Fundamentos históricos e filosóficos que deram origem à divindade de Jesus

Vamos nesta parte falar sobre a história do logos. Sua origem e quais os passos percorridos para que este conceito penetrasse no cristianismo. O início de tudo se dá nas religiões pagãs e suas doutrinas, depois o próximo passo foi a filosofia grega, e, por fim, a filosofia judaica. Esta análise histórica vai ajudar a debelar a ideia de que Jesus era um ser preexistente. Nossa argumentação é a de que o conceito da preexistência de Jesus foi elaborado fora da Palavra de Deus.

As religiões pagãs, a imortalidade da alma e as moradas celestiais

A imortalidade da alma está na base de todas as falsas doutrinas. O primeiro pecado foi consequência da falsa ideia de que o homem não morre.[1] Consequentemente, o pensamento de que o homem vai morar no céu também tem raiz nesta falsa ideia da imortalidade. De fato, no pensamento pagão, ninguém morre, mas vai viver na companhia dos deuses.

O homem natural sempre esteve habituado com a ideia de imortalidade da alma, independente de cultura e época. Os povos pagãos sempre pensaram que as almas boas sobem ao céu a partir de um espaço sagrado. Este espaço pode ser uma montanha, uma árvore, um poste-ídolo, um altar ou um templo, localizado no centro da terra (sempre entendida como plana). Já, as más descem para o abismo e inferno, onde habita o grande dragão em meio ao fogo de tormento. Também faz parte cultura pagã a ideia de que os deuses descem do céu através de uma porta aberta na abóboda celeste para se estabelecer no lugar santificado, ou para encontrar e encarnar no homem santo. As religiões pagãs tem fundamento nestes errôneos pensamentos. Não é por menos que as falsas religiões modernas ainda carregam essas falsas doutrinas: imortalidade da alma, morada no céu e encarnação.[2]

São os pensamentos pagãos de alma imortal e moradas celestiais em companhia dos deuses que sustentam a preexistência de Cristo. Sem eles, o homem nunca teria chegado à concepção de que Cristo existia antes da fundação do mundo na companhia de Deus. Crer na preexistência de Cristo é sustentar estas falsas ideias.

O conceito histórico e filosófico do logos

O mundo grego, por volta do V século antes de Cristo, começou a elaborar uma concepção mais sofisticada sobre a divindade. Para os primeiros filósofos, o mundo não era obra das divindades, mas um produto de uma razão/ordem universal, o logos. O pai deste pensamento foi Heráclito. Contudo, filósofos posteriores, principalmente, Platão, introduziram ao pensamento de Heráclito a ideia de um agente intermediário entre a razão universal e a matéria. Para eles existiam dois mundos, um material, ao qual nós pertencemos, e outro espiritual, ao iremos pertencer através do alcance da sabedoria. A criação do mundo material e ligação com o mundo espiritual era elaborada pelo agente intermediário, o demiurgo. Este pensamento teve impactos profundos na doutrina cristã.

Para a concepção desta parte histórica do conceito de logos, foi utilizado um trabalho muito bem elaborado, postado no site Em defesa da graça, a Revista de Cultura Teológica, algumas partes da Wikipedia, entre outros endereços web, todos devidamente identificados.

Definição do logos:  “O Logos (em grego λόγος, palavra), no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada — o Verbo passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Verdade e da Beleza.”[3]

Importante prestar atenção nestas definições. O logos em seu conceito primeiro é a palavra-ação e em seu conceito posterior é a razão. Há, portanto, duas principais definições para o logos no pensamento grego. Uma em que logos é a palavra falada e a outra que é a razão. Devemos separar essas definições. Foi a aplicação da segunda em João 1:1 que causou toda a confusão. Vamos para a história.

Heráclito

Heráclito (535 a.C – 475 a.C), filósofo, é a origem e inspiração do conceito do logos que permeou a discussão cristológica e serviu para definir a essência e personalidade de Cristo.

Para ele:

“[…] todas as coisas estavam em um determinado curso, e […] nada permanece da mesma maneira. Entretanto, a ordem e o padrão podem ser percebidos em meio ao fluxo e aos refluxos eternos e incessantes das coisas no Logos – o princípio eterno de ordem no universo.” Ele mantinha ainda que “o Logos, por trás de qualquer mudança duradoura, é que faz com que o mundo se torne um cosmos e um todo ordenado” (LADD, 2009, p. 357.)[4]

Heráclito, de certa forma, dispensou os deuses para se concentrar numa razão, lógica, que governava o cosmos. Seu conceito, podemos dizer, não é nem pagão e nem sagrado.

Platão

Platão (428/428 – 348/347 a.C) é mencionado neste estudo devido sua influência sobre a teologia cristã.  “Para ele: Deus mantinha ligação com o mundo sensível através do Logos, a razão universal”, (2010, p. 51). [5] E, “segundo proposto por Cullmann, ‘esta concepção filosófica do Logos ocupa um lugar essencial na história longa e complicada deste termo, pois influenciou ao menos na forma, as idéias judaicas e pagãs tardias de um Logos mais ou menos personificado’ (2008, p. 330).” [6]

Platão, entre outras coisas, explica a relação do Deus transcendental com a matéria através de um agente identificado por ele como “demiurgo”.

“[…] A meta perseguida pelo demiurgo platônico é o bem do universo que ele tenta construir.[94] Este bem é recorrentemente descrito em termos de ordem,[95] Platão descreve o demiurgo como uma figura neutra (não-dualista), indiferente ao bem ou ao mal,[96]”.[7]

De Heráclito a Platão, a razão impessoal começa a ser tornar o logos pessoal.

Filo de Alexandria

Enquanto Heráclito é a origem, Platão a grande influência, Filo de Alexandria é a figura central do processo de desenvolvimento do conceito do logos no judaísmo e cristianismo.

Nascido em Alexandria (20-25 a.C.), de acordo com Lopes (2007, p. 83), “Filo era um judeu praticante, da Diáspora”, que teria morrido entre 42 e 50 d.C.[7] Ele foi […] contemporâneo de Herodes, o Grande, dos sábios rabínicos como Gamaliel, Hilel e Shamai, e ainda de Jesus e de Paulo” (LOPES, 2007, pp. 83, 84). Bem versado na Septuaginta e nas tradições do Judaísmo, Lopez declara ainda que “Filo teve um treinamento completo em filosofia grega” e, “Filosoficamente falando, ele era uma mistura de platonista e estóico, com a predominância do pensamento de Platão” (2007, p. 84).

Relevante para nossos objetivos é o empreendimento de Filo na “[…] extraordinária tarefa de casar a religião judaica com a filosofia helenística” (LADD, 2009, p. 358). Filo defendia “[…] a perspectiva grega de um Deus completamente transcendente e separado do mundo; e utilizou o conceito do Logos para prover uma forma de mediação entre o Deus transcendente e a criação” (LADD, 2009, p. 358).

O Lógos, ou Razão, conforme concebido por Filo é, portanto, “[…] o mesmo que o<<demiurgo>> de Platão”, ou seja, “O princípio de mediação entre Deus e a matéria […], no qual estariam comprimidas todas as idéias das coisas finitas, e que teria criado o mundo material, fazendo estas idéias penetrarem na matéria”, ou ainda, “[…] é a razão divina e universal, a razão imanente, que contém dentro de si mesmo o ideal universal, mas que ao mesmo tempo, é a palavra expressa, que procede da parte de Deus e que se manifesta neste mundo em tudo quanto aqui existe” (CHAMPLIN, 2008, p. 900). Por esta razão, Ferreira e Myatt (2007, p. 509) resumem o pensamento de Filo acerca do Lógos como “[…] a emanação divina que intermediou a criação do universo”.

Assim sendo, vendo o Lógos como “[…] a manifestação que Deus faz de si mesmo neste mundo”, Filo entendia que “ao revelar a si mesmo, Deus poderia ser chamado de Logos”, e “[…] o Logos, na qualidade de agente revelador de Deus, poderia ser chamado de Deus” (CHAMPLIN, 2008, p. 900). [8]

Está nítida a influência da filosofia grega sobre o pensamento de Filo. Um judeu que queria ficar de bem com a comunidade judaica, mas sem perder o prestígio da sabedoria grega. Ele abriu a porta para o pensamento grego avançar sobre a teologia cristã. O resultado já conhecemos.

Judaísmo

A história da influência do conceito do logos no judaísmo se “divide” em dois períodos: o remoto e o tardio. No judaísmo remoto, o conceito não se deriva de uma filosofia, mas de um símbolo cultural. Enquanto no tardio, sofre influência da concepção do logos elaborado pelos gregos.

No judaísmo remoto, logos é a palavra-ação como descreve a Revista de Cultura Teológica da PUC, páginas 34 e 35:

O livro de Gênesis 1 e 2 nos apresenta todo o relato da criação que tem como ponto de partida a Palavra de Deus, palavra que é ação, verbo, capaz de criar todas as coisas. Verificamos a mesma realidade no Salmo 33,6.[9]

Ainda podemos ver que:

Na LXX (SEPTUAGINTA), o termo LOGOS (em hebraico: DAVAR) foi usado com freqüência para descrever as declarações de Deus, e as mensagens dos profetas – por meio da qual Deus comunicou Sua vontade ao Seu povo. LOGOS ocorre em ambos os livros dos profetas maiores e menores, como uma figura de expressão que designa a atividade de Deus ou sua ação.[10]

Conforme estas definições históricas, logos no judaísmo mais antigo é a palavra-ação de Deus. Já, no judaísmo tardio, debaixo da influência das concepções filosóficas gregas, principalmente em Filo, o logos é apresentado mais ou menos como se fosse um ser. O site Em Defesa da Graça, diz:

É digno de nota que, embora não devamos permitir que a analogia da terminologia nos induza “[…] a identificar a concepção de Logos atestada no judaísmo tardio, ou mesmo a do Evangelho de João, com a da filosofia grega” (CULLMANN, 2008, p. 330), segundo proposto por Cullmann, “esta concepção filosófica do Logos ocupa um lugar essencial na história longa e complicada deste termo, pois influenciou ao menos na forma, as idéias judaicas e pagãs tardias de um Logos mais ou menos personificado” (2008, p. 330).[11]

Devemos especial atenção aqui, o logos praticamente ganha status de pessoa, e foi esta concepção que ofuscou o entendimento das verdadeiras características de Cristo durante a Era Cristã. Não há nenhuma prova de que João se baseou na concepção filosófica de razão universal para usar a palavra logos no seu evangelho. É certo que ele a usou no seu sentido original de palavra-ação. João conhecia muito bem Deus e seu Filho. Não faria mistura e confusão de termos. João jamais importou o conceito dos gregos.

Estoicismo

O Estoicismo, uma religião presente no tempo da Igreja Primitiva, adota em sua teologia o conceito do logos, aproximando-o de “Deus”.

Para o estoicismo, que “por sua vez, teve origem com Zenão de Cício (263 a.C.) […] Sua doutrina do Logos o concebia como a razão impressa na estrutura do universo e também como a fonte de energia de todas as coisas” (GRANCONATO, 2010, p. 51), ou, como o expressou Cullmann (2008, p. 330), “O Logos aí é a lei suprema do mundo, que rege o universo e que, ao mesmo tempo, está presente na razão humana. Trata-se pois de uma abstração e não de uma hipóstase”. Uma espécie de “alma impessoal e panteísta do mundo”. É, portanto, muito natural a declaração de Ladd (2009, p. 357) de que “o Logos era um dos elementos mais importantes na teologia estóica”. Foi esta idéia do Lógos que “os estóicos usaram […] para prover a base para uma vida moral e racional” (LADD, 2009, p. 357) [12]

O pensamento estóico é influenciado pela filosofia grega. Esta aí um logos que não é um deus, nem matéria, é uma lei, e está presente na razão humana e serve para diretrizes morais. Este pensamento, porém, não se aproxima tanto do judaísmo como o pensamento elaborado por Filo, visto que esta não era uma religião judaica.

Gnosticismo

O gnosticismo era um sistema religioso baseado no conhecimento, cuja salvação vem através do alcance da sabedoria. Gnosis significa conhecimento. Pouco se sabe sobre sua origem. As informações dão conta que surgiram pelo mesmo tempo do cristianismo, ou um pouco antes. Mas, o que nos interessa é sua doutrina. É muito provável que o apóstolo João escreveu sua terceira carta contra as doutrinas do gnosticismo. A partir do pensamento gnóstico é fácil entender o seu combate aos anticristos que surgiram pelo mundo, dizendo que o Jesus não veio em carne.

Assim no pensamento gnóstico Jesus é “uma encarnação do Ser Supremo para trazer a gnōsis para a terra.[21] “ “Este segundo deus é um deus menor, inferior ou falso. Esse deus criador é comumente referido como o demiourgós.[19] O demiurgo gnóstico apresenta semelhanças com as figuras de Platão em Timeu e A República.

O termo Demiurgo deriva da forma latinizada do termo grego dēmiourgos (δημιουργός), literalmente, “artesão”, “alguém com habilidade específica”, de dēmios do povo, popular (dēmos, pessoas ou povo) e ourgos, trabalhador (ergon, trabalho).[37] No gnosticismo, o Demiurgo não é Deus mas o arconte ou chefe da ordem dos espíritos inferiores ou éons.[13]

Aí está uma pequena citação sobre o gnosticismo da qual podemos tirar uma breve conclusão. Nascido ao mesmo tempo da igreja primitiva, sob influência da filosofia grega que rezava “que somente aqueles que fossem amantes da sabedoria, teriam permissão para viver na companhia dos deuses”, o gnosticismo combateu severamente a principal doutrina cristã da imortalidade apenas através do sacrifício de Cristo. Esta doutrina cristã era um incomodo para o gnosticismo. Então, para eles, Jesus era apenas a forma como a sabedoria “encarnou” e chegou à terra. Jesus seria a razão, o conhecimento, a sabedoria, não um homem de carne e osso. Não é sem razão que o apóstolo João combateu o espírito do anticristo porque tal dizia que Jesus “não veio em carne”.

O gnosticismo não foi o responsável direto pela introdução do conceito do logos no cristianismo, mas ele preparou o terreno para o debate teológico que se seguiu à morte dos apóstolos. Foi o combate às doutrinas gnósticas que fez os pais da igreja perder a base de seus argumentos. Ao invés de centrarem nos escritos bíblicos, se posicionaram na filosofia grega, mais especificamente nos conceitos judaico-helênicos de Filo de Alexandria. O desvio teológico estava prestes a acontecer.

Cristianismo

O conceito do logos no cristianismo é uma fusão da concepção judaica tardia (em Filo) e as concepções filosóficas gregas platônicas, e, em certo grau, influência por tabela do gnosticismo. Estes conceitos foram erroneamente aplicados ao texto de João 1:1, gerando uma sequência de afirmações falsas sobre Deus, Jesus e da relação entre eles.

Teólogos cristãos geralmente consideram que João 1:1 como o principal texto para suportar a crença de que Jesus é Deus, considerando a ideia de que o Paio Filho e o Espírito Santo são iguais. Embora seja unicamente neste versículo que Jesus é chamado de “Verbo de Deus”, o tema aparece por todo o Evangelho de João em variadas formas[2].

Embora o termo Logos não apareça como um título além do prólogo, todo o livro de João defende este argumento básico. Sendo o Logos, Jesus Cristo é Deus auto-revelado (Luz) e a redenção (Vida). Ele é Deus presente para o homem e por ele conhecido. Tomé o reconheceu como Deus quando duvidou de sua ressurreição (João 20:28), mas o Logos também é, de alguma forma, diferente de Deus, pois como disse João, “…estava com Deus”. Deus e o Logos portanto não são dois seres e, por outro lado, não são simplesmente idênticos. Este aparente paradoxo permeia os evangelhos. Deus, quando age e se revela, não “exaure” o que Deus é e isto aparece em várias frases de Jesus:

«Eu e meu Pai somos um.» (João 10:30)

«…o Pai é maior do que eu.» (João 14:28)

Assim, o Logos é Deus ativo na criação, revelação e redenção. Jesus Cristo não apenas traz a palavra de Deus aos homens, ele “é” a palavra, o “Verbo”[3]. E este entendimento é o que foi proclamado no Credo niceno-constantinopolitano, resultado do Primeiro Concílio de Constantinopla em 381[4].

O teólogo Stephen L. Harris alega que João teria adaptado o conceito de Fílon de Alexandria sobre o Logos, identificando Jesus como uma encarnação do Logos divino que formou o universo[5] (cf. Provérbios 8:22-36).

Dá para entender sem muito esforço: o conceito do logos foi importado da filosofia. Os teólogos pensam que João usou o termo logos mais ou menos de acordo com o conceito grego e aplicou em seu texto [João 1:1], como diz parte da citação acima: “embora seja unicamente neste versículo que Jesus é chamado de ‘Verbo de Deus’”. Errada a aplicação do conceito filosófico ao texto e errado o pensamento que o texto afirma ser Jesus a palavra. Portanto, Jesus não é Deus na criação, nem a palavra que traz a palavra. Muito menos isto é um paradoxo que “permeia o evangelho”. Não há confusão no texto bíblico de João. O que causa a confusão na mente da maioria dos cristãos é aplicar um conceito extra-bíblico ao texto bíblico. É querer pensar como um grego, sendo um judeu.

Conclusão

Esta parte sobre história antecedente à discussão cristológica merece uma síntese. A religião pagã com sua ideia de alma imortal é a base da falsa doutrina da preexistência de Cristo. O conceito natural do logos é o de palavra-ação. Seu segundo conceito, o filosófico, é o de razão universal. O filósofo grego Heráclito trabalhou este segundo conceito. Sua definição de logos destituiu a ideia de que vários deuses trabalhavam em prol de manter a ordem no universo, como pensava a religião pagã, e a substituiu por uma razão universal que tudo governa. Em Platão, surge a ideia de um ser, um agente, um demiurgo fazendo a mediação entre a razão universal e a matéria. Filo procurou estabelecer um elo entre a filosofia grega e pensamento judaico sobre Deus e o cosmo. Daí que, para não ferir a crença judaica de um Deus criador, reduzindo-O a uma mera lei racional, sem dispensar a filosofia grega, aceitou a ideia de Platão sobre o demiurgo, equiparando-o com o logos (judaico) de Deus. O logos de Deus, agora é, um agente entre Deus e a matéria. Assim, Filo agradou a gregos e a judeus. Pronto, as bases para a confusão cristológica que se seguiu nos primeiros séculos da Igreja estavam preparadas.

No bojo destes acontecimentos, quatro sistemas religiosos absorveram partes destes conceitos. No Judaísmo isso se divide em dois momentos. Primeiramente, o conceito de logos é simplesmente “davar” (hebraico), palavra criadora, palavra dos profetas. Depois, sob influência grega, é o logos, a palavra personalizada, o Ser. Mas isto aconteceu no judaísmo alexandrino, não no judaísmo bíblico de João. A religião estóica, baseada nestas ideias filosóficas, estabelece doutrinas razoavelmente diferentes do paganismo e mais próximos do Deus judaico-cristão. Isto é um fato! Em Atos 17, Paulo prega em Atenas, “aceitando” o conceito estóico do “deus desconhecido”, como sendo o próprio Deus. O Gnosticismo amalgamou estes conceitos. Ele fez uma fusão (que pode ser chamada de confusão) entre Deus dos judeus, o demiurgo dos filósofos e Jesus dos cristãos, daí resultando uma espécie de salvação pelo conhecimento. Por fim, o Cristianismo é o resultado de tudo o que antes aconteceu. No cristianismo dos primeiros séculos, a aplicação do conceito de logos = razão = demiurgo  invés de Logos = davar = ação criadora a João 1:1 gerou toda a contenda cristológica que persiste até nossos dias.

Assim, vemos que a origem do conceito do logos é um pensamento fora do cristianismo primitivo e fora da Bíblia. A caminhada se inicia em Heráclito, sendo seu próximo passo Platão e o terceiro Filo. Caminhada ajudada pelo estoicismo e gnosticismo. Sendo que o lugar-comum foi o pensamento antigo de que o homem é imortal e irá morar com os deuses.

Como dissemos, nossa argumentação é a de que o conceito da preexistência de Jesus foi elaborado fora da Palavra de Deus. Esta análise histórica pontuou o que é o conceito do logos e sua origem. A ideia de que Jesus era um ser preexistente partiu da aplicação equivocada deste conceito a João 1:1. Nosso argumento histórico é válido.

Na próxima parte, trataremos do debate cristológico em si, isto é, dentro do próprio cristianismo. Veremos como este conceito sobre o logos permeou o pensamento cristão pós-morte dos apóstolos.

[1] Gênesis 3:1-4.

[2] NOTA: Para maiores informações veja o livro O sagrado e profano de Mircea Eliade. Nele há uma síntese de todo o pensamento humano sobre a relação do homem com o cosmo. Em poucas palavras, cada cultura religiosa deduz que sua nação vive no centro de uma terra plana, coberta por uma abóboda celeste, com o inferno abaixo e o caos nas extremidades. O espaço onde se vive é sagrado; distante do centro vivem os inimigos no caos, onde ninguém dos santificados pode lá chegar; abaixo, no inferno são lançados as almas más e os inimigos; e no lugar sagrado se encontra a porta do céu, onde se efetua o contato com Deus.

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Logos. Acessado em: 03 nov. 2017

[4] http://emdefesadagraca.blogspot.com.br/2012/06/doutrina-do-logos-uma-analise-historica.html. Acesso em: 03 nov. 2017.

[5] Ibidem.

[6] Ibidem.

[7] https://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o#Filosofia. Acesso em: 03 nov. 2017.

[8] http://emdefesadagraca.blogspot.com.br/2012/06/doutrina-do-logos-uma-analise-historica.html. Acesso em: 03 nov. 2017.

[9] https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/viewFile/15341/11457. Acessado em: 06 nov. 2017.

[10] http://igrejadedeusemsaopaulo.org.br/seculos.htm. Acessado em: 06 nov. 2017

[11] [11] http://emdefesadagraca.blogspot.com.br/2012/06/doutrina-do-logos-uma-analise-historica.html. Acesso em: 03 nov. 2017.

[12] Ibidem.

[13] //pt.wikipedia.org/wiki/Gnosticismo. Acessado em : 11 nov. 2017.

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4 comentários em “Fundamentos históricos e filosóficos que deram origem à divindade de Jesus”

  1. Geuvany Moises Gouveia

    PAZ E GRAÇA DE JESUS! VOCÊ DIZ QUE NO EVANGELHO DE JOÃO 1 VERSO 1:”…seja unicamente neste versículo que Jesus é chamado de ‘Verbo de Deus’” PORÉM NO LIVRO DE APOCALIPSE 19 VERSO 13 JESUS O(MESSIAS) É TAMBÉM CHAMADO O VERBO DE DEUS…

    1. EdyBrilhador

      Sim, Apocalipse faz esta referência. Contudo, precisamos considerar que tem um teor simbólico representando o governo de Deus através de Jesus. Com isso, Jesus, Rei dos reis, é CHAMADO (não é substancialmente) VERBO DE DEUS, ou seja, a ordens de governo que Ele der é a mesma que Deus daria.

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