Introdução ao Estudo da Cristologia

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Este estudo não tem como meta exaurir todas as questões envolvendo o tão discutido tema: a preexistência de Cristo, conhecida historicamente como Cristologia (Estudo de Cristo), haja vista que desde os primórdios do cristianismo este assunto tem sido frequentemente questionado sem que seus interlocutores chegassem a uma conclusão clara e definitiva. Pelo contrário, tem-se criado cada vez mais controvérsias insolúveis. Ao longo desse debate, gerou-se uma imensa quantidade de material que torna a dissecação do assunto quase impraticável. Mesmo diante de tal dificuldade, aqui serão analisadas todas as principais questões envolvidas, pois a intenção é catalogar os fatos e ideias de tal forma que seja suficiente para a compreensão do assunto. Além do que já existe de conhecimento sobre o assunto, também avançaremos por novas abordagens do tema com intuito de trazer a discussão para centro da verdade, restaurando o desvio teológico que ocorreu ao longo da história. Verdade essa, que podemos sintetizar com a seguinte afirmação: Jesus não existiu como pessoa, anjo, ou Deus antes de seu nascimento de Maria. Ele sempre foi homem.

O deslocamento da verdade sobre Jesus foi propiciado por três fenômenos históricos conectados entre si por uma falsa relação lógica:  1) as ideias filosóficas gregas de Heráclito e Platão sobre o logos; 2) pela contribuição equivocada de Filo de Alexandria para uma filosofia grega/judaica sobre o Logos que contempla-se o pensamento judaico sobre Deus; e, 3) pela aplicação da ideia grega sobre o Logos ao texto de João 1:1 realizada pelos Pais da Igreja.

Os resultados deste processo foram que, primeiro, o platonismo criou um ser, um agente, entre Deus e a matéria; segundo, Filo disse que esse agente era a Palavra de Deus; e, terceiro, os Pais da Igreja disseram que a Palavra de Deus era Jesus. Este processo foi o suficiente para ofuscar a verdade sobre Jesus por esses longos séculos do cristianismo.

De tudo isso, resultou que Jesus era preexistente. Esta ideia da preexistência se assenta em três afirmações que os defensores pensam encontrar base bíblica: 1) Jesus é Deus; 2) Jesus estava com o Pai no céu; 3) Jesus existia antes da fundação do mundo.

A origem destas três afirmações se encontra num único texto bíblico: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (João 1:1). Comparando: 1) O “Verbo era Deus” é igual a dizer Jesus é Deus; 2) O “Verbo estava com Deus” é igual a dizer que Jesus estava com o Pai no céu; 3) “No princípio era o Verbo” é dizer que Jesus existia antes da fundação do mundo. O que levou os Pais da Igreja a chegar a tais afirmações foi associar a “Palavra” (Verbo, ou Logos, no grego) de João 1:1 a Jesus. Mas isso é falso. Jesus não é a Palavra de João 1:1.

Uma breve análise lógica deste texto de João 1:1, a título introdutório (pois será ampliada na terceira parte do estudo), mostra que Jesus é Deus, de acordo com o pensamento predominante no cristianismo: No princípio era o Verbo [Jesus], e o Verbo [Jesus] estava com Deus e o Verbo [Jesus] era Deus. Mas não basta ser lógico, precisa ser verdadeiro. Um argumento lógico pode ser falso ou verdadeiro. Neste caso, é falso porque foi introduzido um elemento extra-bíblico ao texto, o conceito grego do logos e desprezado o conceito judaico. Além de ter sido desprezado seu contexto.

Numa leitura desatenta do texto bíblico parece ser lógico, mas é insuficiente. Esta insuficiência do argumento reside no fato de que basta mostrar que Jesus não é Deus para destruir também as outras duas afirmativas. Menos do que isso, basta apenas mostrar que Jesus não é o Verbo para destruir ao mesmo tempo todas estas três afirmativas sobre Jesus e restaurar a verdade cristológica para seu devido lugar.

Esta afirmação de que Jesus é o Verbo só interessa para os trinitarianos, binitarianos e unitarianos. As ideias de que Deus é composto de três pessoas, que Deus é composto de duas pessoas e o espírito é o agente que deles emana, que Deus é uma pessoa com três manifestações diferentes dependem da falsa ideia de que Jesus é o Verbo. Se Jesus não for o Verbo, nenhuma destas afirmações é verdade.

A verdade apresentada nas Escrituras é que existe uma só pessoa chamada Deus, que criou sozinho todas as coisas pela Sua palavra, inclusive o próprio Filho (Jesus). A palavra de Deus, ou verbo, é a expressão da vontade (planos) e força ativa de Deus na criação. Que Jesus é um homem gerado pela própria palavra de Deus, portanto distinto dEle e de sua Palavra. Jesus não é Deus e Jesus não é a Palavra de Deus. Deus enviou sua Palavra aos homens através de Jesus. Jesus apenas ensinou a Palavra de Deus. Jesus não é Deus e não estava com Deus no princípio.

O desafio que se propõe neste estudo é esclarecer a relação entre a Palavra de Deus, o conceito de Messias (plano divino) e o homem Jesus. O mundo cristão influenciado pela falsa doutrina da Trindade tem dificuldades para distinguir e estabelecer as relações corretas entre estes elementos. Uma coisa é a (1) Palavra [Logos] de Deus que criou todas as coisas. Outra, o (2) conceito do Messias [Cristo], o plano, ou promessa de Deus, oculto nEle, antes da fundação do mundo, para salvar o homem que Ele iria criar. Por fim, é um elemento totalmente à parte, o próprio homem (3) Jesus, gerado por Deus para cumprir o plano divino de levar a Sua palavra ao mundo.

A relação correta entre estes três elementos pode ser simplificadamente assim exposta: Deus, antes de todos os tempos, por Sua (1) palavra criou o mundo e (2) prometeu a Salvação (Cristo). A palavra salvadora de Deus chegou à humanidade na plenitude dos tempos através da pregação do homem (3) Jesus. Esta afirmação não confunde os elementos entre si e expõem a verdade que está na palavra escrita de Deus.

Para trazer tudo isso à luz das Escrituras, dividimos este estudo em três partes, que representam as três argumentações necessárias para destruir o pensamento de Jesus preexistente. A primeira parte, Anterior à Cristologia, trata do surgimento do conceito de logos no mundo helênico. A ideia do logos criado pelos gregos não é em si relacionada com o pensamento judaico e cristão. Ela foi importada por Filo ao mundo judaico e, posteriormente, pelos Pais da Igreja ao Cristianismo. De forma que, sem o movimento desta ideia rumo ao pensamento cristão, não se falaria no cristianismo de Jesus Deus, ou preexistente. Nesta primeira parte, falaremos da origem do logos.

Na segunda parte, A Cristologia, procura-se conhecer as principais ideias cristológicas e seus interlocutores relacionados à preexistência. A discussão cristológica começou com a disputa teológica sobre a substância de Jesus: era Deus, ou era homem? Nesta parte, veremos como a ideia de que Jesus é Deus “suplantou” a afirmação bíblica de que Jesus é um homem ainda nos primeiros séculos da igreja.

A terceira parte, a “preexistência” de Jesus na Bíblia.  Esta parte procura esclarecer biblicamente o erro cristológico sobre a “preexistência” de Jesus. Sua proposta será combater as três principais afirmações cristológicas: Jesus é Deus, Jesus estava com Deus, e, Jesus estava no princípio com Deus. Isto será feito simplesmente argumentando que Jesus não é a Palavra.

O entendimento destas três partes dará clareza, tanto histórica, teológica e bíblica sobre o assunto. Assim, estamos diante de três argumentações que combatem a ideia de Jesus preexistente: 1) o argumento histórico: o conceito da preexistência de Jesus foi elaborado fora da Palavra de Deus; 2) o argumento teológico: os Pais da Igreja atribuíram erroneamente este conceito a Jesus; e, 3) o argumento bíblico: a ideia de que Jesus é preexistente não é confirmada pela Bíblia.

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