizam e ensinavam seus filhos a memorizarem livros inteiros do Novo Testamento e carregavam partes dos livros escondidos por baixo de suas roupas, pois neste tempo a Igreja Católica proibia os leigos de lerem a Bíblia. No entanto, os valdenses também viveram a amargura, pois ousaram desafiar esta imposição católica. Segundo Walker, a história dos valdenses é “o relato de heróica resistência às perseguições”. A história confirma Palavra de Deus. Não há dúvida, a profecia de Apocalipse 10 se cumpriu no início do último milênio na figura dos bogomilos, cátaros e valdenses. Não há o que contestar.

A profecia para muitos povos

“E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.” (Apocalipse 10:11).

Profetizar outra vez? Se era para profetizar outra vez, é porque já havia sido profetizado antes. Isto é fato! A Igreja de Deus já havia alcançado o mundo com sua mensagem nos primeiros séculos da Era Cristã. Com o passar do tempo, aos poucos a heresia tomou conta do povo santo, como podemos perceber através das cartas às igrejas em Apocalipse capítulos 2 e 3. A decadência espiritual e doutrinária da igreja é um processo de quase 1.000 anos. Ela sai daquele estado de efervescência espiritual do primeiro século para chegar ao estado de coma por volta dos X e XI. Podemos entender isso com base em Apocalipse 3:1, que refere-se à igreja do período de Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto”. Esta decadência não é obra do acaso. Contribuiu para isso a intensa perseguição promovida pelo Império Romano nos primeiros séculos e a sedição da igreja pelo Imperador Constantino no ano 321 d.C. Sem nos esquecermos que o poder do anticristo (papismo) ocupou um lugar de preeminência na igreja a partir do século IV, fazendo com que os fiéis se retirassem para regiões mais desertas, longe do convívio social. O que causou, não só dificuldades na expansão do evangelho, como a retração na pregação, e ainda a descaracterização doutrinária da igreja. A carta à igreja de Sardes dá a entender que pouca coisa caracterizava a verdadeira igreja: “Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te.” (Apocalipse 3:3). Falarei mais do assunto quando postar sobre as cartas às igrejas. Por ora, este pequeno comentário é apenas para criar uma visão deste processo histórico vivido pela igreja de Deus, desde sua fundação por Jesus Cristo até por volta dos séculos X e XII.

Mas há uma reação contra este estado de coisas. Paulatinamente, a partir do século XII, a igreja, tomada do conhecimento transmitido pela Bíblia, volta a evangelizar o mundo. Sua mensagem ganha força através dos cátaros e valdenses, pois importava profetizar “outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis”. Na Europa, devida a intensa perseguição que se instalou com as inquisições do século XIII até o século XVI, a igreja foi banida. Mas, parte de seus filhos consegue chegar à América e, a partir daí, sua voz foi ouvida de novo em todo o mundo. Cumpre-se a profecia.

Fazendo um resumo, que leva em conta as postagens anteriores (leia-as para compreender melhor esta conclusão), podemos dizer que Apocalipse 10, a profecia do “anjo forte”, “vestido de uma nuvem”, com um “livrinho aberto” nas mãos, que clama com grande voz “como quando ruge o leão” conta a história do povo de Deus em sua luta para promover o conhecimento da Bíblia ao mundo, principalmente o Novo Testamento. Levar o conhecimento da Bíblia é o mesmo que pregar o evangelho do reino de Deus. O reino de Deus será sobre as nações do mundo. Este é o segredo que fez o anjo jurar por Deus de que não haveria mais demora, pois este reinado estava por começar, ao toque da sétima trombeta. Porém, o brado do anjo despertou os “sete trovões” que também fizeram soar suas vozes. A “voz do céu” não permitiu que João escrevesse o que os “trovões falaram”, porque certamente sua mensagem não interessava ao verdadeiro crente. As “vozes” dos sete trovões são as mensagens vindas da Reforma Protestante. Os reformadores procuraram apoiar suas mensagens na Bíblia, todavia, ao invés de procurarem a igreja fundada por Cristo, bradaram por uma reforma do catolicismo. Daí que a interpretação bíblica por eles, realmente não conduz ao verdadeiro conhecimento. Temos, então, duas mensagens em contraste. De um lado, a mensagem escrita no “livrinho aberto”, o Novo Testamento, vindo do povo de Deus, o “anjo vestido de uma nuvem” e, de outro lado, uma mensagem que não foi escrita, a mensagem dos reformadores.

Contando com as postagens anteriores, tudo o que foi apresentado nos faz crer que o Apocalipse 10 apresenta a história da Bíblia, principalmente do Novo Testamento, muitíssimo utilizado pelos valdenses para proclamar o evangelho nos séculos XII em diante. Temos que lembrar que naquele tempo a Bíblia estava separada em duas partes, Antigo e Novo testamento. Por isso, elas são as “duas testemunhas” que estão no Apocalipse 11. Neste capítulo, o “anjo” dá uma “cana” de medir a João. O que será esta “cana de medir”? A história da Bíblia segue no artigo sobre as duas testemunhas. Veja aqui.


[1] Extraído da Wikipédia, assunto Bogomilos.

[2] Extraído da Wikipedia, assunto Catarismo.

[3] Extraído da Wikipédia, assunto Valdenses.

[4] WALKER, Willinston. História da igreja cristã, p. 323.

[5] Idem, p. 321.

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ESCATOLOGIA : Apocalipse
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