O DRAGÃO E A MULHER #
Esta é uma introdução inicial e simplificada ao capítulo 12 do livro do Apocalipse. Não se trata de um estudo abrangente e definitivo, no qual todas as verificações necessárias são apresentadas em detalhes. O objetivo aqui foi apenas elucidar o significado simbólico e sugerir os eventos que podem corresponder a cada uma das profecias. Portanto, não foram incluídas todas as evidências históricas com citações de fontes, nem todas as passagens bíblicas pertinentes, como seria necessário em um estudo completo desse tipo.
Em algum momento no futuro, se for viável, o estudo poderá ser expandido para incluir mais detalhes e evidências históricas. No entanto, mesmo com essa limitação, esperamos que este estudo contribua para esclarecer esta profecia impressionante.
A mulher vestida do sol #
E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. Apocalipse 12:1
A primeira consideração que devemos fazer é que o Apocalipse possui um caráter simbólico em sua totalidade. Portanto, quando se menciona o “céu”, está se referindo a um ambiente espiritual que nos envolve, e não ao céu físico ou ao lugar descrito na Bíblia como o trono de Deus. Dessa forma, um “grande sinal no céu” representa um evento significativo que ocorre aqui na Terra, mas que tem impacto em nosso mundo espiritual. Essa compreensão se torna mais clara quando analisamos os demais símbolos presentes nessa profecia.
A figura da “mulher” é uma representação da religião de uma cidade ou nação, conforme visto em Apocalipse 17, onde a grande Babilônia é retratada como uma mulher prostituta assentada sobre muitas águas, simbolizando a religião de várias nações. Muitos estudiosos dessa profecia entendem que o “sol”, a “lua” e as “estrelas” são referências a Jacó, Raquel e os doze patriarcas. Essa interpretação parece apropriada, uma vez que o “sol” representa a justiça, conforme mencionado em Malaquias 4:2. Portanto, nessa profecia, temos uma representação de uma religião pura.
É fácil decifrar esse simbolismo: a “mulher” mencionada no Apocalipse 12 refere-se à nação de Israel, porém não a todo o Israel, mas apenas à parte fiel a Deus, àqueles que não se curvaram perante Baal. Existe uma linhagem de pessoas que serviram a Deus e deram origem ao Messias, o Filho que estava por nascer.
As expressões “lua debaixo dos seus pés” e “uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça” indicam o domínio dessa mulher sobre as doze tribos de Jacó, evidenciando que essa profecia se cumpriu em um momento em que a nação de Israel estava unida sob sua religião. Isso porque a “mulher” estava grávida, sentindo as dores de parto e clamando para dar à luz, como descrito em Apocalipse 12:2. Portanto, a aplicação desta profecia dever retroceder a Era Cristã para o tempo dos grandes impérios.
O dragão vermelho #
E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. Apocalipse 12:3
Em oposição ao simbolismo da mulher pura, outro sinal é apresentado na forma de um “dragão”. No entanto, esse dragão não carrega nenhuma santidade consigo e também é mencionado no “céu”. É importante ressaltar que não estamos nos referindo ao céu literal nem ao lugar onde Deus habita, pois como mencionado anteriormente, a mulher também está no céu, representando a religião de Israel aqui na terra. Portanto, o “céu” também possui um significado simbólico, representando um ambiente espiritual que se manifesta em nossa mente ou se desenvolve a partir dela. Podemos fazer uma associação com as palavras de Paulo sobre os “lugares celestiais em Cristo” (Efésios 1:3).
O “dragão” é uma representação do mal, dos inimigos, do desconhecido, do perigoso e do caos. Nas culturas antigas, ele era identificado como uma nação inimiga. Por exemplo, no Livro de Ezequiel, lemos: “Fala e diz: Assim diz o Senhor DEUS: Eis-me contra ti, ó Faraó, rei do Egito, grande dragão, que te deitas no meio dos teus rios e dizes: O meu rio é meu, e eu o fiz para mim” (Ezequiel 29:3). Nas culturas antigas, a terra era vista como um local seguro em contraste com o mar inseguro e perigoso. Em Isaías 27:1, encontramos a seguinte passagem: “Naquele dia, o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, a serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa; e matará o dragão que está no mar”.
Os “dragões” ou monstros míticos estavam associados a tudo o que não possuía forma e geralmente eram símbolos das trevas e da morte. Era necessário matar o dragão para que o “Cosmos viesse à luz” (Eliade, 1992, p.29). Da mesma forma, sempre que uma batalha era vencida contra invasores da cidade, repetia-se o ato da criação do mundo, estabelecendo a ordem sobre o Caos (TAKEUCHI, 2017).[1]
Portanto, o simbolismo do “dragão” pode ser resumido como algo que é oposto ao nosso modo de vida, uma cultura diferente, o paganismo. No caso da “mulher”, que representa a religião de Israel, seu oposto era representado pelas nações pagãs personificadas pelo “dragão”. A expressão “grande dragão” significa a inclusão de todas as nações desde o início do mundo, mas especialmente aquelas que oprimiram o povo de Deus, como o Egito, o primeiro império a fazê-lo, seguido pela Assíria, Babilônia, Média, Grécia e Roma. Esses reinos são as sete “cabeças” do dragão. No tempo do nascimento do “filho” (Jesus), que ocorreu sob o domínio romano, Roma era o sexto reino na sucessão, representando o “dragão”.
A profecia engloba toda a extensão histórica desses seis reinos, além do sétimo que ainda estava por vir, como indicado em Apocalipse 17:10. Isso é confirmado pela presença de “diademas” sobre as cabeças (diadema significa exercer o domínio). Portanto, o dragão representa os inimigos do povo de Deus desde os tempos de Abraão até os dias atuais.
A terça parte das estrelas #
E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. Apocalipse 12:4
Neste versículo, encontramos simbolismos de grande importância: a “cauda” e as “estrelas do céu”. A “cauda” simboliza o falso ensinamento, representando o falso profeta. Encontramos uma referência a esse simbolismo no livro de Isaías: “Assim o Senhor cortará de Israel a cabeça e a cauda, o ramo e o junco, num mesmo dia. O ancião e o homem de respeito é a cabeça; e o profeta que ensina a falsidade é a cauda” (Isaías 9:15, 15).
Quanto às “estrelas do céu”, elas representam aqueles que ensinam em conformidade com a verdade celestial. Simbolicamente, a “luz” está ligada ao conhecimento. As estrelas que brilham são consideradas representativas da disseminação do conhecimento no meio das “trevas”. Encontramos o uso dessa simbologia na profecia de Daniel: “Engrandeceu-se até contra o exército do céu; e a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou” (Daniel 8:10). Expressões como “lançou as estrelas por terra” ou “as estrelas caíram do céu” indicam que pessoas que deveriam transmitir o verdadeiro conhecimento de Deus foram seduzidas por Satanás. Dessa forma, as “estrelas do céu” representam os sacerdotes que ensinam conforme a verdade de Deus, mas, ao serem levados pela “cauda” do dragão (falso profeta), passaram a ensinar o engano.
Com esses elementos em mente, podemos decifrar a profecia. O “dragão”, representando o paganismo, seduziu os sacerdotes de Deus com seus falsos ensinamentos, desviando-os da verdade. Um terço dos sacerdotes de Deus foi contaminado pela religião oferecida pelos povos pagãos, e a religião de Israel foi desacreditada. Entretanto, essa profecia da mulher não se aplica apenas à religião de Israel.
As profecias do Apocalipse são voltadas especialmente para a Era Cristã. No entanto, essa profecia do capítulo 12 é um resumo da história de perseguição, que se inicia desde o Antigo Egito, do verdadeiro povo de Deus. Por isso, seus detalhes mencionam fatos anteriores. Aliás, essa é uma característica distintiva do Apocalipse: retroceder nos eventos históricos, como uma espécie de pós-profecia. Ele se autodefine como: “Escreve as coisas que tens visto [história passada], e as que são [história presente], e as que depois destas hão de acontecer [história futura]” (Apocalipse 1:19). Portanto, essa “mulher” é uma referência a uma religião pura que existiu antes da Era Cristã e continuou a existir durante ela.
Algumas pessoas tendem a afirmar que essa “mulher” é a nação de Israel, enquanto outras associam à igreja cristã. Abordar as coisas dessa maneira dificulta a compreensão, uma vez que a profecia claramente aborda eventos tanto do antigo Israel quanto da Era Cristã. Assim, precisamos resolver essa questão. Não estamos diante de uma interpretação exclusiva de uma ou outra possibilidade. Estamos diante de uma interpretação que engloba tanto o período histórico de um quanto o do outro. A interpretação adequada aqui é a de uma religião pura, já que estamos falando de uma “mulher vestida de sol”. Essa religião pura existiu no antigo Israel e durante o Império Romano.
Uma relação que nos ajuda a desvendar esse mistério é a conexão entre o dragão e a besta. A besta que recebeu o trono e toda a autoridade do dragão também recebeu uma boca que atuou por 42 meses (1260 dias), correspondendo aos mesmos 1260 anos históricos em que a mulher foi perseguida. Essa besta é o Império Romano. Uma dedução simples é que as duas ações da mulher mencionadas na profecia, 1) dar à luz e 2) fugir para o deserto, ocorreram durante a história desse império. No primeiro caso, Jesus nasceu de uma religião pura em Israel. No segundo, essa religião precisou se esconder da sociedade para sobreviver. Portanto, na história cristã, encontraremos detalhes mais precisos sobre o cumprimento dessa profecia. Analisemos então a relação da profecia com o Império Romano.
No Apocalipse, principalmente no capítulo 8, diversas vezes aparecem expressões como estas: “E queimou a terça parte da terra, e a terça parte das árvores, e toda a erva verde foi queimada” (Apocalipse 8:7); “e tornou-se em sangue a terça parte do mar” (Apocalipse 8:8); “morreu a terça parte das criaturas viventes que estavam no mar” (Apocalipse 8:9); “e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas” (Apocalipse 8:10); “e foi ferida a terça parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhasse” (Apocalipse 8:11). Essa terça parte é identificada por alguns estudiosos das profecias como referindo-se ao Império Romano Ocidental.
De maneira semelhante, a expressão “um terço das estrelas do céu” que foram arrastadas pela cauda do dragão é simplesmente uma referência aos ministros da igreja que foram cooptados pelo poder do Império Romano. A frase “um terço das estrelas do céu” sugere fortemente o período de apostasia da Igreja quando aqueles chamados “Pais da Igreja”, influenciados pelas artimanhas de Satanás, distorceram a verdadeira doutrina. Isso ocorreu principalmente no Império Romano do Ocidente. Seja como for, o “um terço das estrelas do céu”, tanto pode ser aplicado aos sacerdotes judeus, quanto aos sacerdotes cristãos.
Enfim, o “dragão” esteve diante da “mulher”, aguardando a oportunidade para destruir sua descendência. Essa tentativa ocorreu em diferentes momentos: na infância de Jesus, na tentação, na crucificação e na ressurreição. Em qualquer um desses momentos, o dragão poderia ter vencido a mulher, mas a soberania de Deus prevaleceu. O dragão também estabeleceu uma perseguição contra aqueles que guardavam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus em todas as épocas, a igreja, mas especialmente durante os 1260 anos proféticos.O filho varão
E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono. Apocalipse 12:5
A mulher, representando a linhagem santa de Israel, está destinada a dar à luz um filho, indiscutivelmente Jesus. Ele é o cumprimento da promessa de ser o filho de Davi que ocuparia o trono para governar não apenas Israel, mas também todas as nações da Terra. Conforme relatado nos Atos dos Apóstolos, Jesus foi elevado aos céus e, atualmente, encontra-se à direita de Deus, aguardando o momento oportuno para assumir o domínio sobre as nações.
A fuga da mulher #
E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias. Apocalipse 12:6
As novidades simbólicas de texto é o “deserto” e o tempo de “mil duzentos e sessenta dias”. Descobrindo o que eles significam, podemos encaixar a igreja (mulher) neste contexto.
“Deserto” não parece ser difícil de entender. Os quarenta anos que Israel passou no deserto já lançam luz sobre este símbolo. O termo “deserto” é frequentemente empregado simbolicamente para transmitir significados além de sua interpretação literal. O deserto, como símbolo, representa um lugar de isolamento, aridez, escassez e provação. Nas profecias bíblicas, o uso simbólico do termo “deserto” pode ser entendido como uma representação de um período de dificuldade, aflição ou desolação experimentado por um indivíduo, uma nação ou o povo de Deus como um todo.
A interpretação dos estudiosos da escatologia sobre a frase bíblica “mil duzentos e sessenta dias” é que ela representa simbolicamente 1260 anos na história. Essa interpretação é embasada nas profecias de Daniel, que mencionam os “tempos, tempo e metade de um tempo” (Daniel 7:25; 12:7). Além disso, essa interpretação está relacionada à passagem do Apocalipse que menciona os “quarenta e dois meses” (Apocalipse 11:2; 13:5). Os estudiosos estabelecem uma associação entre essas expressões, com base em referências como Ezequiel 4:6 e Números 14:34, buscando encontrar uma conexão entre os “mil duzentos e sessenta dias” e os “quarenta e dois meses” do Apocalipse com o “tempo, tempos e metade de um tempo” de Daniel. Essa associação permite uma compreensão mais aprofundada dos 1260 anos proféticos e dos eventos históricos que ocorreram durante esse período.
Tendo em mente o que é o “deserto” e os “mil duzentos e sessenta dias” na linguagem profética, podemos encaixar a “mulher” no contexto e aplicarmos à história. Existem vários períodos em que são aplicados os 1260 dias proféticos, o mais aceito é o que vai do ano 538 até o ano de 1798. Dois eventos estão associados marcando início e final do período. Primeiro, em 538, foi quando o Imperador Justiniano decretou que o bispo de Roma seria o chefe supremo de toda a Igreja na Europa. O segundo, quando Napoleão prendeu o Papa em 1798. Este período parecer o provável cumprimento da profecia. Porque em 538 um poder fora constituído para dominar sobre a igreja, abrindo uma era de perseguição contra aqueles que se rebelassem contra tal autoridade e, em 1798, esta provação da igreja é cessada pela destituição deste poder.
Considerando o simbolismo do “deserto” e dos “mil duzentos e sessenta dias” na linguagem profética, podemos contextualizar a figura da “mulher” e aplicá-la à história. Existem diversos períodos em que os 1260 dias proféticos são aplicados, sendo o mais aceito aquele que abrange o período de 538 a 1798. Dois eventos marcantes estão associados ao início e ao fim desse período. Primeiramente, em 538, o Imperador Justiniano decretou que o bispo de Roma seria o líder supremo de toda a Igreja na Europa. Em segundo lugar, em 1798, Napoleão prendeu o Papa, encerrando assim a prova enfrentada pela igreja durante esse período. Esses eventos parecem ser o cumprimento provável da profecia, uma vez que em 538 um poder foi estabelecido para exercer domínio sobre a igreja, desencadeando uma era de perseguição contra aqueles que se opusessem a tal autoridade, e em 1798, essa prova da igreja foi encerrada com a destituição desse poder.
A batalha do dragão #
Houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. Apocalipse 12:7,8
A “batalha no céu” simboliza um conflito espiritual que ocorre dentro da própria igreja. Como já mencionado anteriormente, o termo “céu” é utilizado de forma figurada para representar o ambiente espiritual da igreja. Uma novidade nessa narrativa é a presença de “Miguel”, um anjo associado à proteção de Israel conforme descrito nos relatos de Daniel (Daniel 10:13, 21; 12:1). Os “anjos” mencionados aqui simbolizam os ministros do evangelho, como pode ser observado nos textos de Apocalipse 1, 2 e 3. Havia tanto anjos comprometidos com a verdade como também aqueles influenciados pelo mal, liderados pelo “dragão”.
Historicamente, encontramos, de um lado, a parte fiel representada por “Miguel e seus anjos”, que seguiam os princípios transmitidos desde os tempos de Moisés. Por outro lado, havia a parte da igreja que se deixou influenciar pelo paganismo imposto por Roma, ficando sob o controle do “dragão e seus anjos”. Essa batalha doutrinária travada no seio da igreja envolvia presbíteros, pastores, padres e outros líderes religiosos, tanto da parte fiel como da parte infiel. A expressão “nem mais se achou seu lugar no céu” significa que a parte infiel já não era mais encontrada na essência da igreja de Cristo; eles se tornaram a própria igreja do Anticristo.
O dragão é vencido #
E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. Apocalipse 12:9
Já identificamos o “grande dragão”. No entanto, este texto traz mais características que nos auxiliam a compreender a identidade desse personagem profético. É crucial, no entanto, compreender sua ação enganadora. O “grande dragão” é a representação do Diabo e de Satanás, ou seja, o adversário do homem de Deus desde os primórdios da criação, quando foi simbolizado como uma serpente. Mencionamos anteriormente que dragões, serpentes e leviatãs eram considerados símbolos do mal, do incompreensível e do caos nas antigas culturas. Essas figuras também foram utilizadas pelo povo de Israel para se referir ao que não se submetia à lei (ordem, organização) de Deus, incluindo seus vizinhos pagãos.
Neste texto, o “grande dragão” é expulso de um ambiente chamado “céu”, que identificamos como sendo o ambiente espiritual da igreja. Ele parte para agir junto com seus anjos em um outro ambiente, a “terra”. Ou seja, seu objetivo era enganar a humanidade que não fazia parte da congregação do Senhor, em outras palavras, tentar levar o mundo ao caos.
Analisando esses comentários de forma ainda mais literal, podemos afirmar que o Império Romano liderou os sacerdotes católicos nessa batalha contra aqueles que permaneceram fiéis aos princípios originais do evangelho, levando assim o restante das pessoas, aquelas que não permaneceram nos ensinos verdadeiros, a acreditar no falso evangelho.
A mensagem cristã #
E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. Apocalipse 12:10
“E ouvi uma grande voz no céu”. No livro do Apocalipse, o termo “voz” possui uma conotação clara: refere-se a uma mensagem significativa. Quando esse termo é combinado com a palavra “grande”, indica que estamos diante de um acontecimento extraordinário. Sem entrar em detalhes neste momento para não desviar do escopo deste texto, podemos observar várias ocorrências de “grande” associadas a outras palavras, como “um grande terremoto” (Apocalipse 6:12), “grande multidão” (Apocalipse 7:9), “grande cidade” (Apocalipse 11:8), “grande Babilônia” (Apocalipse 14:8), “grande voz” (Apocalipse 14:15). Além disso, a expressão “grande voz” também aparece em Apocalipse 1:10, 7:10 e 8:13. Em todas essas ocasiões, podemos encontrar conexões com importantes eventos históricos.
Também é relevante não esquecer o significado da expressão “céu”, que já foi abordado anteriormente. No contexto do Apocalipse, “céu” representa um ambiente espiritual adequado aos padrões divinos, por exemplo, a igreja.
Portanto, a expressão “grande voz no céu” simboliza a mensagem poderosa proferida pelos cristãos. Essa mensagem essencialmente fala sobre a salvação, o crescimento do reino de Deus e o poder de Jesus em oposição à queda e destruição das obras de Satanás.
A missão dos cristãos #
“E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo”, (Apocalipse 12:11, 12).
Esta parte é uma continuação do contexto anterior. Retrata a luta daqueles cristãos que entregaram suas vidas pelo “sangue do Cordeiro.” A palavra “Cordeiro”, apesar de estar relacionada com a figura de Jesus, é uma simbologia perfeita para o cristianismo. O cristianismo é o corpo místico de Jesus. Ou seja, os cristãos compõem a lista de trabalhadores empenhados na missão de Jesus. Estamos falando de pessoas que dedicaram suas vidas, mesmo diante da possibilidade de morte, para alavancar a obra do Mestre. À medida que o trabalho dos cristãos avançava, trazendo alegria, o espaço do diabo é diminuído, o que levará a seu fim. Diante de inegável fato, explode a “grande ira” do diabo contra o mundo cristão. Ele intentará destruir todo o cristianismo. E não foram poucas as vezes que isso aconteceu durante a história.
A perseguição e fuga da igreja #
E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem. E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente. Apocalipse 12:13, 14
Após ser lançado ao chão, o “dragão” passou a perseguir a “mulher”. Interpretando as representações do dragão e da mulher conforme mencionado acima, compreendemos que isso se refere às perseguições sofridas pela Igreja pelo Império Romano.
Para a “mulher”, foram concedidas “duas asas de uma grande águia, para voar para o deserto”. Dentro dos muitos simbolismos presentes, destaca-se o “deserto”. Qual é o seu significado? Uma outra referência à palavra “deserto” é encontrada em Apocalipse 17:3, ao descrever a mulher sentada sobre uma besta escarlate cheia de blasfêmias. Tanto a “mulher vestida de sol” quanto a “besta” estão associadas a um “deserto”. Sabe-se que essa besta representou o Sacro Império Romano, indicando que estamos falando da mesma localidade. Não há dúvida de que isso se refere à igreja cristã. Entretanto, é fundamental compreender melhor o simbolismo do “deserto”.
Na linguagem bíblica, o “deserto” frequentemente representa maldição. O profeta Isaías faz uso frequente deste termo. Algumas passagens ilustram isso: “As tuas cidades santas se tornaram um deserto; Sião virou um deserto, Jerusalém foi devastada.” (Isaías 64:10); “Quem transformava o mundo em um deserto e destruía suas cidades?” (Isaías 14:17); “Tornarei os montes e os outeiros em deserto, secarei toda a vegetação, transformarei os rios em ilhas e secarei os lagos.” (Isaías 42:15). Em contrapartida, a presença de águas no deserto é sinal de bênção: “Os animais do campo me honrarão, os chacais e os avestruzes; porque darei águas no deserto e rios no ermo, para dar de beber ao meu povo, ao meu escolhido.” (Isaías 43:20); “Até que sobre nós seja derramado o espírito lá de cima; então o deserto se tornará em campo fértil e o campo fértil será considerado uma floresta.” (Isaías 32:15); “Farei delas e dos lugares ao redor do meu monte uma bênção; farei a chuva descer a seu tempo, serão chuvas de bênção.” (Ezequiel 34:26).
Outra profecia que auxilia na compreensão do “deserto” é Apocalipse 11:6, relacionada às duas testemunhas (Antigo e Novo Testamento): “Estas têm autoridade para fechar os céus, para que não chova nos dias de sua profecia; e têm autoridade sobre as águas para convertê-las em sangue e para afligir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes quiserem.” A falta de chuva é equivalente a dizer que a terra se torna um deserto. A profecia das “duas testemunhas” também menciona um período de tempo, os “mil duzentos e sessenta dias”, que em interpretação literal representa mil duzentos e sessenta anos. Isso corresponde ao mesmo período de “tempos, tempo e metade de um tempo”. Isso sugere um mesmo momento profético. Conclui-se que a igreja foi perseguida durante esses mesmos mil duzentos e sessenta anos, período em que a Bíblia foi restrita à elite da Igreja Romana. Alguns intérpretes situam esse período entre 538 e 1798 d.C.
Assim, entende-se que a palavra “deserto” simboliza uma maldição, uma falta de prosperidade nas terras europeias durante a Idade Média. Esse foi o período em que o poder (a pequena ponta de Daniel 7) teve a capacidade de perseguir, eliminar e expulsar o povo de Deus dos territórios do Sacro Império Romano, conhecido como a Idade das Trevas, uma época em que o progresso cultural e científico praticamente estagnou.
Outra interpretação aplicável a esse contexto é considerar o “deserto” como áreas pouco habitadas. Portanto, os cristãos perseguidos em regiões mais desenvolvidas migraram para regiões menos populosas, que despertavam pouco interesse das autoridades romanas, onde poderiam viver em paz. Devido às interpretações simbólicas e literais das profecias apocalípticas, é altamente provável que uma explicação que englobe essas duas possibilidades seja a mais plausível.
Ainda existem mais elementos a serem desvendados, os quais nos auxiliam a compreender a profecia. A mulher parte para o deserto auxiliada por “duas asas da grande Águia” e permanece oculta da “visão da serpente”. Não é difícil compreender isso. Asas foram criadas para oferecer liberdade de movimento às aves. As aves não ficam confinadas por obstáculos naturais como montanhas, rios ou mares. Entre as aves, a Águia representa a máxima expressão de liberdade. A libertação de Israel do Egito é comparada a ser transportado “nas asas de águias”: “Vocês viram o que fiz aos egípcios, como os levei sobre asas de águias e os trouxe a mim;” (Êxodo 19:4). Um elemento intrigante nesse simbolismo é a inclusão de “duas asas da”, em vez de somente “asas da”. A profecia parece sugerir que haveria dois episódios de voo. A expressão “grande águia” deixa claro que se trata de uma liberdade de grande amplitude.
Reunindo os elementos mencionados em uma interpretação literal, podemos afirmar que a Igreja de Deus, após sofrer intensa perseguição em terras romanas, onde sua voz foi silenciada, alguns de seus membros buscaram novas terras para um recomeço. Inicialmente, encontraram refúgio nas regiões do norte da Europa e, posteriormente, na América. A verdade é que ela fica “oculta da visão da serpente”, representada pelo “dragão”. Ou seja, em termos concretos, ela se encontra fora do alcance do Império Romano.
A igreja é ajudada pela terra #
E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar. E a terra ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca, e tragou o rio que o dragão lançara da sua boca. (Apocalipse 12:15, 16)
Da boca da serpente emerge água, como se fosse um rio, que é absorvida pela boca da terra. Primeiramente, examinemos os novos elementos simbólicos presentes nesta parte da profecia: a boca, a água (ou rio) e a terra.
Primeiramente, o que simboliza a “boca”? A figura profética da boca aparece 18 vezes no Apocalipse. De maneira resumida, podemos mencionar a boca do dragão, da besta e do falso profeta (16:13), a boca da terra (12:16), a dos 144 mil (14:5), a das duas testemunhas (11:5) e a do cavaleiro branco (19:15). Essas passagens estão relacionadas a mensagens, doutrinas e ordens emitidas pelas entidades representadas. Ter uma boca significa possuir o poder de falar, comandar, dar ordens e estabelecer leis.
O termo “água” representa nações, povos e línguas. Em Apocalipse 17, temos a seguinte explicação: “As águas que você viu, onde a prostituta está sentada, são povos, multidões, nações e línguas.” (Apocalipse 17:15).
Quanto à palavra “terra”, ela é frequentemente utilizada no Apocalipse, embora sua simbologia seja abrangente, o contexto ajuda a compreendê-la. Por exemplo, “Todos os habitantes da terra a adorarão…” (Apocalipse 13:8); “Vi então subir da terra outra besta…” (Apocalipse 13:11); “Com a qual os reis da terra se prostituíram; e os habitantes da terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição.” (Apocalipse 17:2). Por enquanto, podemos considerar que a “terra” se refere à sociedade em si, seja uma sociedade específica ou geral.
Baseado nessa análise dos símbolos, podemos formular uma afirmação com sentido literal. Em resumo: as nações (“água”), sob ordem (“boca”) de povos pagãos (“dragão”), tentaram sufocar a igreja (“mulher”), mas uma nação específica (“terra”), emitindo uma ordem contrária (“boca”), evitou que a igreja chegasse ao fim. Interpretando essa afirmação historicamente: Roma emitiu uma ordem de expulsão de seu território para aqueles que não adotassem suas doutrinas, ameaçando com a morte quem não obedecesse. Diante da impossibilidade de viver nas terras romanas, muitos fiéis da Igreja migraram, entre outros lugares, para os Países Baixos, conhecidos atualmente como Holanda.
O fato de a Holanda ser um país cujas terras estão abaixo do nível do mar pode oferecer uma interpretação interessante da passagem do Apocalipse: “a terra abriu a boca e engoliu o rio”. Os rios seguem em direção às regiões mais baixas. As águas da Europa fluem em direção ao Rio Reno, que deságua no Mar do Norte após atravessar a Holanda. De forma semelhante, no plano histórico, houve uma significativa migração de protestantes para esse país. No entanto, essa interpretação é apenas uma perspectiva intrigante. A interpretação mais adequada da profecia é outra.
Tanto o “dragão” quanto a “terra” têm uma “boca”. Como já vimos, a “boca” é um símbolo de poder para emitir ordens, legislar, comandar, doutrinar, entre outros. Ao observarmos a história e compararmos a cultura política da Holanda com a de Roma, fica fácil compreender o que isso significa. Roma mantinha uma doutrina ditatorial e autoritária, enquanto a Holanda se tornou a primeira nação democrática do mundo. Dessa forma, a força das leis romanas encontrou uma barreira na contraparte da força política democrática que emergiu na Holanda. A doutrina democrática “engoliu” a doutrina autoritária. A igreja havia realizado seu primeiro voo de “águia” em direção à liberdade. A “terra” auxiliou a “mulher”. O segundo voo será para a América, fazendo uma escala na Inglaterra.
Os remanescentes da mulher #
E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo. (Apocalipse 12:17)
Frente à impossibilidade de destruir a “mulher”, a igreja que havia escapado da Europa, o dragão prosseguirá perseguindo e eliminando os fiéis que permaneceram em sua proximidade. Nenhum novo simbolismo é introduzido no versículo 17. O que este trecho nos apresenta é a ação do dragão em relação à mulher e à sua descendência.
Devemos compreender o significado de “remanescente”. Esse remanescente é a parte do povo fiel que não fugiu das terras europeias e foi alvo de perseguição e extermínio, seja por terem morrido por sua fé ou por terem renunciado a ela. No ápice do poder, somente uma perspectiva religiosa era tolerada: a de pertencer à única Igreja, a Católica. Quem não abraçasse seus dogmas enfrentava a expulsão do reino ou a eliminação. Como observamos anteriormente, muitos resistiram a essa imposição e preferiram partir. Contudo, outros optaram por permanecer e acabaram por ser aniquilados com o tempo. Algumas dessas comunidades sobrevivem até hoje, porém, suas doutrinas se assemelham mais à Igreja de Roma do que aos seus princípios originais. Consulte a lista abaixo.
No fim das contas, as doutrinas e práticas da igreja primitiva foram praticamente erradicadas da Europa. O que restou, sobreviveu em parte através daqueles remanescentes que persistiram em seguir “os mandamentos de Deus” e a “mensagem de Jesus Cristo”, até que fossem mortos ou dominados pelo “dragão” (Roma). Porém, uma réstia de esperança para encontrar uma igreja fiel permanecia em outras terras para onde a “mulher” havia fugido.
NOTA: “E o dragão ficou em pé sobre a areia do mar.” (Apocalipse 12:18) Nem todas as versões da Bíblia contêm esse versículo. Não examinei a razão dessa variação. Independentemente do motivo, esse texto parece estar em total consonância com a profecia. Portanto, a interpretação que podemos formular é que o “dragão” não conseguiu estender seu poder para além das terras europeias, mantendo-se restrito a esse continente.
Abaixo uma lista desses povos mais conhecidos:
Valdenses
Os Valdenses eram um movimento laico que surgiu no século XII, liderado por Pedro Valdo. Eles enfatizavam a simplicidade da vida cristã e a importância da pregação direta da Bíblia. Rejeitavam a riqueza da Igreja e a autoridade papal.
Crenças Principais: Enfatizavam a pobreza apostólica, a rejeição da riqueza material, a importância da pregação vernacular e a busca por uma vida mais próxima ao modelo dos primeiros cristãos.
Época: Século XII e em diante
Lollardos
Os Lollardos eram seguidores do pensamento de John Wycliffe na Inglaterra do século XIV. Eles criticavam a riqueza e o poder da Igreja, defendiam a leitura da Bíblia em inglês e questionavam a doutrina da transubstanciação na Eucaristia.
Crenças Principais: Enfatizavam a leitura da Bíblia em vernáculo, a rejeição da supremacia papal, a crítica à transubstanciação e a busca por uma igreja mais simples e humilde.
Época: Século XIV e início do século XV
Cátaros
Os Cátaros eram um grupo dualista que floresceu nos séculos XI a XIII, principalmente na região sul da França. Eles acreditavam em dois princípios supremos, um do bem e outro do mal, e rejeitavam as instituições da Igreja Católica como corruptas.
Crenças Principais: Acreditavam na dualidade entre o Deus bom e o Deus mau, rejeitavam o mundo material, defendiam uma vida ascética e criticavam a hierarquia da Igreja Católica.
Época: Séculos XI a XIII
Hussitas
Os Hussitas eram seguidores de Jan Hus na Boêmia do século XV. Jan Hus criticava a corrupção da Igreja, a venda de indulgências e pregava a comunhão sob as duas espécies (pão e vinho) para os leigos.
Crenças Principais: Defendiam a comunhão sob as duas espécies, condenavam a venda de indulgências, questionavam a autoridade papal e buscavam uma igreja mais próxima ao modelo apostólico.
Época: Início do século XV
Irmãos Morávios
Os Irmãos Morávios eram um movimento de renovação espiritual que surgiu no século XV na região da Morávia (atual República Tcheca). Eles enfatizavam a experiência pessoal com Deus, a oração e a unidade dos crentes.
Crenças Principais: Valorizavam a experiência pessoal com Deus, a vida de oração, a comunhão fraterna e o testemunho missionário.
Época: Século XV e em diante
Bogomilos
Os Bogomilos foram um grupo dualista que surgiu nos Bálcãs nos séculos X a XV. Eles acreditavam em um Deus bom e em um Deus mau, rejeitavam a materialidade e acreditavam que Jesus não tinha um corpo físico.
Crenças Principais: Enfatizavam a dualidade entre o Deus bom e o Deus mau, rejeitavam o mundo material, criticavam as hierarquias eclesiásticas e buscavam uma vida ascética.
Época: Séculos X a XV
Fraticelli
Os Fraticelli eram um movimento dissidente dentro da Ordem Franciscana, surgido no século XIII. Eles buscavam uma observância estrita da pobreza e criticavam a riqueza e o poder da Igreja.
Crenças Principais: Enfatizavam a pobreza radical, rejeitavam a propriedade e o poder eclesiástico, e buscavam uma vida mais próxima dos ensinamentos de São Francisco de Assis.
Época: Séculos XIII a XV
Beguinos
Os Beguinos eram grupos de mulheres e homens devotos que viviam vidas religiosas dedicadas à oração e à caridade. Surgiram no século XII e eram especialmente comuns nos Países Baixos e regiões próximas.
Crenças Principais: Valorizavam a vida dedicada à oração, à caridade e à vida comunitária. Não faziam votos monásticos formais, mas levavam uma vida de devoção religiosa.
Época: Séculos XII a XV
Irmãos Livres
Também conhecidos como “Irmãos do Espírito Livre”, esses grupos surgiram no século XIII na Alemanha. Eles enfatizavam a liberdade espiritual e criticavam a hierarquia da Igreja.
Crenças Principais: Buscavam uma relação pessoal com Deus, rejeitavam a autoridade clerical e a estrutura da Igreja, valorizavam a simplicidade e a liberdade espiritual.
Época: Séculos XIII a XV
Irmãos Apostólicos
Surgiram no século XIV na região dos Alpes. Eles buscavam uma vida simples e apostólica, rejeitavam o juramento e a propriedade privada, e pregavam a volta à vida dos primeiros apóstolos.
Crenças Principais: Enfatizavam a vida apostólica em comunidade, rejeitavam juramentos, propriedades e riqueza pessoal, e buscavam viver de acordo com os ensinamentos dos apóstolos.
Época: Séculos XIV e XV
Albigenses
Os Albigenses foram membros de um movimento religioso cátaro que se espalhou principalmente no sul da França, nos séculos XII e XIII. Eles rejeitavam as autoridades eclesiásticas e sacramentos da Igreja Católica, enfatizando a pureza espiritual e a ascetismo.
Crenças Principais: Acreditavam em uma dualidade entre o Deus bom e o Deus mau, rejeitavam as práticas sacramentais da Igreja, viam o mundo material como criação do Deus mau e buscavam uma vida ascética e espiritual.
Época: Séculos XII e XIII
Petrobrusianos
Os Petrobrusianos eram seguidores do líder religioso Pierre de Bruys, ativo no sul da França durante o século XII. Eles criticavam a adoração de relíquias, a construção de igrejas e enfatizavam a adoração interior e o abandono de práticas que consideravam contrárias aos ensinamentos bíblicos.
Crenças Principais: Rejeitavam a adoração de imagens e relíquias, não acreditavam na eficácia dos sacramentos, rejeitavam a necessidade de igrejas e valorizavam a adoração interior e a simplicidade.
Época: Século XII
Conclusão
Com base nas informações apresentadas, podemos concluir que a profecia da mulher e do dragão representa a longa história de luta e perseguição enfrentada pela congregação de Israel e pela igreja ao longo dos tempos, desde os tempos antigos no Egito, passando pela Assíria, Babilônia, Média, Grécia e Roma, até atingir o ápice durante o Sacro Império Romano.
A mulher simboliza o povo fiel a Deus, que inclui tanto os judeus na antiga aliança como os gentios na nova. Ela representa a religião da nação judaica que deu origem a um filho que foi arrebatado para Deus. Enquanto isso, a mulher fugiu para o deserto como uma forma de se proteger do dragão, que representa as forças políticas perseguidoras que representaram todos os povos que tentaram destruir os seguidores do Altíssimo.
A batalha nos “céus” entre Miguel e o dragão simboliza a luta do povo de Deus para preservar sua pureza espiritual diante das influências pagãs. No entanto, apesar de seus esforços, uma parte significativa de seus sacerdotes e ministros sucumbiu ao paganismo das nações vizinhas, principalmente durante o período do Império Romano, como previsto na profecia.
No entanto, o dragão foi finalmente derrotado e a Igreja de Deus foi preservada por 1260 anos, continuando seu caminho de santificação e pureza, e levando a mensagem do evangelho para o mundo.
A mulher também recebeu ajuda da “terra”, simbolizando um lugar no norte da Europa, especificamente os Países Baixos, ou Holanda, de onde ela conseguiu novamente disseminar a mensagem do evangelho. Isso incluiu a passagem pela Inglaterra, América e, finalmente, pelo mundo.
Embora muitos filhos da Igreja tenham deixado a Europa, aqueles que permaneceram sucumbiram, com o tempo, ao processo de apostasia que estava ocorrendo no continente. Portanto, hoje é quase impossível encontrar vestígios da “mulher vestida de sol” e seus “descendentes” neste local.
[1] TAKEUCHI, Crystian Nobuyuki Botelle. O centro do mundo na perspectiva de Mircea Eliade. Trabalho de conclusão de curso, Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas – Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Juiz de Fora, p. 10. 2017.
A BESTA QUE SOBE DO MAR #
E vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia. (Ap. 13:1)
Os símbolos desta profecia são: mar, besta, cabeças, chifres, diademas e um nome de blasfêmia. Antes de fazer a interpretação geral, vamos entender os conceitos particulares que envolvem esta trama. “Mar” tem significado de nações como em Apocalipse 17:15. “Besta” representa um poder político em específico, um império, por exemplo, (Dn. 7:17). “Cabeças”, também representam reinos menores, ou governos, (Ap. 7:9-10). “Chifres” são simbologias de reis, ou pequenos estados, (Ap. 17:12). “Diademas” é uma simbologia de que o poder está sendo exercido no momento. Ao contrário, quando não se tem a coroa é porque o poder real não é exercido no momento. Isto aconteceu quando Nabucodonosor invadiu Judá (Ez. 21:26). “Nome de blasfêmia” transmite a ideia de que uma autoridade age contra a verdade, justiça etc. O significado de “nome” como poder está no evento de Mateus 28:18-19, quando Jesus disse: todo o poder é me dado […], portanto, ide […] batizando em meu nome. “Blasfêmia” é falar contra uma autoridade digna, contra o poder de Deus, exemplificando. Isto vemos em Marcos 3:29: “Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo”.
Deste primeiro levantamento de significados, podemos traduzir a besta que sobe do mar, com sete cabeças, dez chifres com dez diademas e sobre suas cabeças um nome de blasfêmia para uma afirmação literal nas seguintes palavras: sete povos deram origem a um império dividido em dez nações, cujos reis exerciam poder. Retraduzindo para uma forma histórica, podemos dizer que: o Império Romano existiu de 168 a.C até 476 d.C, com base em sete reinos que o antecederam Babilônia (Nabucodonozor), 606 a.C a 538 a.C, Média-Pérsia (Ciro e Dario), 538 a.C a 323 a.C, e Grécia (Ptolomeu, Seleuco, Cassandro e Lisímaco), 323 a.C a 168 a.C, agora, em 476 d.C até 554 d.C, sob domínio de dez povos bárbaros, os Anglo-Saxões, Burgúndios, Francos, Hérulos, Hunos, Lombardos, Ostrogodos, Visigodos, Vândalos e Suevos.
O fim do domínio de Roma se dá quando os Hérulos, o último deles, através de seu comandante Odoacro, exterminaram o poder romano: “Em 476, Orestes recusou-se a conceder aos Hérulos, liderados por Odoacro, o status de federati. Odoacro então saqueou Roma e mandou a insígnia imperial para Constantinopla, se instalando como rei sobre a Itália. Embora alguns pontos isolados do governo romano continuassem até depois de 476, a cidade de Roma em si estava sob o comando dos bárbaros, e o controle de Roma sobre o Ocidente havia efetivamente acabado.” [1] A queda do Império Romano foi causada por uma série de fatores que o fragilizaram, facilitaram as invasões bárbaras e causaram a derrubada final do Estado. Em geral, a expressão ‘queda do Império Romano’ refere-se ao fim do Império Romano do Ocidente, ocorrido em 476 d.C., com a tomada de Roma pelos hérulos, uma vez que a parte oriental do Império, que posteriormente os historiadores denominariam Império Bizantino, continuou a existir por quase mil anos, até 1453, quando ocorreu a Queda de Constantinopla.”[2]
Para concretizar esta interpretação, podemos associar esta profecia com as profecias de Daniel. Se somarmos as cabeças existentes nos quatro animais do capítulo 7, totalizamos sete cabeças: 1 da Babilônia + 1 da Média Pérsia + 4 da Grécia + 1 de Roma. Isto indica que esta besta do Apocalipse se refere à mesma quarta besta de Daniel 7.
No Apocalipse 13, porém, a besta tem dez chifres com diademas. Este simbolismo indica que estamos falando do poderio dos reinos bárbaros. Os dez povos bárbaros assumiram o governo de Roma em substituição a qualquer outro tipo de domínio anterior. A indicação simbólica das coroas nos dez chifres é o de que o cumprimento desta profecia se dá a partir do ano 476, se estendendo até 554 d.C, quando o último destes povos sucumbiu ante os avanços bélicos de Justiniano. Diante destes detalhes, podemos aceitar, sem restrições, o ano 476 d.C como ponto de partida para o cumprimento da profecia sobre a besta que sobe do mar. Isto é importante para o encaixe dos próximos eventos históricos.
A última característica apresentada neste texto sobre a besta é o “nome de blasfêmia” sobre suas cabeças. A palavra “nome”, geralmente, está atrelada ao sentido de autoridade no Apocalipse. Isto indica que a autoridade e o poder exercidos pelo ente tem uma procedência contrária à vontade divina. Os nomes de blasfêmia se referem às características dadas a este império que só podiam ser atribuídas a Deus, ou a Jesus. Por exemplo, o imperador ser considerado o Pontífice Máximo. Os tratos e destratos que este imperador tinha com a religião cristã entre outras coisas.
E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio. (Ap. 13:2)
Outras características são apresentadas. O quarto reino, Império Romano, é o último reino humano antes do reino de Deus. Este reino herdou as características culturais de seus antecessores. A profecia retrata este processo histórico identificando esta besta com as características dos animais anteriores, conforme disposto nas profecias do livro de Daniel. Historicamente, Império Romano carregou consigo as características gregas, persas e babilônicas. Em linhas gerais, poderíamos destacar do Império Grego a velocidade das conquistas (leopardo), do Império Medo-Persa a capacidade militar (pés de urso) e o do Império Babilônico o estilo de governo (boca de leão). Daí que o Império Romano é a síntese dos impérios anteriores. Ele representava a evolução política, social e cultural da civilização humana até o momento.
“Roma Antiga é o nome dado à civilização que se desenvolveu na península Itálica durante o século VIII a.C. a partir da cidade de Roma. Durante os seus doze séculos de existência, a civilização romana transitou da monarquia para uma república oligárquica até se tornar num vasto império que dominou a Europa Ocidental e ao redor de todo o mar Mediterrâneo através da conquista e assimilação cultural.” [1]
Um detalhe importante que devemos evidenciar é a expressão “boca de leão”. Leão, na linguagem popular é o rei da selva devido a força de seu rugido. Os animais estremecem diante de tal imposição vocal deste feroz animal. O Império Romano de Justiniano carrega este simbolismo, que é caracterizado por sua capacidade de impor a ordem civil através daquilo que ficou conhecido como Corpus Juris Civillis, o novo Código Civil elaborado pelos melhores juristas do Império. Descrevendo o que foi este código, diz Becker:
“O jus naturale era considerado divino e achava-se, portanto, acima dos decretos humanos: conceito que haveria de difundir-se largamente, mais tarde, na filosofia medieval do Ocidente. Os juristas de Justiniano tendiam a atribuir-lhe os direitos de único e onipotente legislador, como se o povo tivesse delegado todos os seus poderes na pessoa do imperador. ‘Em outras palavras, o direito clássico romano estava sendo revisado, a fim de atender às necessidades do monarca oriental, cuja soberania só se limitava pela lei de Deus’”. Foi “o esforço mais extraordinário jamais feito para organizar uma sociedade segundo regras fixas e eqüitativas”.[2]
Foi debaixo deste Código que toda a sociedade romana adorou a besta, como veremos mais adiante.
A profecia fala que a besta recebeu do dragão o “seu trono” e o “seu poder”. Decifrar a realidade por trás destas representações é muito importante. A compreensão da história humana através da profecia, talvez, tenha aqui um de seus pontos mais formidáveis, porque nos dá uma luz sobre o que foi a civilização ocidental sob a égide da cultura romana.
Na profecia, o dragão é identificado como um Ser que tem o propósito de enganar, seduzir, desviar. Em Apocalipse 12:9, lemos: “Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos.” Em Apocalipse 20:3a, falando dele, diz: “E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações…” O dragão é o poder que comanda as nações. Em termos históricos, poderíamos falar que a cultura dos povos é a realidade por trás deste símbolo. Podemos, então, fazer uma previsão do poder da besta, uma vez que Satanás deu a ela o seu reino e um “grande poderio”.
A partir da queda de Roma o domínio imperial mudou definitivamente para o Oriente. A “besta” vai agir de Constantinopla sob influência do “dragão”. Foi o Império Bizantino que solidificou e sustentou o poder romano por mais alguns séculos. A parte ocidental, Roma, agora estava sob domínio dos povos Bárbaros e só recuperaria parte de sua influência séculos mais tarde com Carlos Magno. A besta que sobe do mar em Apocalipse 13 é o Império Romano Bizantino. Esta profecia apresenta como se constituiu o poder mais severo contra aqueles que faziam a vontade de Deus.
A chaga mortal #
E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta. (Ap. 13:3)
A besta tem uma cabeça ferida. Mas sua chaga mortal foi curada e, com isso, toda a terra seguiu a besta. Já sabemos quem é a besta e quem são suas cabeças. Precisamos descobrir o que significa “chaga” no contexto profético. No sentido real é perda de influência política e social. Vejamos alguns textos bíblicos.
“Portanto lhes dirás esta palavra: Os meus olhos derramem lágrimas de noite e de dia, e não cessem; porque a virgem, filha do meu povo, está gravemente ferida, de chaga mui dolorosa”. (Jeremias 14:17) “Porque te restaurarei a saúde, e te curarei as tuas chagas, diz o SENHOR; porquanto te chamaram a repudiada, dizendo: É Sião, já ninguém pergunta por ela. Assim diz o SENHOR: Eis que farei voltar do cativeiro as tendas de Jacó, e apiedar-me-ei das suas moradas; e a cidade será reedificada sobre o seu montão, e o palácio permanecerá como habitualmente”. (Jeremias 30:17-18) Estes textos do profeta Jeremias estão retratando a situação da cidade de Jerusalém quando ela não era mais uma cidade gloriosa, mas repudiada, que ninguém se interessava. Então, quando uma cidade, ou país, perde sua influência, sua glória, ela é considera como que tendo uma chaga, ou seja, está doente no sentido político e social. Podemos, então, entender qual o sentido da “chaga mortal” mortal numa das cabeças da besta.
A cabeça ferida para morte é Roma. Em 476, o Império Romano do Ocidente caiu, deixando de ter expressão política. Contudo, esta ausência de poder político em Roma foi remediada pela presença do imperador Justiniano em Constantinopla. Ele tomou uma série de medidas que garantiram a vida do Império Romano por muitos séculos. A principal delas e mais conhecida foi a elaboração de um novo código de leis. “Em seu governo, foi redigido o Código Justiniano, um sistema de leis básico que afirmava o poder ilimitado do imperador e, ao mesmo tempo, garantia a submissão dos escravos e colonos a seus senhores. Em seu governo, o regime político do império pode ser caracterizado como autocrático e burocrático. Autocrático, porque o imperador controlava todo o sistema político e religioso. Burocrático, porque uma vasta camada de funcionários públicos, dependentes e obedientes ao imperador, vigiava e controlava todos os aspectos da vida dos habitantes do império.” “Para garantir a centralização administrativa, Justiniano combateu o poder local dos grandes proprietários de terra e estabeleceu leis sólidas e eficazes, cujo cumprimento era rigorosamente fiscalizado pela burocracia, que contava com os militares.”[3]
O imperador Justiniano, com estas medidas, garantiu, de certa forma, uma sobrevida para Roma. Assim, como diz a profecia, “toda terra se maravilhou após a besta”. Isso também expressa a totalidade de seu governo como afirma a citação acima: “uma vasta camada de funcionários públicos, […], vigiava e controlava todos os aspectos da vida dos habitantes do império”.
Isto posto, conclui-se que este verso se refere ao que aconteceu com Roma na primeira metade do século VI, quando, depois de sofrer um abalo político no ano de 476, a cidade recompôs sua influência sobre a população do Império.
Adoração à besta #
E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? (Ap. 13:4).
São duas adorações: ao dragão e à besta. O povo romano iria se submeter à influência de dois entes espirituais que comungavam seus poderes. O poder do dragão, ou diabo, se estende a todas as nações da terra, pois segundo o texto bíblico, elas foram entregues a ele, (Lucas 4:5, 6). A adoração ao dragão pode ser entendida como a influência cultural das diversas nações dentro das fronteiras romanas e a adoração à besta é a obediência às novas leis do novo Estado Romano.
Desdobrando ainda mais esta simbologia, sobre o dragão é dito que se refere a satanás, como visto em Apocalipse 12:9. O elemento da realidade retratado pelo dragão é a cultura humana. Dragão, serpente, leviatã, monstro marinho são elementos utilizados pelos povos para representar a cultura estrangeira. No caso do Império Romano, dissemos acima, que ele absorveu as principais características dos impérios anteriores. O povo romano viveu sob o patrocínio de modos e costumes estranhos à sua cultura. Neste sentido, eles adoram o dragão porque ele trouxe tudo o que havia de outras civilizações para dentro das fronteiras romanas. Roma se fortaleceu se tornando a “urbs” do mundo. O Império Romano era um caldeirão cultural composto por diversas nações. Ele tinha força político-militar para obrigar o mundo a viver debaixo de seu comando. Neste sentido, o dragão deu à besta o seu poder. Respeitar as leis e ordens romanas era adoração ao dragão e, consequentemente, adoração à besta. Esta adoração se estabeleceu principalmente devido a uma nova organização do Direito Romano, da religião e da política e a consequente ampliação dos territórios ao longo do Mediterrâneo. Vejamos os fatos históricos.
“Justiniano tinha grande interesse pelas questões teológicas. Faltava apenas unificar a crença, transformar a Igreja em um instrumento homogêneo de domínio. Seu objetivo maior era unir o Oriente com o Ocidente por meio da religião. Seu programa político pode ser sintetizado numa breve fórmula: ´Um Estado, uma Lei, uma Igreja´. Justiniano procurou solidificar o monofisismo (doutrina elaborada por Eutiques, segundo a qual só havia uma natureza, a divina, em Cristo) […] Ao lado da religião, o direito romano ajudou a manter a unidade e a ordem imperial. Justiniano percebeu a importância de salvaguardar a herança do direito romano e, aproveitando a prosperidade econômica e comercial que lhe proporcionavam as novas conquistas, empreendeu um importante trabalho legislativo e de recompilação jurídica. A recompilação e reorganização das leis romanas tornou-se um dos marcos mais notáveis de sua administração, confiado a um colégio de dez juristas dirigido por Triboniano, cujos trabalhos duraram dez anos. Essa obra ficou conhecida como Corpus Iuris Civilis, sendo composta de quatro partes.”[4]
Esta simbologia do dragão entregando o seu poder à besta revela um momento histórico quando o Império Romano recompõe suas forças militares, políticas, jurídicas, sociais e territoriais depois de algumas décadas sofrendo ataques à sua estrutura social. O Império sob o comando de Justiniano estava novamente fortalecido para dominar mais uma vez um vasto território.
Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?
Foram os empenhos militar e administrativo de Justiniano que transformaram um Império quase exterminado numa nova potência. O Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, adquiriu força política, militar, administrativa e territorial de forma que não havia quem pudesse insurgir contra ele. Justiniano conquistou a Itália, norte da África e sul da Espanha, elaborou leis que submetia todos os cidadãos de seu domínio. Cumpria-se a palavra profética: “Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?” Vejamos um pouco mais desta história sobre a ampliação da força de Constantinopla.
Em primeiro de agosto de 527 d.C., sobe ao trono do Império Romano do Oriente, na cidade de Constantinopla, Justiniano, que inicia obra militar e legislativa. Pouco depois de assumir o poder, nomeia comissão de dez membros para compilar as constituições imperiais vigentes. […] Para garantir a centralização administrativa, Justiniano combateu o poder local dos grandes proprietários de terra e estabeleceu leis sólidas e eficazes, cujo cumprimento era rigorosamente fiscalizado pela burocracia, que contava com os militares. Em seu governo, foi redigido o Corpus Juris Civilis, um sistema de leis básico que afirmava o poder ilimitado do imperador e, ao mesmo tempo, garantia a submissão dos escravos e colonos a seus senhores. Em seu governo, o regime político do império pode ser caracterizado como autocrático e burocrático. Autocrático, porque o imperador controlava todo o sistema político e religioso. Burocrático, porque uma vasta camada de funcionários públicos, dependentes e obedientes ao imperador, vigiava e controlava todos os aspectos da vida dos habitantes do império. Esse poder não chegava a ser totalitário, porque o império era vasto e composto por povos de naturalidades e línguas diferentes, que conseguiam escapar do controle das autoridades imperiais e manter certas tradições culturais particulares.[5] […] No plano externo, a política de Justiniano teve como objetivo fundamental a tentativa de reconstrução do fragmentado Império Romano do Ocidente, que, desde 450, era vítima dos ataques dos bárbaros germânicos, e que havia sucumbido em 476. Ao sentido político e social dessa empreitada juntava-se o fator religioso, pois, para Justiniano, Roma continuava sendo o centro do mundo católico.[6] […] Justiniano empreendeu a recuperação do Ocidente. Seu primeiro objetivo foi acabar com os vândalos, no norte da África (533-534), onde acabara de surgir o clarão fulgurante de Santo Agostinho. O general Belisário dirigiu as campanhas com eficiência, conquistando Cartago, a Sicília, as ilhas Baleares e parte da costa levantina peninsular. Justiniano ordenou ao general Belisário que se lançasse à conquista da península Itálica, onde Teodorico, o Grande havia estabelecido o Reino Ostrogodo. Belisário dirigiu-se à Itália com o mesmo ânimo e rapidez das campanhas anteriores. Conquistou Roma (539) com relativa dificuldade devido à resistência ostrogoda e Ravena um ano mais tarde. Por um momento pareceu que as glórias do Império Romano poderiam reviver.[7] […] Com a ocupação de um amplo setor do sul da Espanha pelas tropas imperiais, em 554, o Mediterrâneo voltou a ficar sob o controle dos romanos – desta vez, porém, do Império do Oriente. O império alcançou sua máxima extensão.[8]
Estava consolidado o poder do Império Romano Oriental sob a liderança de Justiniano. Havia se tornado um reino forte, submetendo tudo e todos debaixo de seu poderio. Profeticamente, ninguém podia “batalhar contra ela”, a besta.
A boca da besta #
E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses. (Ap. 13:5)
O que é esta “boca” que a besta recebe? Já sabemos que a besta se trata do Império Romano Oriental, ou Bizantino. Identificar a boca importa primeiro saber o que ela significa em termos proféticos. A figura profética da boca aparece 18 vezes no Apocalipse. Em síntese, podemos destacar a boca do dragão, da besta e do falso profeta (16:13), boca da terra (12:16), dos 144 mil (14:5), das duas testemunhas (11:5), do cavaleiro branco (19:15). Estas passagens estão relacionadas com mensagens, doutrinas, ordens emitidas pelos entes representados. Quem tem uma boca, tem poder de falar, comandar, dar ordens, ditar leis.
A “boca” recebida pela besta foi o poder concedido ao Império Romano para proferir leis, no caso, leis religiosas. Este episódio profético teve seu cumprimento com o Decreto de Justiniano. Tal decreto colocava o bispo de Roma acima dos demais bispos do Império e o único capaz de corrigir quaisquer desvios nas práticas religiosas, dizia: “O Papa de Roma será o cabeça de todas as igrejas e corretor de hereges.”
A ordem estava contida no Corpus Juris Civilis, promulgado no ano 538. A partir de então, o poder dos bispos de Roma aumentou paulatinamente a ponto de séculos mais tarde se tornarem chefes de Estado, ditando toda espécie de normas e leis, que vieram através de diversos documentos oficiais, como: Carta Encíclica ou Encíclica, Encíclicas Epístolas, Constituição Apostólica, Exortação Apostólica, Breve apostólico, Carta Apostólica e a famosa Bula. Até os dias atuais, este sistema de promulgação de normas papais funciona no seio da Igreja Romana.
Esta atitude do imperador Justiniano foi o cumprimento histórico da “boca” dada à besta. A boca recebeu poder “para proferir grandes coisas e blasfêmias”. Historicamente foi o poder dado aos bispos de Roma para ditar normas sobre a cristandade. [Logo a seguir, nos comentários sobre o verso 6, falaremos mais detalhadamente sobre esta profecia. Por ora, vamos entender “o poder para agir por quarenta e dois meses”.]
42 meses ou 1260 anos #
A simbologia dos quarenta e dois meses aparece várias vezes na Bíblia, mas de diferentes formas. No Apocalipse aparece no capítulo 12: 6 e 14: ”…para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias”; “…onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente.” Em Daniel 7:25: “…e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo”; em 12:7: “…seria para um tempo, tempos e metade do tempo”. E a passagem em foco: “…quarenta e dois meses”. Todas estas passagens, embora tenham linguagem diferente, referem-se a um mesmo período. Todas elas são equivalentes a 1260 dias proféticos.
Aqui pode ser aplicado um princípio de interpretação que transforma esses dias em anos, daí teríamos 1260 anos literais. Vejamos como isso é possível. A própria linguagem bíblica nos autoriza a pensar assim. Em Números 14:34, diz: “Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu afastamento. Em Ezequiel 4:6: “E, quando tiveres cumprido estes dias, tornar-te-ás a deitar sobre o teu lado direito, e levarás a iniqüidade da casa de Judá quarenta dias; um dia te dei para cada ano.” Portanto, se tomamos a expressão “quarenta e dois meses” e aplicamos este princípio, teremos: 42 meses X 30 dias = 1.260 dias. Se aplicamos à expressão de Daniel e Apocalipse, “tempo, tempos e metade de tempo”, temos que “tempo” é igual a 1 ano, ou 12 meses, “tempos’ é igual a 2 anos, ou 24 meses, e “metade de tempo” meio ano, ou 6 meses, chegamos à mesma contagem de 42 meses, consequentemente aos mesmos 1.260 dias de Apocalipse 12. Em suma, estes “quarenta e dois meses” proféticos se referem a 1.260 anos históricos.
A contagem deve começar a partir do ano em que Justiniano promulgou o Corpus Iuris Civilis. Então, somando os 1260 anos literais, chegamos a 1798, quando o poder do Papa em ditar normas à sociedade sofre um profundo abalo com a sua prisão pelo general napoleônico Berthier. Este foi o período determinado na profecia em que a “boca” (leis papais) de Roma foi capaz de governar até mesmo os imperadores e reis. A partir de 1798 o poder papal ficou restrito ao mundo clerical.
E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu. (Ap. 13:6)
Este verso retrata as atitudes da besta ao abrir sua “boca” durante os 42 meses. A entidade romana, o papado, agiu determinando as normas de comportamento aos homens. Contudo, essas normas e leis não eram favoráveis a Deus. Na verdade, os homens agiram em nome de Deus, mas ensinando suas próprias doutrinas. Usaram da igreja de Deus para arregimentar pessoas sob o seu comando.
Blasfemar é falar contra, insultar a divindade, opor-se a Deus e à sua lei. Em termos práticos, trocar o sentido verdadeiro de um conceito divino por um falso, trocar a verdade pela mentira. Em Marcos 3:29 é dito: “Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo… não tem perdão”. Em Lucas 12:10 : “E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado.” Isso disse Jesus sobre os judeus que creditavam ao poder dos demônios as curas miraculosas pore Ele realizadas e não de Deus como fazia Jesus. Blasfêmia é, portanto, uma mensagem contrária à verdade.
A besta abriu a boca em blasfêmias contra Deus, menosprezando o nome de Deus, o tabernáculo e os que habitam no céu. Isto está, obviamente, em sentido figurado. Esta expressão é apenas um símbolo de uma realidade no mundo secular. No sentido literal, seria o mesmo que dizer que o Império Romano agiu contra Deus. Em resumo, ele agiu contra o poder de Deus, contra a sua igreja e contra as pessoas verdadeiras.
Quando compreendemos a história das doutrinas cristãs, perceberemos como se deu este processo contra Deus, seu nome, sua igreja e seu povo por parte do Império. São inúmeras mudanças em diversos ensinos, que a princípio pareciam inofensivas, mas que ao longo da história se tornaram marcas profundas contra a verdade de Deus. Foram mudanças na lei de Deus, na adoração, na oração, no batismo, entre outras. A que mais teve peso é a que estabeleceu um novo conceito da divindade. Este conceito se tornou o símbolo da religião que se levantou de Roma. Por exemplo, no Concílio de Calcedônia em 556, no qual havia muita ingerência de Justiniano, foram declarados 14 canônes cristológicos, dos quais, alguns são uma tentativa de reconceituar Cristo. Vejamos algumas:
“Se alguém não reconhece a única natureza ou substância (oysia) do Pai, Filho e Espírito Santo, sua única virtude e poder, uma Trindade consubstancial, uma só divindade adorada em três pessoas (hypostáseis) ou caracteres (prósôpa), seja anátema. Porque existe um só Deus e Pai, do qual procedem todas as coisas, e um só Senhor Jesus Cristo, através do qual são todas as coisas, e um só Espírito Santo, no qual estão todas as coisas.”
“Se alguém não confessar que aquele que foi crucificado na carne, Nosso Senhor Jesus Cristo, é o verdadeiro Deus e Senhor da glória, parte da santa Trindade, seja anátema.”
“Se alguém disser que existiu um Deus-Verbo, que fez os milagres, e um Outro Cristo, que sofreu, ou que Deus, o Verbo, estava com Cristo quando nasceu de uma mulher, ou que estava nele como uma pessoa em outra, e que ele não era um só e o mesmo Senhor Jesus Cristo, encarnado e feito homem, e que os milagres e os sofrimentos que ele suportou voluntariamente na carne não pertenciam à mesma pessoa, seja anátema.”[9]
Estes três canônes são um pequeno exemplo do agir da boca da besta contra Deus, contra seu tabernáculo e seus fiéis. Ela trocou o conceito da divindade entre outros ensinos. As novas concepções sobre as mais diversas ordenanças divinas se tornavam a norma hegemônica e aqueles que se ousassem se opor eram alvos das mais sangrentas perseguições.
O poder da besta #
E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação. (Ap. 13:7)
Antes de mais nada, dois aspectos desta profecia devem ser observados: primeiro, a guerra contra os santos e a vitória da besta; segundo, poder sobre toda nação. A “guerra aos santos” e o “poder sobre toda a língua, e poder, e nação” se cumprem durante a Idade Média com a supremacia papal e as guerras religiosas. Desde 476 d.C, o bispo de Roma gradativamente adquiriu influência sobre a sociedade romana, culminando na origem ao papado com o decreto de Justiniano, este influenciou a sociedade, até mesmo os reis foram subjugados. O poder do papado aumentou a ponto de obrigar que todos se convertessem a única religião aceita dentro das portas do Império.
Guerra aos santos #
A guerra aos santos, ou as perseguições religiosas, foi um aspecto da história cristã marcado por vários momentos de lutas entre a religião predominante e aqueles considerados hereges. Aqui neste estudo tratamos do período entre os anos 538 a 1798 d.C. Período em que a besta, “Sacro Império”, instigado por sua “boca” (bispos de Roma), perseguiu e matou aqueles considerados dissidentes da religião estatal.
Já nos tempos de Justiniano, o seu código degradou os judeus a cidadãos de segunda classe. A partir daqui a religião judaica deixaria de ser legítima. Alguns exemplos: Relações sexuais entre judeus e cristãos eram proibidas, sob pena de castigo severo; judeus deixaram de poder obter cargos públicos; alguém que ousasse construir uma sinagoga perderia os seus bens e seria punido com a morte.[10]
Séculos posteriores foram marcados por perseguições religiosas. As mais famosas são as Cruzadas que duraram mais de dois séculos. As Cruzadas foram movimentos militares, de caráter parcialmente cristão, que partiram da Europa Ocidental e cujo objetivo era colocar a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém sob a soberania dos cristãos. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos.[11] No médio oriente, as cruzadas foram chamadas de invasões francas: os povos locais viam estas peregrinações armadas como invasões; por outro lado, a maioria dos cruzados vinha dos antigos territórios do Império Carolíngio e ainda se auto-denominavam francos.[12]
As cruzadas foram batalhas contra inimigos externos. Mas, também houve batalhas contra os inimigos internos, considerados hereges pela religião oficial. Esta luta interna foi denominada de Santas Inquisições. “O condenado era muitas vezes responsabilizado por uma “crise da fé”, pestes, terremotos, doenças e miséria social, sendo entregue às autoridades do Estado, para que fosse punido. As penas variavam desde confisco de bens e perda de liberdade, até a pena de morte, muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena.[13]
“A Inquisição medieval, da qual derivam todas as demais, foi fundada em 1184 no Languedoc (sul da França) para combater a heresia dos cátaros ou albigenses. Em 1249, implantou-se também no reino de Aragão, como a primeira Inquisição estatal) e, já na Idade Moderna, com a união de Aragão e Castela, transformou-se na Inquisição espanhola (1478 – 1821), sob controle direto da monarquia hispânica, estendendo posteriormente sua atuação à América. A Inquisição portuguesa foi criada em 1536 e existiu até 1821). A Inquisição romana ou “Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício” existiu entre 1542 e 1965.”[14]
O momento mais indelével das Inquisições foi a famosa noite de São Bartolomeu. A. E. KNIGHT diz que “quando o sino deu sinal, todos os campanários de Paris responderam imediatamente, e a carnificina começou. Em todas as ruas ouvia-se agora o fogo dos mosqueteiros. Os huguenotes atacados de surpresa, não podiam oferecer resistência, e quando rompeu a manhã podiam se ver os cadáveres aos montes por toda a parte. O sangue enchia as ruas, e o rio Sena corria avermelhado. A manhã não fêz cessar aquela medonha obra, cena de carnificina. Isto durou quatro dias, e ao fim dêles os assassinos pararam por puro cansaço, tendo sido assassinados uns quinhentos protestantes nobres… e uns cinco a dez mil huguenotes. Mas a mortandade não acabou aqui. Estendeu-se pelas províncias, sendo dadas ordens a vários governadores magistrados para que exterminassem os hereges sem piedade. Disse um bispo católico: A quem mandam assassinar pertence ao meu rebanho. Eu não vejo no Evangelho que o pastor possa permitir que o sangue das suas ovelhas seja derramado… A carnificina nas províncias continuou por seis semanas, e o número de vítimas é diversamente calculado em cinqüenta, setenta e cem mil.”[15]
Estes depoimentos tipificam a história das perseguições religiosas ao longo dos 1260 anos de predomínio do cristianismo estatal de Roma. Durante este período, a besta fez guerra e venceu diversos povos considerados opositores, ou hereges, das doutrinas romanas.
Poder sobre toda nação #
A profecia ainda fala que a besta tinha poder “sobre toda a tribo, e língua, e nação”. O Império Romano havia perdido sua influência no Ocidente desde sua queda em 476 d.C. A sociedade ocidental não tinha um representante imperial. Os cidadãos romanos tinham que recorrer ao imperador oriental, do Império Bizantino. Roma estava vazia social e politicamente. Com o espaço político deixado em Roma, os bispos começaram a cumprir com funções estatais, pois era para lá que recorriam todas as pessoas necessitadas de algum tipo de ajuda em questões civis. Com o decreto de Justiniano e suas conquistas territoriais, o poder do Império Bizantino se estendeu para o Ocidente. Em Roma, os bispos, se tornaram uma espécie de representantes imperiais. Na Alta Idade Média, principalmente, após a coroação pelo papa de Carlos Magno como novo imperador do Ocidente, resultando na constituição daquele que veio a ser conhecido com Sacro Império Romano, o poder da besta realmente alcançou domínio sobre “toda a língua, e povo, e nação”.
Como falamos acima, o sistema papal (a boca da besta) gradativamente aumentou sua influência no Ocidente ao ponto de assumir uma postura superior até mesmo dos próprios reis. Esta influência sobre a sociedade alcançou seu auge entre os séculos XI e XII, momento marcado por uma grande disputa entre soberanos e papas, conhecida como querela das investiduras. Entende-se por querela, discussão, conflito, queixa.
A querela das investiduras foi um movimento no qual a Igreja protestava contra a nomeação de bispos e papas pelo Imperador. Na França, a Igreja manifestou-se exigindo maior autonomia, ela queria tomar o poder de escolha de seus membros. Para isso, em 1058 foi criado o Colégio dos Cardeais. O papa Nicolau II, seu criador, tinha como prioridade dar aos clérigos o direito soberano de escolha dos líderes religiosos. Em 1073, Gregório VII foi eleito pelo Colégio dos Cardeais para administrar a Igreja. Sua primeira ação foi reafirmar o voto de castidade entre os clérigos e proibir a Monarquia de indicar cargos religiosos.
Os conflitos entre reis e papas aumentaram. Henrique VII se revoltou contra o papa Gregório VII, este se opôs, depôs e excomungou o rei. Acuado, Henrique voltou atrás e pediu desculpas ao papa. Mais tarde, organizou seu exército para derrubar o pontífice, que enfraquecido, exilou-se na França. Esta luta foi resolvida em 1122 na Concordata de Worms. A partir de então, o imperador teria poder de nomear bispos com autoridade secular, mas não com autoridade sagrada. Ou seja, poderia nomear, mas não realizar a cerimônia religiosa. As práticas religiosas e as nomeações de cargos religiosos, no entanto, eram exclusivamente do papa.[16] Deste momento em diante, os papas exerceram poder cada vez maior durante mais ou menos três séculos, até que começou seu declínio no século XIV. Este período de poder dos papas ficou conhecido como supremacia papal.
Durante a supremacia papal, podemos destacar a influência de um dos papas mais importantes da igreja medieval, Inocêncio III. A história de sua relação com os povos europeus representa muito bem o que diz a profecia referente ao “poder sobre toda tribo, e língua, e nação”. Uma passagem rápida por sua biografia nos dará uma ideia bem clara de como esta profecia se cumpriu literalmente.
Inocêncio III elaborou uma obra de Teologia Política. Para ele, o papa está acima de todos os homens, apenas abaixo de Deus, e goza da ‘plenitude de poderes’ para o governo da Igreja, pois ele é o Vigário de Cristo. Assim, o papa exerce poder direto sobre os estados papais e sobre aqueles que prestam vassalagem e indireto sobre clérigos e a cristandade, até mesmo sobre reis e imperadores, permitindo interferir em assuntos políticos, podendo depor reis, príncipes e imperadores. Seu pontificado funcionou como última instância ética da Europa.
Inocêncio criou uma alegoria para explicar a ascendência do poder papal sobre o poder dos reis. Ele comparou o sol ao poder papal e a lua ao poder dos reis. Disse que assim como a lua recebe luz do sol, os reis recebem a luz do papa. E, quanto mais os reis aceitam a autoridade pontifícia, mas são ornados da luz maior.
Assim, já no sermão de Inocêncio no dia de sua coroação como papa, ele declarou: Quem sou eu e qual minha linhagem para que eu aceite um lugar acima dos reis? Pois para mim disseram os profetas: “Ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares”. E para mim disseram os apóstolos: “Eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo desligares na terra será desligado no céu”. O sucessor de São Pedro é o Vigário de Cristo, ele foi estabelecido como mediador entre Deus e o homem, abaixo de Deus e acima do homem, menor do que Deus, porém maior que o homem, julgando todos e não sendo julgado por ninguém, a não ser pelo Senhor.
Inocêncio possuía uma ideia muito “particular sobre o Sacro Império Romano-Germânico, sobre o qual considerava, justamente fundado pelo poder indireto da Igreja e do papa no século IX, que criou o Império para defender a fé católica, e, assim, para se tornar Imperador, que o líder do império dependia da aprovação, unção e coroação do papa”. A coroação dos imperadores pelos papas “gerou duas interpretações diferentes sobre o poder do imperador e do papa. Para os imperadores, especialmente da dinastia Hohenstaufen, era apenas uma benção, e não tinha nenhum valor jurídico. Já, para a Igreja e o papado, implicava que o candidato só se tornava imperador caso fosse ungido e coroado pelo papa. Inocêncio será um defensor dessa última posição.[17] É esta linha de pensamento que irá conduzir a sua atitude em relação aos reinos europeus.
O auge do poder do sacro imperador romano foi constituído em Henrique VI. Com sua morte um vácuo de poder foi deixado e o papa Inocêncio III aproveitou para reconstruir os estados papais, assumir o controle de Roma, e depois de longas batalhas contra os nobres alemães, recuperar a Sicília. De ora em diante, Inocêncio III passa a interferir no comando do Sacro Império que estava diante de uma disputa interna de poder.
Inocêncio III se mostrou neutro num primeiro momento, mas depois se manifestou a favor de Otão IV. Filipe da Suábia protestou energicamente contra o papa, mas a resposta veio por meio do decreto Venerabilem. Nesse decreto, Inocêncio reconhecia que o direito de eleger o líder do Sacro Império pertencia aos príncipes e senhores eleitores, por costume. Porém essa eleição tornaria o líder apenas rei da Germânia, é somente sua unção e coroação em seguida pelo papa que o torna verdadeiramente imperador. Inocêncio também defende que é direito do papa, como consagrador do rei, examinar a pessoa eleita e invalidar a eleição, se necessário. Do mesmo modo, defendeu que, em caso de dupla eleição imperial, após certo tempo, o papa poderia favorecer um candidato, Inocêncio justificou esse direito por considerar a Igreja a fundadora do Sacro Império. Ao fim de muitas disputas entre os soberanos e o papa, o reino ficou com Frederico II, que “devido a sua educação e proximidade com Inocêncio, é considerado o elo capital de uma nova ordem social que dissolveu as querelas entre o Sacro Império e o papado, e especialmente entre a dinastia Hohenstaufen e os papas”. Assim, Inocêncio se tornou o grande vitorioso e o artífice dessa nova ordem, mostrando seu poder sob o mais importante estado da Europa.[18]
Inocêncio teve um papel fundamental na política do Reino da Inglaterra, que se tornou um feudo papal. Depois de uma disputa entre o Rei João sobre a eleição do arcebispo de Cantuária, o papa ameaça o rei João de excomunhão, e o Reino da Inglaterra com um interdito. Inocêncio convoca Filipe II da França para invadir a Inglaterra, mas o Rei João se arrependeu e se tornou vassalo do Papa, que adquiriu poder para interferir no governo inglês.
Sobre a França, Inocêncio III promoveu um interdito. A razão para tal foi o divórcio do Rei Felipe II. Também, promoveu um aliado seu como reitor da Universidade de Paris.
A Península Ibérica era dividida em cinco estados. Havia muitas uniões matrimoniais entre os monarcas ibéricos, o que a lei canônica da igreja proibia. Estes abusos matrimoniais existentes foram duramente punidos por Inocêncio, que interveio nos reinos de Aragão e Leão. Pedro II desejando ser coroado pelo papa, partiu para Roma, jurou fidelidade a Igreja, depositou no altar da Basílica de São Pedro o cetro e a coroa. Ali, Pedro entregou o Reino de Aragão a Inocêncio e seus sucessores, declarando-se vassalo do papa e comprometendo-se a pagar uma renda de 250 masmodines (moeda espanhola).
Sobre outros reinos europeus, Inocêncio também interferiu política e religiosamente de forma muito mais frequente e eficaz que seus antecessores ou sucessores. Ele criou uma verdadeira “feudalidade papal” e se tornando suserano da Inglaterra, Portugal, Aragão, Dinamarca, Polônia, Hungria, Dalmácia e de vários outros territórios.[19]
A história da relação entre o papado e as nações europeias não se resume a estes poucos episódios. Contudo, estes casos aqui comentados são suficientes para expressar a força do pontífice de Roma. A influência papal se estendeu sobre toda a terra, quando no período das Grandes Navegações, a igreja avança com seu domínio espiritual sobre o novo mundo, domínio que continua até nossos dias.
Notadamente, a profecia se cumpriu conforme falado em Apocalipse 13:7. Durante um período de mais de 1.000 anos, os papas, muitas vezes humilharam os reis. Exemplo, o episódio de Canossa, quando, em pleno inverno europeu, durante três dias, diante da casa do papa, o rei Henrique IV se humilhou para pedir perdão ao pontífice romano.
De fato, a besta (Império Romano) alçou poder sobre toda a terra com apoio da boca (papal) que recebeu para ditar leis e normas aos homens. Ela fez guerra aos santos e os venceu por um período de 42 meses proféticos, ou seja, 1260 anos literais entre os séculos V ao XVIII.
Adoração à besta #
E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Ap. 13:8)
Este é um ponto importante da profecia. Praticamente todos os cristãos não estão atualizados com as informações contidas neste trecho profético. Esta profecia afeta diretamente nossas vidas até os dias de hoje.
O foco desta parte da profecia é a “adoração” à besta. Os adoradores não são todas as pessoas, mas somente aquelas cujo nomes não estão “no livro da vida do Cordeiro”. A palavra-chave desta profecia é “adoração”. Compreender seu sentido simbólico e profético é de suma importância para o entendimento de muitas outras profecias sobre a besta. Os cristãos em geral têm lido esta palavra somente no seu sentido imediato, que significa prestar louvor. Mas, “adoração” em Apocalipse 13:8 está num ambiente profético, totalmente simbólico, e, por isso, esta palavra não pode funcionar em seu sentido primário. Há um campo semântico a ser encontrado. Necessário, então, uma breve exploração do seu sentido na linguagem bíblica.
A palavra “adoração” na Bíblia está associada a atitude de inclinar-se. Vejamos Salmos 95:6: “Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Eterno que nos criou.” Aqui ela está no seu sentido imediato para a época, não simbólico. Em outra passagem bíblica, Jesus falou sobre adoração: “Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”, (Mateus 15:9). Entende-se que doutrinar é uma forma de regrar o comportamento. Assim, podemos entender que ensinar a doutrina humana inutiliza a verdadeira adoração a Deus.
Num outro momento, quando Jesus foi tentado pelo diabo, este pediu que o adorasse: “E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”, Mateus 4:9. Prostrar-se diante de alguém que reconhecemos maior, implica entender que tal autoridade tem poder sobre nós para impor regras. Era assim que procediam os homens na antiguidade quando se viam diante de um rei. O diabo queria este reconhecimento, mas Jesus não lhe obedeceu. Se acaso tivesse feito isso, o diabo seria seu senhor, e mesmo que Jesus não o reverenciasse naquele momento, mas pecasse em outro, a soberania de satanás sobre Jesus seria estabelecida, porque teria se dobrado diante da vontade do inimigo.
No tempo de Isaías, os judeus desobedeciam às regras de Deus, não o reconheciam como Soberano sobre suas vidas, mesmo assim se apresentavam para O adorar. Deus condenou todo o sistema de culto, ofertas, sacrifícios, sábados, luas novas e reunião solene. Isso era abominação e Deus pediu mudança de atitude: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”, (Isaías 1:16,17). Portanto, adorar a Deus em verdade, significa obedecer a Ele, deixando o mal e fazendo o bem ao próximo.
Depreendemos disso uma relação direta entre adoração a Deus e a obediência à sua lei. No caso de reverência a um homem, respeito e obediência àquele que reconhecemos como superior. No caso de adoração à besta, respeito e obediência a ela. Mediante o exposto, a palavra “adoração” no contexto do Apocalipse tem uma conotação diferente de apenas prestação de louvor. Ela representa a obediência civil (às leis) que a sociedade romana prestou ao Império Bizantino.
Indo para a história, sabemos que a sociedade romana ocidental estava há muito tempo sem um chefe civil. Desde 476 quando foi deposto o último imperador, não havia alguém a quem se pudesse recorrer na busca de soluções para os problemas sociais. O sistema judiciário não funcionava com a ausência de governo. Mas, o panorama mudou com a reorganização do Código Civil de Justiniano. Este código de leis permitiu uma nova estrutura civil ao Império Bizantino, como também, à sociedade do decaído Império Romano Ocidental. Com o estabelecimento do domínio bizantino sobre a parte ocidental do Império, contando, principalmente, com apoio do sistema religioso católico, que a este tempo se encontrava muito bem estabelecido em Roma, as leis justinianas foram implantadas no ocidente, obrigando toda a sociedade romana a se curvar diante de seus éditos. Assim, eles adoraram a besta ao seguir as determinações imperiais.
Foi exatamente assim que aconteceu. De “350 a.C. 500, os bispos, ou papas, de Roma, aumentavam constantemente sua autoridade através da intervenção consistente em apoio aos líderes ortodoxos nas disputas teológicas, o que incentivava apelos a eles. O imperador Justiniano, que nas áreas sob seu controle estabeleceu definitivamente uma forma de cesaropapismo, na qual ‘ele tinha o direito e o dever de regulamentar por suas leis os mínimos detalhes de culto e disciplina, e também de ditar as opiniões teológicas para restabelecer o poder imperial sobre Roma e outras partes do Ocidente, iniciando o período denominado papado bizantino (537-752), durante o qual os bispos de Roma, ou papas, exigiam a aprovação do imperador em Constantinopla ou de seu representante em Ravena para a consagração, e a maioria era selecionada pelo imperador por seus súditos de língua grega…”[20]
O verso 3 de Apocalipse 12 fala de uma “cabeça ferida de morte” e esta foi a queda de Roma. Tanto no verso 3, como no verso 8, temos expressões idênticas mostrando quem é que se submeteu à besta. No verso 3 diz que “toda a terra se maravilhou após a besta”, aqui no verso 8 diz “todos os que habitam sobre a terra”. A expressão do verso 3 está no contexto político. A expressão do verso 8 num contexto religioso. Isto é, no primeiro caso, o Império Bizantino (a besta) atuou por seu sistema político para requerer a obediência civil e, no segundo caso, através de seu sistema religioso (a boca da besta), a igreja universal. De fato, o apoio católico neste processo de aceitação do domínio bizantino sobre os territórios do antigo Império Ocidental foi fundamental.
Sem dúvida, segundo o que podemos ver através da história, o mais importante “legado do Império Romano do Ocidente é a Igreja Católica Romana. A Igreja vagarosamente começou a substituir as instituições romanas no Ocidente, até ajudando na segurança de Roma no final do século V. Quando Roma foi invadida pelas tribos Germânicas, muitos bárbaros assimilaram o cristianismo, e no meio do período medieval (século IX e século X), as partes central, norte e ocidental da Europa já haviam largamente aceitado a fé Católica Romana e aceitavam o Papa como o Vigário de Cristo.”[21]
A história também nos mostra que houve, em certo grau, um casamento perfeito entre o poder civil do Império e o poder eclesiástico da igreja. De um lado, o Império impondo sua força e, por outro lado, a igreja validando o uso deste poder. O imperador aprovava os bispos e estes os imperadores. Diante de tal conjuntura, não somente a “chaga mortal” da besta foi curada, como também “todos que habitam” e “toda a terra” a adorou. E, apesar desta profecia ter seu cumprimento entre os séculos VI e X, esta “adoração” (obediência civil) se estendeu pelo futuro da sociedade européia e depois mundial através destes dois legados: a Igreja Católica e o Direito Romano. Até os dias de hoje, há uma “adoração”, um respeito, pelos códigos jurídicos e religiosos advindos destas duas instituições. Do Direito Romano, a inspiração para o Direito Moderno. Já, a Igreja Católica, apesar de seu recrudescimento com o fim da Era Imperial, ainda detém muita influência sobre o mundo religioso. Continuam controlando aqueles “cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”.
Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a paciência e a fé dos santos. (Ap. 13:9,10)
Estes versos marcam o desfecho desta profecia sobre a besta que sobe do mar. Não há muito o que desvendar desta parte, mas ainda podemos extrair algumas informações. Primeiramente, um pedido de atenção e entendimento para aqueles que “tem ouvidos” para ouvir. Depois, a justiça que virá sobre a besta, “se alguém leva em cativeiro” necessário que também seja levado; “se matar à espada” o mesmo juízo virá. Por último, uma informação sobre a existência daqueles que se mantém fiéis.
A tradução destas três informações para uma linguagem mais próxima de nosso entendimento, pode ser feita nas seguintes palavras: que tenhamos a capacidade de entender que a justiça será feita contra a besta, assim como ela combateu e destruiu os fiéis através das muitas guerras (“espada”), pela guerra ela seria destruída, e mesmo diante de tantos ataques contra os verdadeiros servos de Deus, eles não seriam destruídos, permaneceriam pacientes, fiéis e persistentes. A verdadeira fé não acabou porque a besta perseguiu o povo de Deus. Mas, a besta que “subiu do mar” acabou em 1806 com a queda de seu último bastião, o Sacro Império Romano Germânico.
FIM
E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. 2 Pedro 1:19
REFERÊNCIAS:
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Romano_do_Ocidente
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_imp%C3%A9rio_romano
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Justiniano_I
[4] https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/. Acessado em 06/02/2021.
[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/Justiniano. Acessado em 06/02/2021,
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] Idem.
[9] https://pt.wikipedia.org/wiki/Segundo_Concílio_de_Constantinopla. Acessado em 20 fev, 2021.
[10] https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpus_Juris_Civilis. Acessado em 27 fev, 2021,
[11] https://www.sohistoria.com.br. Acessado em 27, fev 2021.
[12] https://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada. Acessado em 27 fev, 2021.
[13] http://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisição. Acessado em 27 fev, 2021.
[14] https://portalcafebrasil.com.br. Acessado em 27 fev, 2021.
[15] Knight, A. E.; Anglin, Willian. História do cristianismo. Terezópolis, 1995, p. 270, 271.
[16] Wikipedia.
[17] PAPA INOCÊNCIO III. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: Acesso em: 8 nov. 2020.
[18] PAPA INOCÊNCIO III. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: Acesso em: 8 nov. 2020.
[19] PAPA INOCÊNCIO III. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: Acesso em: 8 nov. 2020.
[20] https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Católica. Acessado em 03 de abr de 2021.
[21] https://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Romano_do_Ocidente. Acessado em 03 abr de 2021.
A BESTA QUE SOBE DA TERRA #
Antes de tudo, é importante saber que a profecia do Apocalipse refere-se às características mais notórias da história. Sendo assim, quando procuramos na bibliografia os fatos históricos, nos preocupamos com os acontecimentos mais relevantes para determinado período. Isto é mais do que suficiente para encontrarmos a explicação substancial de qualquer profecia.
Como vamos estudar apenas a besta que sobe da terra (Apocalipse 13:11-18), de antemão, é bom saber que os versos anteriores, Apocalipse 13:1-10, retratam aspectos do Antigo Império Romano. Então, considerado a seqüencia da narrativa profética, temos que buscar a explicação dos versos 11 a 18, na história imediatamente posterior à queda do Império Romano. A interpretação tem que casar a seqüencia da narrativa profética com a seqüência da narrativa histórica. Não devemos, a bel prazer associarmos com qualquer outro momento da história. Outra forma que não siga esta condição básica é torcer a interpretação. Assim, se os versos 1 a 10 falam do Império Romano, os versos de 11 a 18 falam do Sacro Império Romano. Ele é o reino que se seguiu ao Império Romano. Esta é a seqüencia da história e também a seqüência da profecia. Como ficará comprovado.
A besta que sobe da terra #
E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão. (Verso 11)
A besta. Significa um reino, uma nação, um povo, conforme Daniel 7:17.[1] Está em evidência o Sacro Império Romano (800-1806).[2] O Sacro Império Romano teve duas fases: primeiro como Império Franco (800-911), iniciado em Carlos Magno e depois como Império Germânico (962-1806), iniciado em Oto I.[3] Ele surgiu como restauração do Antigo Império Romano (168 a.C – 476.d.C), que havia caído sob as levantes bárbaras.[4]
Na citação que segue, confirma que o surgimento do Império Franco foi a restauração do Antigo Império Romano. “Não é de surpreender, por conseguinte, que o Papa Leão II (795-816), grande devedor de Carlos Magno, em virtude da proteção por este concedida contra as ameaças dos nobres romanos, houvesse colocado sobre a fronte do rei dos francos a coroa imperial romana, na igreja de São Pedro, no dia de Natal de 800. Tanto para o povo romano que presenciara a cerimônia como para o Ocidente em geral, era a restauração do império do Ocidente, o qual durante séculos estivera sob o poder do governante sediado em Constantinopla. O ato colocou Carlos Magno na grande linha sucessória que remontava a Augusto. Atribuiu também ao império caráter teocrático. Inesperadamente – e, na época, não muito ao gosto de Carlos Magno – era a encarnação visível de um grande ideal. O Império Romano, imaginava-se nunca morrera, e agora a sagração havia sido concedida da parte de Deus, pelas mãos do seu representante, a um imperador ocidental.” (Walker, p. 267).
Subiu da terra. Porque ocupou o território da outra besta, o Antigo Império Romano. Descarta-se a, então, possibilidade de ser os Estados Unidos, Israel e qualquer outra nação.
Tinha dois chifres de cordeiro. Os chifres representam poderes. Veja Daniel 7:24. Neste caso, os poderes espirituais e temporais exercidos pelos imperadores, que se consideravam representantes de Deus na terra. Os imperadores agiam ao mesmo tempo como reis e sacerdotes. Eles submetiam a Igreja a seu domínio. Mais tarde, o papado assumiu estas características e passou a submeter os imperadores à sua vontade. Esta passagem, também pode ser entendida, sem prejuízo nenhum, como o poder dos imperadores e o poder dos papas separadamente. A característica de “cordeiro” é pelo fato de ser um reino cristianizado.
A História mostra o imperador como um sacerdote-rei, portanto, com poderes temporais e espirituais. “Durante o reinado de Carlos Magno, a igreja esteve submetida ao poder imperial, pois Carlos Magno considerava-se ao mesmo tempo rei e sacerdote” (Arruda). “O monarca encarava o seu novo papel como algo bem diferente daquele dos antigos romanos, pois via-se não apenas como imperador, mas como um imperador cristão.” (Banfiel, p. 69) “Raras vezes um homem teve tanto poder, seja espiritual ou temporal, ou conseguira realizar tantos feitos.” (Banfiel, p. 75)
E falava como dragão. Várias vezes aparecem no Apocalipse expressões como “boca”, “vozes”, “falar” etc. sempre ligados com uma mensagem. Os quatro animais falaram (Apoc. 6:1), os “trovões” falaram (Apoc. 10:4), a primeira “besta” recebeu uma boca para falar (Apo. 13:5). “Falar” é a condição para se emitir uma ordem. Então, “falar” é uma figura de ordenar, ou de legislar. “Dragão” é a cultura das nações (Apoc. 12:9, 13:1). Apesar de se considerar cristão, o Sacro Império Romano elaborou muitas leis com base na cultura pagã e impunha aos homens como se elas fossem divinas. O grande mérito de Magno foi o de legislador e dedicou-se imensamente a codificar as leis de diversos povos e a compor sermões, nos quais exortava o povo à obediência das leis da igreja. O papado também emitiu muitas ordenanças, principalmente religiosas, que misturavam os ensinamentos pagãos com os cristãos. Por essas características históricas é que a besta “falava como dragão”.
O imperador legislou com base na cultura pagã e ensinou o povo a obediência a Igreja. A História comprova que o Império Franco é a besta de chifres semelhantes ao de cordeiro, mas que falavam como dragão. “O grande mérito de Carlos Magno foi sobretudo o do legislador.” (Pierrard, p. 72). “Dedicou-se intensamente à codificação e ao esclarecimento das leis dos diferentes povos sobre os quais reinava, para que tais leis pudessem ser interpretadas com mais facilidade.” No final de sua vida “passou a dedicar a energia que lhe restava à composição de longos sermões, nos quais exortava seu povo à humildade e também à obediência das leis da Igreja.” (Banfiel, p. 70)
Ficou claro. Estas passagens retratam o surgimento do Império Franco, com seu rei Carlos Magno. Ele era o sacerdote-rei de um reino teocrático e legislava tanto no aspecto temporal como no espiritual. Profecia cumprida.
E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. (Verso 12)
Todo poder da primeira besta na sua presença. Significa governar com a mesma autoridade e no mesmo território do Antigo Império Romano. Não podia governar através do mar onde Roma nunca tinha governado. Novamente, descarta-se qualquer outra nação que não esteja em território europeu.
Adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. “Chaga” significa ausência de poder político, ou falta de influência de qualquer ordem. Veja Jeremias 30:17. O fato é que não existia imperador em Roma desde o final do século V, somente em Constantinopla, no Oriente. Roma não tinha influência política. A coroação de Carlos Magno fez renascer a sucessão de imperadores no ocidente, curando a “chaga mortal”, da cabeça ferida para morte da primeira besta. A sociedade européia da Idade Média, que há muito tempo não tinha um imperador, voltava a ser governada como no tempo dos césares, reabilitando o poder de Roma, mesmo que este governo não era sediado na cidade, mas era em “na sua presença”.
Longa vida e vitória a Carlos Augusto, coroado por Deus, poderoso imperador dos romanos e amante da paz! (…) Era o renascimento de uma antiga tradição de acordo com a qual se sagrava o imperador de Roma. Desde o assassinato de Oreste em 476, mais de trezentos anos antes, isso não acontecia. Mas naquele momento Roma escolhia um novo imperador. Nascia, assim, o Sacro Império Romano.” (Banfiel, p. 65)
Voltemos à citação de Walker acima que comprova a restauração de Roma. “Tanto para o povo romano que presenciara a cerimônia como para o Ocidente em geral, era a restauração do império do Ocidente, o qual durante séculos estivera sob o poder do governante sediado em Constantinopla. O ato colocou Carlos Magno na grande linha sucessória que remontava a Augusto.”
Não há dúvida, o Sacro Império Romano era igual ao império dos césares, com a mesma autoridade e no mesmo território. Na verdade, “trazia” de volta aos romanos o Antigo Império, que deveras nunca morrera do coração dos latinos. A “chaga mortal” era curada.
E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. (Verso 13)
E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. “Grandes sinais” são grandes acontecimentos históricos. Muitos estudiosos entendem que são curas milagrosas realizadas por seres humanos e que desce fogo literal do céu. Isto não pode ser, pois a besta é um reino, não uma pessoa. Portanto, estes sinais não são curas humanas, ou qualquer coisa do gênero, se referem a outra coisa. Devemos buscar o sentido. Estes sinais foram reformas religiosas e culturais lideradas por Carlos Magno e principalmente pelas abadias de Cluny, Cister e Clairvaux. Pois, os “sinais” estão relacionados com “fogo”.
Então, a palavra-chave a ser entendida é “fogo”. Em muitos lugares da Bíblia a palavra é empregada no sentido de conhecimento e sabedoria. Veja estas passagens em sua bíblia: Daniel 12:3; Mateus 5:14; 13:43; Atos 13:47; João 1:9; II Coríntios 4:6; Mateus 3:11; Lucas 12:49; Salmos 39:3. O fogo literal produz a luz, o brilho. A evolução da cultura é um fenômeno do espírito do conhecimento humano e também é retratada literalmente como luz, brilho etc. Os sinais operados pela besta de 2 chifres são as reformas culturais e ascéticas que o imperadores e abades promoveram em contraposição ao mundo de trevas que reinava. Basta entendermos os significado do “fogo” para concordarmos com a história. É muito fácil entender os motivos destas reformas. As invasões bárbaras trouxeram a decadência da cultura romana, dando origem à Idade das Trevas. Poucos homens, naquele tempo, sabiam ler ou escrever, inclusive o próprio imperador Carlos Magno. As trevas se amontoavam sobre o cristianismo. Também, a Igreja estava totalmente corrompida por causa do comportamento de seus clérigos. Muitos bispos eram instituídos por dinheiro, a chamada simonia, e outros com casamentos irregulares, o nicolaísmo. As reformas vieram para corrigir este estado de ignorância do povo e podridão religiosa. A efervescência cultural e religiosa que se espalhou por toda a Europa por volta do ano 1000 é o cumprimento dos “grandes sinais” operados pela besta que até “fogo” fez descer do “céu”.
As trevas que se amontoavam sobre o cristianismo iam-se tornando cada vez mais espessas à proporção que os anos iam passando, e no princípio do século sétimo a ignorância do clero e a superstição do povo eram extraordinárias. O decreto de Gregório o Grande, pelo qual se impedia a continuação dos estudos profanos, produziu este resultado deplorável, cuja importância se podia avaliar pelo fato de que muitos padres nem sabiam escrever seus próprios nomes. A língua grega estava quase esquecida; até a Bíblia pouco se lia.” (Knigth, p. 90).
Embora fosse um homem de ação e de comportamento rude, Carlos dava muita importância ao desenvolvimento intelectual e ao enriquecimento da alma. (…) Ansioso por difundir o conhecimento, fundou uma escola no palácio para a qual convidou os sábios de todo o reino (…) e usou a própria escola do palácio para treinar professores, que iram se estabelecer nas escolas fundadas nas muitas abadias que havia pelo reino. Essas abadias, residência e lugar de oração dos monges, eram também centros de cultura e conhecimento.” (Banfiel, p. 51)
Já é suficiente para entender que este “fogo” é o conhecimento disseminado pelo Sacro Império Romano. Mas, veja estas citações em que o próprio historiador coloca a cultura como um brilho. Os destaques são nossos.
Quando Carlos Magno subiu ao trono, as escolas mais importantes da Europa ocidental eram ligadas aos mosteiros das Ilhas Britânicas. Foi na Inglaterra que o genial monarca mandou buscar o seu principal assistente intelectual e literário. Alcuíno (735?-804), que havia estudado em York, onde provavelmente nasceu. De 781 até a data de sua morte, excetuados breves períodos de interrupção, foi o principal auxiliar de Carlos Magno na obra de promoção de um verdadeiro renascimento da cultura clássica e bíblica, a qual atribuiu ao reinado um brilho jamais visto antes, e elevou a vida intelectual do Estado Franco.” (Walker, p. 268)
Carlos Magno reinou durante uma época que, devido à decadência acentuada na educação, nas artes e na ciência, ficou conhecida na História como Idade das Trevas. Mas, naquela longa noite de barbarismo, seu reino fulgurou com uma tocha incandescente, iluminando a escuridão. O incentivo à difusão do conhecimento, da ciência e da literatura, os esforços para tornar a Igreja um centro de unidade e cultura, a consolidação das leis e dos hábitos diferentes culturas existentes no seu império, tudo isso deixou uma marca indelével nas gerações que o sucederam”. (Banfiel, p. 77) “No entanto, na medida em que se tornava mais evidente a derrocada do império de Carlos Magno, desvaneciam-se não só essas controvérsias, como também a vida intelectual da qual haviam brotado. Por volta de 900, um novo barbarismo extinguiu quase que por completo a luz que brilhara um século antes.” (Walker. p. 271)
Mas havia algo a mais neste “fogo”. Ele descia do “céu”. E o que isto acrescenta? Que este “fogo” está relacionado com o celestial, com coisas divinas. Neste caso, especificamente, o ensino da teologia bíblica, e de certa forma, também com a vida ascética dos monges. O ensino da teologia nas abadias e catedrais fez surgir um movimento chamado escolasticismo, que foi um método de estudo da Bíblia com base nas filosofias platônicas. O escolasticismo é o “fogo” que desceu do “céu”.
Era um método de pesquisa filosófica e teológica que objetivava uma melhor compreensão dos preceitos cristãos pelo processo da definição e da argumentação sistemática (…) Os escritos de Aristóteles (traduzidos do grego para o latim por Boécio) e de Santo Agostinho tiveram papel de destaque no desenvolvimento do pensamento escolástico.” (Nova Enciclopédia Ilustrada Folha, v. 1, p. 306)
Vamos ver algumas passagens da história que comprovam isso. “A preocupação [de Carlos Magno] com a educação dos francos se devia em grande parte à importância que dava ao bem estar espiritual e moral, e um dos principais objetivos das escolas que fundara era divulgar a leitura da Bíblia.” (Banfiel, p. 54) Mais tarde, “por volta dos primeiros anos do século X, iniciava-se um verdadeiro reavivamento ascético da religião. Durante mais de dois séculos esse reavivamento haveria de crescer em força. Seu primeiro exemplo eminente foi a fundação, em 910, do mosteiro de Cluny.” (Walker, p. 283) Por volta do século XIII, “seguindo o espírito geral da época, as escolas em vários lugares se associaram: formaram professores e alunos uma corporação, com o nome de universidades. A primeira de todas, e mais célebre, foi a de Paris, que chegou a ter muitas centenas de alunos, procedentes de diversos países. (…) Começadas no fim do século XII, as universidades logo se multiplicaram: em menos de dois séculos contavam-se na Europa cerca de cinqüenta…” (Silva. p. 215) “E com este aumento, iniciou-se a aplicação dos métodos da lógica ou da dialética na discussão dos problemas teológicos, o que resultou em novo e fértil desenvolvimento intelectual”. (Walker, p. 232)
Entre discórdias e diversos pontos de vista teológicos, a filosofia neoplatônica foi aplicada ao estudo da Bíblia. “Uma combinação do uso moderado do método dialético com intenso misticismo neoplatônico se encontra na obra de Hugo de S. Vitor (1097-1141)”. O método filosófico do estudo de Deus tomou conta em São Tomás de Aquino. “Segundo Aquino, com quem o escolasticismo alcançou o apogeu, o alvo de toda investigação teológica é proporcionar conhecimento de Deus e da origem e destino do homem. Esse conhecimento se obtém, ao menos em parte, pela razão – teologia natural. Entanto essa conquista da razão não é completa. É necessária que seja ampliada pela revelação. Esta se encontra nas Escrituras, que são a única autoridade final. São elas, porém, entendidas à luz da interpretação dos concílios e dos Pais.” (Walker, p. 343)
Os “grandes sinais” operados pela besta são as reformas culturais no Santo Império Romano. Sendo grandes, são notáveis na história. Estes sinais são as reformas carolíngia e cluniense que a História registra como os feitos mais fabulosos ocorridos no seio do Sacro Império. Ela fez “fogo” descer do “céu à terra, à vista dos homens”, significando que eles seriam iluminados por conhecimentos relacionados com o divino, porém, mas estes não se baseavam unicamente na Bíblia, mas em filosofia humana.
A imagem da besta #
E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta. (Verso 14 e 15)
Engana os que habitam na terra. Quem tem o conhecimento, tem maior poder de enganar. Estes sinais, como entendido acima, são as reformas culturais. Estas reformas resultaram na criação das escolas nos monastérios e catedrais e também criaram um verdadeiro exército de monges, que utilizavam os métodos filosóficos dialéticos neoplatônicos para adquirir conhecimento. Com este conhecimento, eles passaram a controlar a população laica. Foi a partir do sistema educacional estabelecido nos monastérios que a “besta” enganava os que “habitam na terra”.
Vamos entender a influência que este sistema deteve sobre o povo laico. No duodécimo século, as abadias se alastraram pela Europa. Cluny era a mais influente. Cister e Clairvaux também estavam entre as influentes. Cluny era uma abadia-mãe com mais de 2.000 abadias afiliadas. Além destas três principais, houveram muitas outras abadias que formavam o sistema monástico. Nas abadias e catedrais, professores se multiplicavam e se rodeavam de alunos. Um tal de Abelardo, cônego de Notre Dame, tinha tantos seguidores como jamais um conferencista conseguira ter, segundo Walker.
Cluny foi o resultado da doação de terras de um rico senhor feudal para a construção de um monastério autônomo a qualquer autoridade civil ou religiosa. Foi governada por uma série de abades notáveis, tornando-se de uma inovação no sistema monasterial. Cluny granjeou tanta influência quanto veio ser as ordens dos dominicanos e jesuítas mais tarde.
Foi considerável a influência da ordem cluniense sobre a civilização ocidental, a tal ponto que, sem exagerar, era possível falar de ´centro real da Igreja` e de ´espiritual da Europa` (…) foi através de seus antigos monges tornados papas que Cluny agiu mais fortemente sobre uma cristandade enfraquecida.” (Pierrard, p. 81 e 82)
Dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta. Ela, a “besta”, o Sacro Império Romano, representada por seus funcionários públicos, que em sua imensa maioria eram os monges, que formavam a elite pensante, incutiu na mente da população laica, inclusive dos funcionários seculares, que não podiam ser comparados em conhecimento com os clérigos, a idéia de uma república cristã onde o papa seria o supremo rei e sacerdote de toda a humanidade, como eram os antigos césares romanos.
Hildebrando foi o maior articulador deste projeto. “Os seus planos eram mais vastos, e, num sentido, menos egoístas; só a instituição de uma permanente hierarquia, com autoridade ilimitada sobre todos os povos e reinos na face da terra, poderia satisfazer a sua ambição. Sim ele, queria organizar um poderoso estado eclesiástico, que governasse os destinos dos homens – uma poderosa teocracia ou oligarquia espiritual, com o poder de instruir o povo nos seus dogmas infalíveis, para obrigar as suas consciências a dar força à sua obediência; um estado cujo governador fosse supremo sobre todos os governadores do mundo, elegendo e depondo reis à sua vontade – pondo interdição a províncias e reinos inteiros, e sem que ninguém ousasse opor-se a isto – em suma, um vice-regente de Deus na terra, que não pudesse errar, de quem se não pudesse apelar!” (Knight, p. 128)
Pouco a pouco, forma-se entre as elites pensantes – que eram todas da Igreja – a idéia da criação de uma República Christiana que, sistematicamente, introduziria noções evangélicas no Direito e nas instituições. Esse império, herdeiro do império romano, deveria ser colocado nas mãos de um homem que a Providência designaria ao papa – que, depois de Gregório o Grande, aparecia como a mais alta autoridade do antigo mundo romano.” (Pierrard, p. 69)
A igreja era a instituição universal da época e o Papa como seu cabeça exercia em conseqüência tão grande autoridade do que qualquer outro aspirante. Em muitos sentidos, na verdade, a igreja era comparada com o Antigo Império Romano, cujo território e organização administrativa tinha se sobreposto e (…) Todos consideravam o Papa como consideravam o Imperador. A igreja tinha estes sistema legal e interno. O clero secular correspondendo para a administração burocrática do Império e à cabeça centro de tudo isto assistindo sobre o mundo inteiro, interferindo em tudo, exercendo (poder) temporal também quanto autoridade espiritual, recebendo notícias, perguntas e apelos de todas as partes e reservando para si mesmo a solução de todas as questões, em último recurso, estabelecendo Inocêncio III com a autoridade de um Trajano ou um Diocleciano.” (Lynn Thondyke. The history of medival, p. 434,435. Citado por Remington)
A influência intelectual dos monges, a participação do clero na administração pública, o poderio econômico da Igreja, a importância política que os sistemas monasteriais possuíam, os planos políticos e eclesiásticos que elaboraram, implicou-se na construção de uma “imagem à besta”. Os clérigos detinham poder sobre a sociedade e “enganavam” seus habitantes, dizendo que elaborassem um governo semelhante ao romano, que tinha um sacerdote-rei sobre os homens. Isto foi conseguido depois de 250 anos de muita luta entre o papado e os poderes temporais. Em Hildebrando (1073) o papado se firmava como o soberano da Europa. Era a “imagem da besta”, só faltava falar.
Concedido que desse espírito à imagem da besta, para que a imagem da falasse, e fizesse que fossem mortos os que não adorassem a imagem da besta. Deus soprou seu espírito no homem ele se tornou alma viva, (conforme Gênesis 2:7). Dar espírito significa dar vida própria, autonomia de vida. Este “espírito”, autonomia, se deu através da transferência gradual de poder das mãos dos imperadores para o papado. As ordens monásticas serviram de base para este processo. Foi na abadia de Cluny que se concretizou a idéia da supremacia papal e foi resultado de um secular debate. A questão central era sobre o direito de instituir poder aos bispos: era do papa, ou do imperador? O papado obteve, até certo ponto, a vitória e passou a controlar os bispos. Como estes eram em sua imensa maioria senhores feudais, ou agentes do governo, boa parte das terras da Europa, bem como uma imensa força política ficou sob a tutela do papa. A partir daí, o sistema administrativo papal alcançou um grau de aperfeiçoamento tal que era superior ao do Antigo Império Romano. Com mais poder, a “imagem da besta” estava pronta para “falar”, isto é, criar leis, ordens e normas para a sociedade. O ápice deste poder de “falar” da “besta” foi a Santa Inquisição, quando ela fez com que fossem mortos “os que não adorassem a imagem da besta”.
O papado livrou-se da influência dos imperadores, depois de um longo debate em torno da questão da eleição papal, dos bispos e demais clérigos, conhecida na história como “a querela das investiduras”. O teor desta questão era a influência do poder temporal sobre o espiritual e vice-versa. Até Henrique III foram os imperadores que nomearam os papas e bispos. Mas com sua morte, deixando em seu lugar um filho com apenas seis anos, o papado aproveitou para reverter a situação, nomeando Hildebrando como papa através do Colégio de Cardeais. Vejamos como foi este processo.
No final da Alta Idade Média, a igreja começou a libertar-se da dominação política. Iniciou-se, então, um período de supremacia do poder espiritual sobre o poder político, que se estenderia pela Baixa Idade Média” (Arruda, p. 344) “Sem controle sobre os bispos, o imperador perdia o controle sobre os duques. Ao mesmo tempo, uma grande parcela das terras da Alemanha passava para o controle da Igreja. Começava o período de supremacia do poder papal sobre o poder político dos governantes da Europa; essa supremacia se acentuou-se mais no período seguinte, a Baixa Idade Média.” (Arruda, p. 348)
As instituições políticas romanas baseavam-se nas cidades, das quais dependiam as regiões rurais circunvizinhas. A organização cristã seguiu a mesma regra. Os distritos rurais dependiam dos bispos das cidades ou elementos por eles nomeados, e por eles pastoreados exceto nos casos em que haviam ´bispos rurais`, como no Ocidente (…) Por volta do século VI deparamos com a origem do sistema paroquial na França (…) Ali o sistema expandiu rapidamente, sendo estimulado pelo costume de os grandes proprietários de terras fundarem igrejas (…) Além disso, ao tempo dos primeiros carolíngios, graças as constantes doações de terras, as propriedades da Igreja haviam crescido ao ponto de ocuparem um terço da área da França (…) Carlos Magno renovou e expandiu o sistema metropolitano, que havia caído em desuso. No começo do seu reinado havia um único metropolita em todo o reino franco. No fim, o número havia atingido vinte e dois. Os metropolitas passara a ser chamados em geral de arcebispados.” (Walker, p. 271 e 272)
A igreja integrou-se ao sistema feudal através dos mosteiros, cujas características se assemelham às dos domínios dos senhores feudais (…) A ruralização da economia da Idade Média obrigou a Igreja a deslocar-se para o campo. Os bispados e os abades se transformaram em verdadeiros senhores feudais (…) Além disso, a Igreja tinha o monopólio da cultura. Saber ler e escrever, na Idade Média, era um privilégio de bispos, padres monges. Dessa forma, os membros do clero começaram a participar da administração pública, exercendo as funções de notários, secretários, chanceleres. A organização dos domínios da Igreja atingiu um grau bastante aperfeiçoado. Era um modelo que os membros da nobreza leiga não conseguiam imitar. Além da autoridade moral, a Igreja começava a exercer influência na administração financeira dos principados medievais.” (Arruda, p. 339, 367)
Esta transferência gradual de poder das mãos dos imperadores para o papado deu vida à imagem da besta. Antes eram os imperadores que escolhiam os bispos de seu reino e elegiam o papa. Agora, os papas já controlavam os abades que dominavam boa parcela das terras da Europa. Era a supremacia papal estabelecida. A partir de então, eles, os papas já não mais se submeteriam aos imperadores e iriam fazer o que bem entendessem, excomungando reis e interditando reinos. Veja o caso de humilhação do Imperador Henrique IV quando suplicava o perdão do papa.
A resposta de Hildebrando tornou-se um dos mais famosos decretos papais da Idade Média. No sínodo romano de 26 de fevereiro de 1076 excomungou Henrique, negou-lhe a autoridade sobre a Alemanha e a Itália, e absolveu todos os seus súditos dos seus juramentos de lealdade. Foi a mais ousada afirmação de autoridade papal jamais feita.” (Walker, p. 296)
A excomunhão de Henrique o obrigou a ir, em pleno inverno, a Canossa onde se encontrava o papa, e depois de três dias de penitência com pés descalços no portão do castelo foi recebido pelo papa graças a intercessão de alguns amigos. Este foi o maior ato de humilhação sofrido por um rei medieval ante o poder da Igreja. Inocêncio III (1198) não foi menos feliz na humilhação dos imperadores. Interditou a França e a Inglaterra e excomungou o Rei João, galgando o cimo do poder terreno.
A imagem da besta falou, isto é, criou leis que obrigavam os homens a uma obediência irrestrita ao sistema de governo papal. Quem não obedecesse seria morto. A Santa Inquisição foi um meio idealizado para descobrir quem eram os “fora-da-lei”. Este foi o mais terrível tribunal que a humanidade pode conhecer. Não havia direito de defesa.
Mas quando Inocêncio III subiu ao trono de S. Pedro no ano de 1198, ele resolveu suprimir o movimento ´herético`. A máquina que o Papa inventou para este fim, foi a ´Santa Inquisição` e seu instrumento foi Guzman Domingos, um espanhol, depois canonizado e conhecido como São Domingos. No princípio foi usado para esmagar a fé dos Albigenses nas províncias no sul da França, mas espalhou rapidamente a outros países com Alemanha, Boemia, Itália e Espanha. O papa Inocêncio IV, no ano 1252, aprovou o uso de tortura para extorquir confissões.” (Knight, p. 171)
Desde de 1229 a ´Santa Inquisição` tornou-se a máquina mais formidável de tirania religiosa que o mundo jamais vira. Seus procedimentos deram-se em segredo, advogados não eram permitidos, nem testemunhas chamadas. O motivo foi de extorquir confissões de crime ou heresias por meio de abatimento moral e físico da vítima. Para obter este fim os meios mais iníquos e revoltosos foram empregados sem escrúpulo. Foram usados sutilezas, mentira, engano e tortura mais cruel. Eram três graus de castigo. Aqueles que fizessem submissão completa era admitidos à penitência. Aqueles que não deram satisfação completa foram encarcerados para a vida. Todos os que recusaram a confessar foram condenados a ser queimados.” (Knight, p. 171 e 172)
Quanto à Igreja, para extirpar a heresia, teve que recorrer à Inquisição, que, depois do processo de investigações, havia tomado, ao tempo de Lúcio III (1184), uma forma mais precisa: os heréticos obstinados já poderiam ser entregues, pelos juízes da Igreja, à autoridade secular, mas apenas no século XIII, quando uma severa inquisição monástica foi instituída pela Santa Sé, com a ajuda das ordens mendicantes, a expressão ´braço secular` e a condenação à morte na fogueira passaram definitivamente para a legislação e o vocabulário inquisitoriais.” (Pierrard, p. 102)
A inquisição se desenvolveu rapidamente até se tornar um órgão temível. Agia secretamente, os nomes dos acusadores não eram levados ao conhecimento dos prisioneiros os quais por uma bula de Inocêncio IV, datada de 1252, eram passíveis de tortura. O confisco dos bens do confessante era um dos seus mais odiosos e economicamente destrutivos aspectos. E sendo as autoridades seculares participantes deles, fez com que fosse mantido vivo o fogo da perseguição, que de outro modo se extinguiria.” (Walker, p. 325)
A “imagem da besta” foi um sistema de governo elaborado pela sociedade européia semelhante ao governo do Antigo Império. Teve o apoio da sociedade em geral, mais precisamente a sociedade clerical. A formação deste sistema foi um processo gradativo que durou do século IX até por fins do século XI. Através do movimento escolástico, com o apoio intelectual do sistema monasterial que também tinha a propriedade de boa porção das terras européias, foi incutido na mente da sociedade a idéia de uma república cristã. Isto contribuiu para a vitória papal na questão da investidura dos bispos. A influência papal sobre o clero aumentou enquanto a dos imperadores diminuiu. O sistema papal ganhou forças para promulgar leis. Quem não se submetesse a estas ordenanças da Igreja era passivo de tortura e até morte na fogueira. A “imagem da besta” estava consolidada e fazia que fossem mortos os que não adorassem.
O sinal da besta #
E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis. (Versos 16-18)
E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos. Esta parte nada mais é do que a totalização da sociedade. O sistema de governo da “besta” tinha poder sobre todos os cidadãos. Os papas usaram muito bem este poder através da excomunhão e interdição. Excomunhão se aplicava a uma pessoa e interdição a um reino.
Lhes seja posto um sinal na sua mão direita. O sinal na mão é simbologia de prática, ação e obras. A mão, na imensa maioria das vezes que aparece na Bíblia, tem este sentido e também um valor simbólico. Veja I Timóteo 2:8, Mateus 27:24. Muitas outras passagens mostram que “mão” figura uma prática, ou alguma ação, ou obra com algum sentido. Mão, nesta profecia, simboliza obras. O que identificava uma pessoa como adoradora da “imagem da besta” era seu comportamento coerente com as leis ordenadas por ela. Literalmente, se trata de práticas católicas.
Ou nas suas testas. Ser marcado na testa é uma simbologia de que a pessoa entendeu, compreendeu e aceitou alguma idéia, seja religiosa ou não, boa ou má, santa ou profana. Pois, tanto os salvos como os perdidos recebem o sinal na testa. Veja Apocalipse 7:3, 9:4 e 14:1. O sinal era primeiro observado nas ações cotidianas, (sinal nas mãos). Caso, isto não fosse evidente para a sociedade, a pessoa seria inquirida pelo tribunal da Santa Inquisição. Ela devia, então, confessar sua crença (confirmando o sinal na testa) nos dogmas da Igreja. De toda forma, as pessoas não somente aceitaram mentalmente como, também, suas ações concretas foram no sentido desta crença. Fé e prática juntas.
Para que ninguém possa comprar ou vender. O sinal servia para controlar o comércio. No tempo em que o Sacro Império esteve debaixo do controle papal, ser rico era uma heresia. O comércio foi proibido pelo Direito Canônico. Segundo este documento quem fizesse isto tinha cometido um crime condenado pelo próprio Cristo. A usura foi considerada um mal ainda pior.
A condenação do lucro no comércio era muito natural num sistema que produzia apenas para o consumo, e em que o comércio, realizado em épocas de calamidade, somente traria problemas. Isso porque os comerciantes inescrupulosos poderiam aproveitar-se da situação, se a Igreja não os tivesse ameaçado com as penas do inferno.” (Arruda, p. 367)
Senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Isto significa se identificar como um cidadão romano. Ter o “sinal” era uma identificação cultural e ter o “nome” era uma identificação civil. O “número” provém do nome, veremos mais detalhes à frente. Noutras palavras, as pessoas aceitavam a idéia de pertencer à Igreja Romana e se comportavam como membros dela. Foi através da Igreja Católica Romana medieval com seus credos e suas práticas religiosas que tudo aconteceu. De forma, que não havia como viver naquela sociedade sem respeitar os códigos espirituais da Igreja. A Igreja era a instituição universal da época. Ser católico era obrigação de todos, ou a única coisa que uma pessoa tinha como direito. As pessoas aceitavam o catolicismo, ou tinham que ir embora do reino.
Pessoas ou grupos religiosos que não comungavam do mesmo pensamento eram perseguidos, excomungados e expulsos, e aqueles que comungassem com eles eram ameaçados também: “Nós, A IGREJA ROMANA, … ordenamos e exigimos que os Valdenses, Sabatistas, a quem os chama ´os pobres do Lión, e todos outros hereges que não podem ser enumerados, sejam excomungados da Santa Igreja… e saiam fora de nosso Reino e de todos nossos domínios. Todos os que, de agora em diante intentem receber aos mencionados Valdenses Sabatinos, e alguns outros hereges de qualquer profissão, dentro de suas casas, ou assistir a seus perniciosos cultos, ou os dêem mantimentos, ou os favoreçam de alguma maneira, incorrerão na indignação do Deus Todo-poderoso”. From Jones’ Church History (Copiado da História da Igreja por Jones), Diretório de Inquisidores, “Decreto do Ildefonso, ano 1194 D. de C.)[5]
Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem. A besta é um reino. O número não pode ser atribuído a um ser humano. E, mesmo que fosse uma pessoa, não poderia ser quem não viveu no Sacro Império. Nem mesmo o nome de um papa pode ser utilizado. Quanto menos o nome de Jesus Cristo, como alguns querem. Se alguns nomes de pessoas resultam em 666, não quer dizer que ela seja a Besta do Apocalipse, ou que tenha alguma ligação espiritual. O número provém do cálculo do nome da besta (reino), não do nome de pessoas. O número é utilizado para identificar quem marca, não quem é marcado. Isto sim, tem sentido! Quem tinha poder para marcar era a autoridade máxima dentro do Sacro Império Romano. Este poder era perseguidor da igreja. Deus não podia identificá-lo abertamente, por isso, usou de um código (uma criptografia) que seria encontrado através de um cálculo realizado pelos membros da igreja. Sendo assim, o sinal não é visível, um chip, por exemplo, como pensam muitos. O sinal já estava na besta, bastava identificá-lo. Foi isto que o povo de Deus fez. Calculou o número da besta e com o conhecimento deste código foi capaz de livrar-se das perseguições, fugindo para o deserto, ou seja isolando-se da sociedade romana. O resultado do cálculo, o número 666, é utilizado para identificar o poder de um homem. No mínimo, então, é de bom senso utilizar o “nome” (título/autoridade) atribuído a um cargo de governo dentro do Sacro Império Romano, pois a palavra “nome” é, muitas vezes, aplicada na Bíblia com o sentido de autoridade. E, este cargo tem que ser único, pois a Bíblia diz: “um homem”. O quer dizer que ocupa posição ímpar na sociedade.
E o seu número é seiscentos e sessenta e seis. O papado (cargo único na terra) responde perfeitamente por esta simbologia, pois a soma dos valores numéricos dos títulos atribuídos aos papas dá este número. Várias fórmulas de cálculo são sugeridas. Entre elas: VICARIVS FILII DEI (vigário filho de Deus), VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS (vigário geral de Deus na Terra), LATINVS REX SACERDOS (sacerdote e rei latino) e DVX CLERI (guia do clero). Utilizando o sistema de números romanos onde: D = 500, C = 100, L = 50, X = 10, V = 5 e I = 1, todos os títulos acima somam 666.
Concluindo. Quem recebeu o sinal? Aqueles que se identificaram como romanos, que viveram debaixo da autoridade do Sacro Império Romano, que aceitaram o papa como legítimo representante de Deus na Terra, que aceitaram o catolicismo com suas doutrinas e se comportaram em estrita obediência ao sistema vigente. Receberam o sinal aqueles que desejaram viver em paz dentro das fronteiras do Sacro Império Romano. Nos dias de hoje, também estão assinalados aqueles que não abandonaram aquelas crenças e práticas. “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pedados, e para que não incorras nas suas pragas” (Apocalipse 18:4), esse é o recado de Deus para aqueles que lá estão.
Em suma, isto é suficiente para entendermos que a besta de 2 chifres foi o Sacro Império Romano, que sua imagem foi o sistema papal governando como os antigos césares e que seu sinal era o comportamento ou crença que identifica a pessoa com o catolicismo romano.
Há tantas especulações sobre o sinal da besta no meio religioso. Em sua imensa maioria interpretações não apoiadas no esquema profético e histórico dado pela Bíblia. Deus deu a profecia e sua interpretação. Veja isto no livro de Daniel capítulo 2 e 4, nos capítulos 7 e 8, em Apocalipse 17. Em todos estes casos houve um anjo interpretando a profecia. Nós devemos seguir o esquema dado pela Bíblia e apenas juntar a história e tudo é revelado.
Bibliografia
WALKER, Williston. História da igreja cristã, p. 264. ed. especial. vol. I e II Juerp : Rio de Janeiro, 1980.
ARRUDA, José Jobson A. História antiga e medieval. Ática : São Paulo, 1976.
BANFIEL, Susan. Os grande líderes. Nova Cultural : São Paulo, 1988.
PIERRE, Pierard. História da igreja. Edições Paulinas : São Paulo, 1983.
KNIGHT, A. E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 3 ed. Casa Editora Evangélica : Terezópolis, 1955.
SILVA, Joaquim, PENNA, J. B. Damasco. História geral. Companhia das Letras : São Paulo, 1970.
NOVA ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA FOLHA. Folha da manhã : São Paulo, 1996.
THONDIKE, Lynn. The history of medival. [?] : [?], [1917]. (Citado)
REMINGTON, E.R. The beast and his image. Traduzido: A besta e sua imagem. Meridian : Church of God Publishing House.
Nota: este estudo poderá sofrer algumas atualizações futuras, mas nada que alterará seu conteúdo central. Serão atualizações de texto, inserção ou extração de alguma citação, algumas argumentações poderão ser acrescentadas. Atualizações para deixar cada vez mais compreensível a explicação. Principalmente, se houverem críticas que forcem a atualização.
[1] Para melhor entender as profecias, conheça o estudo: Símbolos em profecia.
[2] Conheça a versão ampliada do estudo A besta de 2 chifres. Nele você terá contato com mais argumentos e depoimentos da história.
[3] Para melhor entender, conheça o estudo: A besta de Apocalipse 17.
[4] Conheça o estudo: As bestas de Daniel e Apocalipse.
[5] Retirado de http://sites.google.com/site/ogidnet/Home/quem-somos/nossahistoria no dia 14/01/2010
* Este artigo é uma ampliação e adaptação do livreto “The beast and his image” de E. R. Remington, publicado pela Church Publishing House, Meridian, Idaho.
A BESTA ESCARLATA #
Este artigo tem o propósito de apresentar uma interpretação sobre Apocalipse 17. Este capítulo da Bíblia fala de uma batalha do Cordeiro contra os reis da Terra, porém seu tema central é a destruição da “grande prostituta”. A maioria dos intérpretes coloca o seu cumprimento no futuro. Será isto verdade? A resposta é não. Pois, aqueles que assim afirmam não consideram o fator histórico. As profecias foram distribuídas de forma linear ao longo do tempo. Quando bem considerado a relação da história com a profecia, chegamos facilmente à conclusão de que esta batalha já aconteceu.
Os dez reis de Apocalipse 17: Quem são? Qual a época em que lutaram contra o Cordeiro? #
Há dois pensamentos entre os intérpretes sobre quem são estes dez reis. Os futuristas colocam como sendo 10 nações que formarão um bloco político e, assim, originará a besta que irá impor seu sinal aos homens. Os historicistas dizem que são os antigos reinos bárbaros, hoje representados nas nações da União Europeia. Há razoabilidade nisto? Vamos entender a profecia.
“E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou comigo, dizendo-me: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas; Com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição”.
Este capítulo tem um tema bem definido: a destruição da “grande prostituta”, que se dá com o derramar das sete pragas. Esta “mulher” é a religião que dominou os reis e as pessoas com sua doutrina universal. Os outros atores envolvidos são: a besta de sete cabeças e dez chifres, a taça de ouro, os santos e o Cordeiro. Vejamos:
E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres. E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição; E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra. E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração.
1) O contexto mostra a mulher montada na besta, ou seja, dominando-a; 2) ela está vestida de ouro, púrpura, jóias e pedras preciosas, isto representa a sua riqueza e luxúria; 3) o cálice de ouro com suas abominações, sua doutrina; 4) seu nome “grande babilônia” significa a autoridade de uma religião com falsas doutrinas; 5) a embriaguês com o sangue dos santos e das testemunhas de Jesus representa a promoção de perseguições religiosas contra os verdadeiros filhos de Deus e contra todos aqueles que testemunhassem dEle.
A interpretação é dada pelo anjo #
A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá. Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada. E são também sete reis; cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo. E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição. E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta. Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis. E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas. E os dez chifres que viste na besta são os que odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo. Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus. E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra.
A explicação do anjo cria um esquema histórico abarcando sete reinos que oprimiram o povo de Deus: Egito, Assíria, Babilônia, Média Pérsia, Grécia, Roma e Sacro Império Romano. Cinco reinos existiram antes do apóstolo João, um existia quando ele escreveu o Apocalipse, Roma. Depois de Roma viria o sétimo e ele deveria durar um pouco, este seria o Sacro Império Romano.
De antemão, é bom entender que a história do Sacro Império Romano se divide em duas partes: Império Franco (800-843) e Império Germânico (962-1806).
A besta que era e já não é #
A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; (v. 8). Esta referência à besta aparece duas vezes no Apocalipse 17: nos versos 8 e 11, e acrescenta: “a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição.” (v. 11) Não é uma simples repetição, tem sentido histórico. Duas vezes Roma ressurgiu e duas vezes foi à “perdição”. Roma “era” até 476, “já não é” de 476 até 800, quando subiu do “abismo” na figura do Império Franco e “foi à perdição” 43 anos depois. Isto cumpre o verso 8. O verso 11 é cumprido entre a queda do Império Franco e o seu ressurgimento com o título de Império Germânico em 962, para novamente ir à “perdição” em 1806. Vamos à história.
“No dia do Natal, em 800, o Papa Leão III coroou Carlos como “imperador dos romanos” em Roma numa cerimônia apresentada como se fosse uma surpresa (Carlos Magno não desejava ficar em dívida com o bispo de Roma), um jogada papal adicional numa série de gestos simbólicos que vinham definindo os papéis mútuos da auctoritas papal e da potestas imperial. Embora Carlos Magno, em respeito ao ultraje bizantino, preferiu o título “Imperador, rei dos francos e dos lombardos”, a cerimônia reconheceu formalmente o império franco como sucessor do romano (ocidental) (embora apenas a “doação” forjada dava ao papa autoridade política para fazer isso). Depois de um protesto inicial quanto a usurpação, em 812, o imperador bizantino Miguel I Rangabe reconheceu Carlos Magno como co-imperador. A coroação deu a legitimidade a primazia carolíngia entre os francos. Os otonianos mais tarde ressuscitaram essa conexão em 962,” (Wikipedia, Francos)
“Com a morte de Carlos Magno em 28 de janeiro de 814 em Aachen, ele foi enterrado em sua própria Capela do Palácio em Aachen. Carlos Magno teve vários filhos, mas apenas um sobreviveu a ele. Esse filho, Luís o Pio, sucedeu ao pai como governante de um império unido. Mas herança total permaneceu uma questão de acaso, em vez de intenção. Quando Luís morreu em 840, os carolíngios aderiram ao costume de partilhar a herança, e o Tratado de Verdun em 843 dividiu o império em três: O filho sobrevivente mais velho de Luís, Lotário se tornou imperador e governante dos francos centrais. […] O segundo filho de Luís, Luís, o Germano, se tornou rei dos francos orientais. Essa área formou o núcleo do mais tarde Sacro Império Romano, que eventualmente evoluiu para se tornar a Alemanha moderna. […]. Seu terceiro filho Carlos, o Calvo se tornou rei dos francos ocidentais; essa área se tornou a fundação da França. (Wikipedia, Sacro Império Romano-Germânico)
Embora Carlos Magno seja considerado o primeiro Sacro Imperador Romano, coroado em 25 de dezembro de 800, a linha contínua de imperadores começou apenas com Oto o Grande em 962. O último imperador foi Francisco II, que abdicou e dissolveu o império em 1806 durante as Guerras Napoleônicas. A partir do século XV, este Estado era conhecido oficialmente como o Sacro Império Romano da Nação Germânica. (Wikipedia, Francos)
Por estes depoimentos percebemos duas ressurreições do Império Romano. Primeiro como Império Franco depois como Império Germânico. Duas ressurreições e duas quedas, cumprindo os versos 8 e 11. Assim, também se entende porque a besta era o oitavo rei e havia sido um dos sete. Sétimo rei como Império Franco e oitavo rei como Império Germânico. Juntos, estes dois reinos, foram, por todos os historiadores, conceituados como Sacro Império Romano, isto é, o sétimo e o oitavo como sendo um só.
Os 10 reis que recebem o poder junto com a besta #
Retomando a explicação, o anjo diz que os dez reis receberam o poder por uma hora e que o entregaram à besta: “E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta.” (Apocalipse 17:12, 13) Nesta parte da profecia, várias expressões denotam que o poder dos dez reis está submetido à besta, tais como: “ainda não receberam o reino”, “receberão poder como reis por uma hora”, “juntamente com a besta” e “entregarão o seu poder e autoridade à besta”. Estes reis não comandam seus próprios reinos. Quando recebem o poder não conseguem reinar por muito tempo e quando reinam é com o apoio da “besta”, pois entregaram o poder a ela. O verso 17 colabora com esta interpretação: “Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus.” Estes reis faziam parte do Sacro Império Romano, são: Boêmia, Bavária, Lorena, Suábia, Áustria, Itália, Francônia, Borgonha, Provença e Saxônia. Ter a “mesma ideia” e “entregar o reino à besta” significa que os reis concordaram em abrir mão do poder para um governo central. E a expressão “uma hora” tem sentido de tempo indeterminado. Assim foi na história. Estes reinos pertenceram ao Sacro Império, mas por tempos variados, ora faziam parte, ora não.
Um pretendente a imperador deveria primeiramente ser eleito como Rei dos Romanos. Reis eram eleitos desde muito tempo: no século IX pelos líderes das cinco tribos mais importantes: (os francos sálios da Lorena, os francos ripuários da Francônia, os saxões, os bávaros, e os suábios); depois pelos principais duques e bispos do reino; finalmente apenas pelo princípe-eleitor. Esse colégio eleitoral foi formalmente estabelecido em 1356 pelo Rei da Boêmia, Carlos IV, através do decreto conhecido como Bula Dourada. Inicialmente, havia apenas sete eleitores: o Conde Palatino do Reno, o Rei da Boêmia, o Duque da Saxónia, o Margrave de Brandemburgo, e os Arcebispos de Colônia, Mainz, e Trier. Durante a Guerra dos Trinta Anos, o Duque da Baviera ganhou direito ao voto como oitavo eleitor. Esperava-se de um candidato à eleição que oferecesse concessões de terra e dinheiro para os eleitores para que assim pudesse assegurar os votos. (Wikipedia, Sacro Império Romano-Germânico)
Estes reis fizeram guerra contra o Cordeiro. “Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis.” A igreja é o corpo (místico) de Cristo (Cordeiro), Efésios 1: 22, 23. Esta batalha é contra a igreja da Idade Média. Situar quem era e onde estava a igreja verdadeira neste tempo não é tarefa fácil. O Apocalipse diz que ela estava no deserto, preservada por Deus, longe da vista da serpente. Portanto, seu paradeiro era desconhecido da sociedade. Mas, de forma indireta, os registros históricos confirmam a fúria dos reis contra a igreja, consequentemente, contra o Cordeiro. As primeiras perseguições foram contra os Bogomilos, depois contra os Valdenses e, por fim, contra os Albigenses. A época destas perseguições cobre um período da história que vai de meados do século XI ao século XIV. Não é possível identificar diretamente estes povos com a igreja de Cristo. Todavia, não há dúvida de que a igreja estava infiltrada entre eles e os influenciou na mensagem de protesto que proclamaram, assim, acabou se tornando alvo indireto das Cruzadas e Inquisições. O avanço do evangelho, a partir de então, representou a vitória de Cristo e seus eleitos.
Os 10 reis odiarão a prostituta #
Depois da derrota, os dez reis “odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo.” (Ap. 17:17) Aqui temos alguns simbolismos que não são difíceis de entender. Odiar, desolar, comer as suas carnes e queimá-la no fogo significam uma tomada de posição dos “dez reis” contra a “mulher”. Por exemplo, “comerão suas carnes” quer dizer tomarão seus bens e “queimarão no fogo” significa que a ultrapassarão em conhecimento. Ao lermos a profecia sobre o vale dos ossos secos em Ezequiel 37:1-14 e Salmos 39:1-3 entendemos com certa facilidade estes simbolismos. Esta parte da profecia mostra que os reis vão agir contra a “prostituta” destruindo seu poder.
Durante a Alta Idade Média a Igreja estatal se aproveitou da ignorância do povo para dominar reis e nações. Desde 533 a.C, quando Justiniano decretou o bispo de Roma como o chefe da igreja, esta só fez por aumentar suas riquezas, principalmente devido às constantes doações de terras por parte dos senhores feudais. A Igreja chegou a possuir 1/3 das terras europeias. Além disso, o monopólio do conhecimento a fez ocupar quase todas as posições da administração pública. A Igreja se tornou senhora. Mas bastou os homens adquirirem um pouco de conhecimento para que seu domínio ruísse. De fato, se verifica pelas páginas da história que depois de um período de 250 anos de supremacia papal, a partir dos 1300/400 o povo europeu começou a se desvencilhar do poder da Igreja, retomar as terras que haviam sido doadas e superá-la em conhecimento. Este processo durou séculos, culminando com o fim do poder papal na Revolução Francesa. Os principais fenômenos relacionados a este processo são o Renascimento, que trouxe profundas transformações literárias, artísticas e científicas, o surgimento das universidades e, por fim, o iluminismo, a era do conhecimento, que definitivamente fez a população entender os exageros do domínio religioso da Igreja. Todos estes acontecimentos contribuíram para o fim do domínio papal.
A mulher sobre muitas águas #
Para finalizar, os versos: “E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas.” (Ap. 17:15) “E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra.” (Ap. 17:17) Estes versos referenciam o tempo de cumprimento desta profecia, quando a “mulher” (ICAR) dominava as nações. O auge deste domínio foi entre os XI a XIV séculos. Assim, como visto acima, Apocalipse 17 já é fato histórico, profecia cumprida. Os reis ali retratados não são nações futuras e nem os povos bárbaros. São os reinos, principados e ducados que formaram o Sacro Império Romano Germânico. A batalha ali mencionada foi a luta entre o povo do evangelho eterno e os povos “seculares” da Alta Idade Média. Há de se entender, porém, que esta profecia continua através dos capítulos 18 e 19, onde se registram fatos ainda por se cumprir. Há de se entender ainda que a influência da “mulher” persiste sobre as nações, mesmo que não como durante sua supremacia.
Enfim, esta interpretação nos permite encontrar um elo entre o passado e o presente. A estrutura profética não nos deixa dúvida quanto à sequência dos fatos. Cinco reis haviam caído no tempo do apóstolo João, Egito, Assíria, Babilônia, Média Pérsia e Grécia, o sexto existia, Roma, e o sétimo viria, o Império Franco. Este era também o oitavo, Império Germânico, era ainda a própria besta, o Império Romano.
Alemanha, a herança do Sacro Império #
A Alemanha de hoje não é aquela besta de Apocalipse 17, nem aqueles dez reis são os mesmos que hoje estão sob sua tutela econômica, mas, sem dúvida, ela é um elo histórico com o Sacro Império Romano. Como líder, a Alemanha, junto com a Europa, desempenhará um papel importante no findar da história, principalmente na batalha do Armagedom, conforme a profecia de Apocalipse 19:19. A besta alemã persiste em reviver o Santo Império, mas será destruída junto com o falso profeta na vinda do Senhor Jesus.