O templo é medido #
“E foi-me dada uma cana semelhante a uma vara; e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram. E deixa o átrio que está fora do templo, e não o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses.” (Apocalipse 11:1,2)
Esta profecia é uma continuação do Apocalipse 10. Ela vai dar mais detalhes sobre a história da Bíblia. O apóstolo João recebe uma “cana”. A palavra “cana” vem do grego kanon que significa regra, padrão, modelo, medida. (Tudo indica que o “anjo” é o mesmo que segura o livrinho no capítulo anterior. A introdução do capítulo 11 dá a entender isso, pois sua narrativa é ligada ao texto do capítulo 10 pelo conectivo “e”). O “anjo” se aproxima e diz: “levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar e os que nele adoram”. Qual o sentido? Vamos entender os símbolos. “Templo de Deus” significa a sua igreja. Em I Coríntios 3:16, a Bíblia diz: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” Esta passagem denota que o conjunto de fiéis que forma a igreja é o templo de Deus. Em II Tessalonicenses 2:4, diz: “O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.” Esta passagem fala do “homem do pecado” (anticristo) que se infiltrou na igreja, procurando se passar por Deus. Mais uma vez denota a expressão “templo de Deus” como sendo a igreja. “Altar” é lugar de orações, sacrifícios e adoração, como o próprio verso diz, ou seja, “altar” está ligado com um culto (Apocalipse 8:3, I Crônicas 21:23). Os símbolos estão se referindo à igreja e seu culto. Tudo devia ser medido, isto é, tudo devia passar pelo “cânon”, inclusive “os que nele adoram”, neste caso, o povo de Deus.
Mas o “átrio” que está fora do “templo” não foi medido, foi dado “às nações” e elas “pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses”. A referência é clara, fala dos gentios, aqueles que estão fora da igreja. Apesar de estarem fora, não estão tão longe, estão no “átrio”, ou seja, muito perto. Isto terá implicações importantes para a interpretação desta profecia. O motivo de não ser medido o “átrio” é porque os que ali estão “pisarão” a “cidade santa”. Primeiro, é preciso entender o sentido figurado da palavra “cidade” para depois tirarmos as conclusões dos significados. Esta palavra aparece várias vezes no Apocalipse, dando a entender que é uma cidade literal, como é o caso de Apocalipse 17:18, mas também seguido de um sentido de civilidade, pois a “mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra”. Em Apocalipse 16:19, novamente ocorre a palavra, agora não é no sentido literal. Vejamos: “E a grande cidade fendeu-se em três partes”, o motivo foi um “terremoto” (ver verso 18). Fica claro que não é literal, porque um terremoto real iria destruir a cidade, não apenas dividi-la. O que é dividido é poder da cidade, que pode ser o político, o econômico, o cultural, o civil. Tanto num como no outro verso, a palavra “cidade” aparece com o sentido de civilidade, ou melhor, cidadania. A palavra cidadania vem de sua raiz cidade. Cidadão é aquele que exerce seus direitos e deveres civis numa cidade. A cidade é um sistema político-social.
Com isso em mente, fica fácil entender. “Cidade santa” representa as regras e padrões divinos que constituem uma cidadania santa. Por isso, aqueles que estavam dentro do templo foram medidos com a “cana” pelo apóstolo João. Há uma passagem deste apóstolo que diz: “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve” (I João 4:6). O povo que foi “medido” é aquele que ouve e pratica as doutrinas dos apóstolos, em linhas gerais, está dentro das regras da Palavra de Deus, as regras da “cidade santa”. Quem está fora não anda nas regras, não cumpre os mandamentos de Deus, pisa a “cidade”. “Pisar“ tem o sentido de transgredir. Veja nesta profecia de Daniel que a “transgressão assoladora” pisa o santuário: “Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício contínuo, e da transgressão assoladora, para que sejam entregues o santuário e o exército, a fim de serem pisados?” (Daniel 8:13). Os intérpretes entendem que está “transgressão assoladora” foi um momento em que as regras do sacrifício foram violadas no templo de Jerusalém. Nesta profecia do Apocalipse, o povo do “átrio” pisou as regras santas.
Temos ainda, um ponto importante, o tempo em que a “cidade santa” foi pisada: “quarenta e dois meses”. Devemos entender o sentido literal desta informação. Para isso, precisamos traduzir o que ela quer dizer, usando, obviamente a Bíblia, como regra. Existem duas passagens que dizem: “Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu afastamento” (Números 14:34), e “Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu afastamento”, (Ezequiel 4:6). Estas passagens dão a chave para entendermos o tempo de “quarenta e dois meses”. Cada mês do calendário judeu tem em média 30 dias. Quarenta e dois meses seriam 1260 dias. Como cada dia é igual a um ano na profecia, temos, então, 1260 anos. O tempo em que seria pisada a “cidade”. De que ano a que ano se cumpre esta profecia então? Segundo boa parte dos intérpretes do ano 538 a 1.798 d.C.
Bom, já temos elementos suficientes para fechar nosso raciocínio. Sabemos que a Bíblia contrapõe a igreja com os gentios. Assim, resumindo o que esta parte da profecia quer nos informar, temos: um povo que representa a verdadeira igreja e o outro que representa aqueles que se desviaram da fé. Um que segue as regras e o outro que está fora das regras. Aqui estão frente a frente a Igreja de Deus mantendo a doutrina verdadeira e o catolicismo com sua apostasia. E por que a profecia coloca em evidência estes dois grupos? A razão será encontrada a partir do verso seguinte: “E darei autoridade às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco” (Apocalipse 11:3). As “duas testemunhas” representam o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia. A Bíblia profetizou por 1260 anos “vestida de saco”, isto é, humilhada, escondida do povo, pela própria Igreja Católica que deteve o monopólio religioso. Então, a razão desta profecia colocar lado a lado estes dois povos é porque eles estão envolvidos no processo de canonização da Bíblia (veremos na postagem seguinte). E, há, um motivo simples para isso: “o testemunho de dois homens é verdadeiro” (João 8:17). A verdadeira igreja participou do processo, mas também catolicismo para que a autoridade da Bíblia se sobreponha à própria Igreja Católica. A participação da Igreja Católica no processo de canonização da Bíblia, pode parecer uma blasfêmia para aqueles crentes mais radicais, mas não é, ao contrário, serve para testificar da verdade. Assim, não há como ela se escusar de seus pecados no dia do juízo, pois serão julgados por aquilo que aprovaram.
Fechando, temos, então, nestes versos de Apocalipse, a igreja, o “templo de Deus” e o catolicismo, o “átrio”, envolvidos no processo de definir pelas regras canônicas, “cana”, quais são os livros que pertencem à Bíblia. Esta Bíblia, cujas doutrinas seriam “pisadas” pelo catolicismo.
As duas testemunhas profetizam de saco #
“E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco.” (Apocalipse 11:3)
Temos três coisas importantes neste verso. Primeira, o “poder” dado às “duas testemunhas”. Segunda, o tempo dado para que elas profetizassem. Terceira, as características destas “duas testemunhas” durante o tempo de suas profecias.
A primeira questão se refere ao “poder” das “duas testemunhas”. Na explanação que fiz sobre o verso 1 de Apocalipse 11, falei sobre a “vara de medir” dada pelo anjo ao apóstolo João e que “vara” vem do grego “kanon”, que significa regra, modelo, norma, medida, padrão.
Medir, padronizar, regrar, modelar, normatizar são procedimentos que indicam a seletividade que aplicamos a um objeto de qualquer natureza com a finalidade apontar os melhores que comporão o grupo de nossa escolha. Fazemos isto ao escolher nossos representantes ao governo, ao escolher uma seleção de futebol, os livros que lemos e até mesmo nas compras do mercado. Chamamos isto de princípios, regras, normas que norteiam o procedimento de selecionar. O processo de canonização da Bíblia também seguiu alguns princípios ou regras. As principais regras utilizadas para determinar quais livros eram de inspiração divina e que, portanto, poderiam pertencer ao cânon, foram: circulação universal, autoria dos apóstolos ou dos discípulos dos apóstolos, livros segundo a tradição e a doutrina dos apóstolos, livros escritos tardiamente não eram aceitos, escritos considerados ridículos ou fabulosos e livros que visavam propagar heresias também não. Ficaram fora da lista de livros considerados bíblicos os apócrifos e os pseudoepígrafes porque não se encaixavam nas regras. São estas regras, definidas pela sociedade eclesiástica dos primeiros séculos, que autorizaram a inclusão ou a exclusão deste ou daquele livro, ou seja, autenticaram, deram autenticidade, poder, autoridade. Os livros que hoje pertencem à Bíblia são de fato autênticos livros revelados por Deus, pois os homens através de uma longa discussão norteada por regras chegaram a um acordo que definiu quais são e quais não são os livros da Bíblia, ou seja, em outras palavras o homem afirmou que a Bíblia é a palavra de Deus. Assim, a Bíblia ganha mais autoridade porque foi aceita pelos homens, ou seja, os homens reconhecem esta autoridade da Bíblia.
Definir o processo de construção da autoridade vai nos ajudar a entender o poder que a Bíblia detêm sobre a humanidade. Russel Normam Champlin diz que a “’autoridade’ vêm do latim ‘auctoritas’ derivada de auctor, ‘causa’, patrocinador, promotor, fiador (…) A autoridade oficial é aquela dada a uma pessoa em razão de uma função ou poder que lhe tenha sido conferido por outros, de acordo com a lei, com os costumes ou com outras convenções sociais. Os objetos (como um livro) podem se tornar autoritários pelo consenso de muitos”.
Num exemplo secular, uma nação tem sua autoridade máxima expressa em sua Constituição Federal, a Carta Magna. Geralmente, através do processo político eleitoral, a sociedade elege seus representantes que farão parte da Assembléia Constituinte. Este conjunto de representantes do povo elabora normas, regras e leis que deveras irão controlar a vida social, política e econômica daquela nação, estabelecendo o poder e os limites de poder de cada organização e instituição pública ou privada. Nenhuma outra lei poderá ferir ou suplantar as normas da Carta Magna, pois ela está revestida de poder que provém da própria sociedade e está acima de todos.
Num exemplo bíblico, a definição dada pelo apóstolo Paulo sobre como Deus irá julgar aqueles que não aceitaram o evangelho, nos deixa claro como se estabelece uma autoridade, mesmo sem que haja uma lei. Os gentios (aqueles que ainda não pertencem à igreja), segundo a Palavra de Deus, estabelecem sobre si uma autoridade, uma lei que os julgará no último dia da qual eles não poderão recorrer, pois foi estabelecida por eles próprios: “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo (…) E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? (…) Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; (…) Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; (…) Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;” (Romanos 2:1,3,5,14 e 15) Estes versos mostram que se uma pessoa condena alguém por um determinado delito, ela não poderá cometê-lo, pois fica sob a pena de trazer o mesmo juízo sobre si, e isto se dá tanto pela condenação de um ato delinqüente, como pela prática de um bom procedimento. A tradução do verso 15 na tradução da CNBB, diz assim: ”Por sua maneira de proceder, mostram que a Lei está inscrita em seus corações: disso dão testemunho igualmente sua consciência e os juízos éticos de acusação ou defesa que fazem uns aos outros”. Fica claro que os gentios pecadores mesmo que não tenham sequer conhecido a Palavra de Deus, estabeleceram os padrões, as regras, as leis pelos quais eles serão julgados. Uma lei estabelecida tanto pelo proceder quanto pela consciência que eles têm do proceder, quando um acusa o outro. Temos um exemplo simples disso quando um estuprador é preso e condenado por outros marginais na cela, sem o julgamento da Justiça, algumas vezes levando-o à morte. Logo, estes marginais que assassinaram o estuprador já estão debaixo da lei que condena o estupro, e receberão a mesma sentença se cometerem a mesma infração. Assim, os gentios são condenados por aquilo que aprovam, são lei para si mesmos. O processo de acusação e defesa que os gentios usam uns contra os outros afirma uma lei que os condenará, mesmo que eles não conheçam a Bíblia, pois a autoridade desta lei surgiu deles próprios. Da mesma forma, os muitos religiosos que estavam envolvidos no processo de canonização da Bíblia afirmaram a autenticidade da palavra de Deus. Agora, não é mais possível reverter este processo e conseqüentemente não é possível mais retirar o atributo de autoridade da Bíblia. Eles consentiram que a Bíblia é a palavra de Deus.
O consenso é algo que autentica uma autoridade. Uma verdadeira autoridade se estabelece pelo consenso. Jesus testificou da autoridade de sua obra pelo consenso entre ele e seu Pai: “E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou”, (João 8:16-18).
Todos estes exemplos dados acima nos permitem entender que uma autoridade é estabelecida a partir do consenso entre duas partes diferentes, principalmente se forem de opiniões muito diferentes, que transferem para uma terceira o poder de atuar sobre si baseado em certas regras, normas, leis, padrões, medidas etc. Daí que, a participação direta ou indireta do catolicismo no processo de canonização da Bíblia a autentica ainda mais como palavra de Deus, pois eles a definiram como autoridade divina.
Para ampliar o leque de argumentações, temos outros aspectos que denotam a autoridade da Bíblia. Primeiro, as profecias, são centenas delas que já se cumpriram, algumas com precisão matemática. Exemplos: morte de Jesus na quarta-feira e ressurreição no fim do sábado, restauração de Israel, profecias de Daniel sobre os impérios mundiais e inclusive as profecias de Apocalipse. Segundo, o poder dos ensinamentos da Bíblia, são milhões de pessoas que pautaram suas vidas por suas palavras, não somente pessoas, mas nações inteiras e podemos incluir boa parte da humanidade. Terceiro, o testemunho de Jesus sobre a palavra de Deus através de seus milagres. Quarto, o testemunho dos apóstolos, inclusive eles mesmos escrevendo parte da Bíblia. Tanto Jesus quanto os apóstolos estavam revestidos de poder e confirmaram a palavra de Deus através dos atos por eles realizados. E, por quinto, todas as demais pessoas que testificaram os fatos relacionados à história narrada pela Bíblia. Tudo isso, sem falarmos da ciência que em diversos pontos testifica a favor, como a arqueologia, a história, a própria teologia, e o imensurável envolvimento da humanidade em torno da Bíblia.
Podemos ainda acrescentar mais uma maneira que corrobora para aumentar a autoridade da Bíblia. Depois da morte dos apóstolos, desenvolveu-se um sistema de autoridade eclesiástica que confirma o poder da Bíblia, chamada de “pais apostólicos”. Entre os principais estão Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Justino, Irineu, Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Eusébio de Cesareia, Jerônimo, Crisóstomo e Agostinho. Sobre estes homens não é possível afirmar que defendiam a verdade, mas eles formaram uma hierarquia espiritual que por causa da influência sobre o mundo religioso cristão, na sociedade romana e até mesmo além das fronteiras romanas, seus testemunhos sobre os escritos sagrados confirmam ainda mais a autoridade da Bíblia. Aliás, eles estavam diretamente envolvidos no processo de canonização da Bíblia. E, se afirmaram que a Bíblia é a palavra de Deus, além de que esta afirmação por parte destas autoridades fez com que a sociedade aceitasse determinados livros como canônicos, eles e a sociedade têm agora sobre si a autoridade da Bíblia.
Enfim, estes comentários são mais do que suficientes para mostrar que a Bíblia tem, por trás de sua existência, um processo de acumulação de respeito como palavra de Deus altamente fundamentado. Poucos, atualmente, são aqueles que ousam questionar sua autoridade.
O processo de canonização da Bíblia fundamenta ainda mais autoridade bíblica por ser historicamente longo, não feito por um grupo específico de pessoas, que poderiam transformar a Bíblia num objeto de manipulação ideológica, mas um processo que envolveu, além do verdadeiro povo de Deus até o próprio Imperador Constantino. Foram vários séculos de discussão entre as mais diferentes partes, envolvendo as mais diferentes opiniões, com as mais diferentes pessoas, desde aquelas que tinham contato entre si, por viverem numa mesma época, àquelas que estavam separadas pelo tempo de vida, sem falar do fato de estarem em localidades diferentes. Discutiremos mais sobre isso na próxima postagem.
Os principais fatos históricos referentes ao processo de canonização da Bíblia, são: algumas cartas de Paulo foram aceitos como escrituras no tempo da igreja primitiva. O apóstolo Pedro canoniza as cartas de Paulo, ele testifica: “como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição”, (II Pedro 3:15b.16). No início do II século, segundo Champlin, em torno de 20 livros do Novo Testamento eram aceitos como canônicos. As treze epístolas de Paulo, os quatro evangelhos, as epístolas de I João e I Pedro, e também o livro de Apocalipse. No início do terceiro século, eram aceitos quase universalmente os vinte e sete livros do Novo Testamento, com exceção da Epístola de Tiago. No século IV, chegou-se à fixação quase universal do cânon do Novo Testamento.
Alguns livros foram aceitos por determinado tempo como a epístola de Barnabé, as epístolas de Clemente e o Pastor Hermas, mas, por fim não figuraram entre os canônicos e foram tidos como apócrifos. Alguns outros livros foram aceitos, mas não sem muita contestação, são II Pedro, II e III João, Hebreus, Judas e Apocalipse. O livro de Apocalipse foi o último a ser aceito. A decisão de contá-lo entre os canônicos veio somente no final do IV século, mesmo que ele já havia sido incluído entre os canônicos no início do II século em algumas listas. Isto deveu-se ao fato de que nem todos as partes tinham chegado ao consenso.
Os eventos finais do processo de canonização se deram no século IV. Atanásio, 325 d.C, foi quem elaborou a lista de livros conforme aqueles que temos hoje no cânon. Em 363 d.C, o concílio de Laodicéia proibiu o uso de livros não canônicos. O concílio de Hipona, 393 d.C, aceitou os vinte e sete livros que temos hoje em dia. O concílio de Cartago, 397 d.C, aprovou os livros, e o concílio de Cartago de 419 d.C confirmou esta posição. Neste tempo se fecha o processo de canonização, não sem alguns questionamentos que perduram até os dias de hoje.
Acima falei sobre a canonização do Novo Testamento, mas o processo de canonização do Antigo Testamento seguiu em paralelo no meio cristão, e tem dois pontos importantes a destacar. Além do processo de canonização realizado pela igreja e pelos católicos, também sofreu um processo de canonização anterior aos tempos de Jesus pelos judeus. De certa forma, o próprio Novo Testamento é um parâmetro para a canonização do Antigo Testamento. Primeiro, bem anteriormente, foi aceito os escritos de Moisés, depois os Profetas em torno de 250 a 175 a.C, por fim, os Escritos entre 170 a 105 a.C. Mas a aceitação definitiva de um cânon hebraico se deu entre os anos 95 a 118 d.C no concílio de Jamnia. Todavia, Jesus já tinha estas três partes do cânon judaicos como autorizados: “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos”, Lucas 24:44.
A seguir a citação do livreto A Nossa Bíblia e os Manuscritos do Mar Morto do Dr. Renato E. Oberg nos dará a comprovação sobre a canonização do Antigo Testamento e da autoridade que ele se reveste. “O Concílio de Jâmnia não só confirmou os livros do cânon sagrado, mas também escolheu seus melhores manuscritos, oficializou-os e decretou a destruição de todos os demais, para que houvesse a tão desejada unidade. O concílio foi além: para evitar que os manuscritos escolhidos viessem a ser deteriorados por copistas não zelosos, decidiu também sobre as regras que foram mantidas e aperfeiçoadas por homens extremamente zelosos dos livros sagrados e da tradição hebraica, e que ficaram conhecidos pelo nome de ‘massoretas’. Confirmando o cânon dos Livros Sagrados, escolhendo os melhores textos de seus manuscritos e fixando normas para copiá-los, o Concílio de Jâmnia preservou a Bíblia hebraica com toda a autoridade religiosa da erudição e do zelo judaicos.” (p. 32)
Toda esta história indica que a canonização foi a forma pela qual se transferiu a autoridade à Bíblia pela parte fiel da igreja, o povo medido do verso 1, e pela parte infiel da igreja, o povo não medido do verso 2, cumprindo a profecia do verso 3. O processo de canonização contando com a participação do povo santo, a igreja verdadeira, e também com a participação do romanismo, deu poder à Palavra de Deus, de tal forma que, nem a verdadeira igreja e nem a igreja apostatada são inescusáveis diante de Deus, pois tanto uma como a outra parte testifica que a Bíblia é a suprema autoridade de Deus. Conclusão, o Antigo e o Novo Testamento são as “duas testemunhas” de Apocalipse 11 que receberam “poder” para profetizarem de “saco” durante “mil duzentos e sessenta dias”.
Depois desta detalhada exposição sobre a autoridade das “duas testemunhas”, resta-nos entender o tempo e como elas profetizaram. No verso 2 de Apocalipse 11, a profecia fala de “quarenta e dois meses”, significando o tempo em que a “cidade santa” seria pisada. Aqui, se fala em “mil duzentos e sessenta dias”, representando o tempo da profecia das “duas testemunhas”. Tanto uma como a outra expressão se referem ao mesmo período, pois as duas representam o mesmo período profético de mil duzentos e sessenta anos. A expressão “quarenta e dois meses”, que é 42 meses X 30 dias = 1260 dias. Portanto, o tempo e o período de profecia das “duas testemunhas” é o mesmo tempo em que a “cidade santa” foi pisada. Como já vimos, este período vai de 538 até 1.798 d.C.
Neste tempo o Antigo e o Novo Testamento profetizaram vestidos de “saco”, isto é, humilhados, pois vestir-se de saco na figura de linguagem bíblica é sinônimo de humilhação. Veja Gênesis 37:31, II Samuel 3:31 e Joel 1:13. Para entender isso, basta sabermos que o acesso à Bíblia foi proibido pela Igreja Católica por muitos séculos, além de estar basicamente na língua latina, língua apenas dos intelectuais, dificultando o acesso do povo comum. Além de tudo, durante muitos séculos, a Europa passou por um profundo abismo cultural, quando as pessoas mais comuns não tiveram acesso a educação. As “duas testemunhas” estavam “vestidas de saco”, isto é, profetizavam de forma humilde. Mas esta situação iria mudar, como veremos nas próximas postagens.
Em suma, a história do Antigo e do Novo Testamento foi representada na profecia pelas “duas testemunhas”. A canonização foi o processo histórico que dotou a Bíblia de autoridade, cumprindo a profecia “darei poder às minhas duas testemunhas”. Este processo histórico se deu com a participação da Igreja de Deus e com a participação da Igreja Católica (se é que podemos dizer que existia catolicismo naquele tempo, como é entendido em nossos dias). A igreja fiel e a igreja infiel representavam respectivamente o povo que adorava no templo, diante do altar, e o povo que estava fora do templo, no átrio dado aos gentios. O processo de canonização para ser mais verdadeiro dependeu destas duas partes. O combate de idéias entre ambas definiu quais livros eram ou não canônicos. A participação da ala da igreja que apostatou foi de vital importância, pois quando ela afirma autoridade divina da Bíblia, a torna o juiz sobre si.
São como oliveiras e lâmpadas #
“Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra”. (Apocalipse 11:4)
Neste verso, é apresentado dois símbolos que representam duas qualidades das “duas testemunhas”: “oliveiras” e “castiçais”. O que representa “oliveira” e o que representa o “castiçal”? A oliveira é uma árvore baixa de tronco retorcido, de grande longevidade e antiguidade, suas folhas não caem completamente e possui raiz profunda. Tem um crescimento lento e uma existência de centenas de anos. A mais antiga do mundo tem 1.700 anos. Uma oliveira que existe na cidade de Bar tem 2.000 anos. Dizem que existe uma com 2.300 em Portugal. Estas características da oliveira levaram o salmista a dizer: “Mas eu sou como a oliveira verde na casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para sempre, eternamente”, (Salmos 52:8). Aqui ele faz menção à oliveira comparando com sua confiança em Deus que dura por muito tempo. Outra passagem mostra a característica frutífera da oliveira, veja: “A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa”, (Salmos 128:3). Durabilidade e capacidade de multiplicar-se da oliveira são duas características de fundamental importância para entendermos a profecia das “duas testemunhas”, mas ainda temos que entender o que significa os “castiçais”.
Um verso da Bíblia nos faz entender a simbologia do castiçal: “E disse-me: Que vês? E eu disse: Olho, e eis que vejo um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no seu topo, com as suas sete lâmpadas; e sete canudos, um para cada uma das lâmpadas que estão no seu topo”, (Zacarias 4:2). A função de um castiçal é iluminar um ambiente escuro. Na profecia de Apocalipse 11:4, os dois castiçais representam iluminar, clarear. Em linguagem mais literal, significa conhecimento transmitido pelas “duas testemunhas”.
Ao juntarmos estes simbolismos sobre as “duas testemunhas”, temos a seguinte afirmação: O Antigo e o Novo Testamento da Bíblia são duas testemunhas de Deus na Terra que tiveram vida longa, cujo vigor foi multiplicado como os frutos da oliveira e trouxeram luz aos homens. Desta interpretação, podemos extrair o que a profecia quis mostrar: o Antigo e o Novo Testamento são conhecimentos sobre Deus transmitidos por um período relativamente extenso de tempo.
A profecia das “duas testemunhas” demarca os principais fatos relativos à história do Antigo e Novo Testamento durante a Era Cristã. A Palavra de Deus tem uma história maravilhosa, principalmente quando se trata de sua durabilidade e preservação. Nenhum outro livro na história da humanidade tem uma história tão peculiar. Vou enumerar apenas os pontos mais importantes por causa do objetivo deste estudo. Mas basta uma rápida pesquisa no Google e você vai se inteirar de muitos detalhes. A história da Bíblia está dividida em duas partes bem distintas: Antigo e Novo testamento.
O Antigo Testamento foi principiado por volta de 1.500 a.C. Dividida em três partes principais: a Lei, os Profetas e os Escritos. Teve seu cânon finalizado no século V a.C. Sendo que a autoridade deste cânon foi aceito por volta do ano 100 d.C. Escrito originalmente em hebraico com pequenas partes em aramaico. O hebraico, depois do retorno dos judeus da Babilônia, perdeu sua forma de pronúncia, mas para preservá-la foi criado um sistema de pontuação pelos “soferim”. Segundo o Dr. Renato E. Oberg, os soferim eram “homens zelosos que se dedicavam à preservação dos documentos sagrados, colecionando as variantes que encontravam e buscando aprimorar o texto. Quando copiavam os livros sagrados, eram tão exatos que chegavam até a contar o número de letras e palavras de cada livro”, (A nossa bíblia e os manuscritos do mar morto, p. 43). Como o grego era uma língua falada por muitos judeus da diáspora, o Antigo Testamento foi traduzido para o grego entre os séculos III a.C e I a.C, esta versão foi chamada de Septuaginta. Há algumas controvérsias sobre a existência desta versão, mas a maioria dos indícios aponta para a crença de que ela realmente existiu e até foi usada por Jesus e citada no Novo Testamento. Depois veio a versão a Síriaca Peshitta cerca do século V d.C. Por volta de 400 a.C surgiu uma importante versão para o grego diretamente do texto hebraico chamada de Vulgata Latina.
Durante a Era Cristã, além do Concílio de Jamnia (95 a.C) que aprovou a canonicidade, o Antigo Testamento sofreu a influência dos zelosos judeus chamados massoretas, que surgiram do trabalho dos soferim. Este trabalho ajudou preservar o texto manuscrito o mais original possível. Este sistema massoreta era a indicação da pronúncia através de uns pontos colocados próximas às letras.
O texto do Antigo Testamento, até bem pouco tempo, não contava com manuscritos realmente antigos, pois os judeus tinham por costume destruir as cópias mais velhas à medida que haviam novas cópias, os mais antigos datavam do século X d.C. Mas, no ano de 1947, as descobertas dos Manuscritos do Mar Morto trouxeram ao nosso conhecimento textos que datam do terceiro século a.C. Em suma, estes são os principais pontos da história do Antigo Testamento.
Já, o Novo Testamento, escrito entre os anos 50 a 100 d.C, tem uma história bem mais complexa, impossível de ser retratada aqui, a não ser apenas numa exposição bem simplificada. Foi escrito diretamente na língua grega. Teve a canonicidade de seus 27 livros aceita no final do IV século. Durante mais ou menos mil anos foram realizados em torno de 10 mil manuscritos em latim e 5 mil em grego, fora os de outras línguas. Foram realizadas algumas versões, entre elas em latim, siríaco, copta, armênio, geórgico, etíope, gótico, eslavônico, árabe e persa. Além disso, ela foi amplamente citada pelos pais da igreja. Há também porções em cerâmicas, as ostracas, e em amuletos. Milhares de fragmentos do Novo Testamento, que somados com os do Antigo Testamento chegam à casa de 200 mil fragmentos. Todo este processo, levando em conta a extensão territorial pela qual circularam as várias cópias, gerou pelo menos quatro tipos básicos de texto, conhecidos como textos Cesareano, Alexandrino, Bizantino e Ocidental. Todo este material está distribuído pelos principais museus e bibliotecas do mundo e muito bem organizado por códigos e famílias à disposição dos críticos textuais, que fazem um trabalho incansável para restaurar o texto original, uma vez que o texto do Novo Testamento sofreu mudanças mais radicais do que o do Antigo Testamento.
Enfim, inspirada por Deus, a Bíblia foi escrita por diversos Escribas, Sacerdotes, Reis, Profetas e Poetas (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21). Em pedra, existem inscrições encontradas no Egito e Babilônia datadas de 850 a.C. Escrita em argila e cerâmica, milhares de tabletes encontrados na Ásia e Babilônia. A madeira foi usada por muitos séculos pelos gregos para escrever trechos da Bíblia. Em couro, o Antigo Testamento foi, possivelmente, escrito em couro. Os rolos tinham entre 26 a 70 cm de altura. Papiro, o Novo Testamento foi escrito sobre este material, feito de fibras vegetais prensadas. Velino ou pergaminho, velino era preparado originalmente com a pele de bezerro ou antílope, enquanto o pergaminho era de pele de ovelhas e cabras. Quase todos os manuscritos conhecidos são em velino, largamente usado a centenas de anos antes de Cristo. Papel, forma amplamente utilizada hoje. CD de áudio (CD – Room) para computadores é a forma mais recente. E está mais do que amplamente difundida na internet. Até a invenção da gráfica por Gutenberg, a Bíblia era um livro extremamente raro e caro, pois eram todos feitos artesanalmente (manuscritos) e poucos tinham acesso às Escrituras. Hoje, ela está traduzida em mais de 2.400 línguas e dialetos, o equivalente a 50% das línguas faladas no mundo.
Esta descrição acima, compilada de Russel Normam Champlin e de alguns sites, apesar de breve, nos dá uma visão geral sobre a história do Antigo e Novo Testamento, as “duas testemunhas” do Apocalipse, as “duas oliveiras”. Oliveiras foram usadas para representá-los porque simbolizam a antiguidade e a multiplicidade. Assim como a vida milenar da oliveira, a Bíblia tem uma história também milenar e, assim como a capacidade da oliveira em produzir muitos frutos, a Bíblia foi copiada para os mais diferentes materiais, traduzida para muitas línguas, citada por diversas pessoas. As dezenas de milhares de manuscritos antigos e centenas de milhares de fragmentos constituíram a melhor forma de se preservar a Bíblia. Os homens poderiam até destruí-la, modificá-la se fossem algumas poucas cópias, mas centenas de milhares delas espalhadas por diversas partes do planeta torna a tarefa impossível. Por isso, o verso 5 de Apocalipse diz que se tentarem fazer mal às “duas testemunhas”, quem assim intentar será ferido. É o que veremos no próximo post. A profecia diz também que elas são como “candeeiros”. Sobre isto faremos comentários mais adiante. Mas, sem dúvida, a Bíblia funcionou como luz ao mundo no tempo da Idade Média. Conclusão, este versos fala da durabilidade do Antigo e Novo Testamento e de sua multiplicidade de cópias e fragmentos.
Destroem seus inimigos #
“E, se alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca, e devorará os seus inimigos; e, se alguém lhes quiser fazer mal, importa que assim seja morto”. (Apocalipse 11:5)
Vamos entender os símbolos. Primeiro, o “fogo” significa conhecimento. Veja Salmos 139:1-3: “Disse comigo mesmo: Velarei sobre os meus atos, para não mais pecar com a língua. Porei um freio em meus lábios, enquanto o ímpio estiver diante de mim. Fiquei mudo, mas sem resultado, porque minha dor recrudesceu. Meu coração se abrasava dentro de mim, meu pensamento se acendia como um fogo, então eu me pus a falar”. Quando nos colocamos a meditar, produzimos conhecimento e, conseqüentemente, temos algo a falar. Foi o que aconteceu com Davi. O ato de pensar é como um fogo que se acende dentro de nós. Quem tem boca e fala transmite conhecimento, como mostra esta passagem. O outro símbolo desta profecia é a “boca”. “Boca” é sinal de autoridade para falar, ditar normas e leis. Por exemplo: “Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos” (Jó 23:4), e, “aceita, peço-te, a lei da sua boca, e põe as suas palavras no teu coração”, (Jó 22:22). Assim, a passagem de Apocalipse 11:5 se refere a algo que tem poder de, ao abrir sua boca, transmitir conhecimento. Numa afirmação literal, estas “duas testemunhas” são o Antigo e Novo Testamento que difundem conhecimento e cuja conseqüência é a destruição de seus inimigos. Então, quais são os fatos históricos que explicam a morte de seus “inimigos”, conforme diz a profecia? Quem eram seus inimigos?
Por inimigo, devemos entender aqueles que eram contrários à disseminação da mensagem contida na Bíblia. O inimigo número um, neste caso, era a própria Igreja Romana e a ele se agregam todos os reis, ou nações católicas. A Igreja restringia a difusão do conhecimento, pois isto representava uma ameaça ao domínio que exercia sobre o povo. Não era favorável à tradução e à leitura da Bíblia por leigos. Por isso, a difusão da Bíblia até a Idade Média estava bastante restrita. Havia poucos exemplares à disposição. Neste tempo, eram cópias manuscritas em pergaminhos de difícil produção, geralmente, o Antigo Testamento em hebraico, o Novo em grego e uma versão em latim, chamada de Vulgata Latina. Poucas foram as traduções para outras línguas e quase sempre nunca completa. Estas cópias manuscritas se encontravam nos mosteiros e poucas pessoas as possuíam.
A Igreja controlou o acesso às escrituras. Se a Palavra de Deus fosse posta à disposição do público na linguagem do homem comum, seria um desastre para a igreja. Se as pessoas fossem capazes de ler a Bíblia em sua própria língua, a renda da igreja e o seu poder cairiam. Eles não poderiam continuar com a venda de indulgências (perdão dos pecados) ou vender a libertação de seus entes queridos do “Purgatório”. As contradições entre o que a Palavra de Deus diz e o que os padres ensinavam, abriria os olhos do público e a verdade iria libertá-los do medo que a igreja institucional impunha. A salvação através da fé, não de obras ou de doações, seria entendida. A necessidade de sacerdotes desapareceria por meio do sacerdócio de todos os crentes. A veneração de santos canonizados pela igreja e Maria seria posta em xeque. A disponibilidade das escrituras em línguas locais foi a maior ameaça para os planos iníquos da Igreja. Então, a Igreja se volta contra aqueles que se punham a traduzir a Bíblia. A Igreja se punha como inimigo da Palavra de Deus. Como inimigo das “duas testemunhas”.
Muitos reformadores depõe a favor da idéia de que a Igreja se tornara inimiga da Bíblia. John Huss disse que as pessoas deviam ser autorizadas a ler a Bíblia em sua própria língua, e elas devem se opor à tirania da igreja romana que ameaçava qualquer um que possuía uma cópia latina da Bíblia. Tomas Linacre, disse que a Igreja ameaçava matar qualquer um que lê-se a escritura em qualquer outra língua que não o latim, embora o latim não era uma língua original das escrituras.
As cópias da Bíblia traduzida por William Tyndale eram queimadas, assim que o Bispo conseguia confiscá-las. A Igreja, na tentativa de impedir a proliferação da Bíblia de Tyndale, dizia que estas cópias continham erros, quando, na verdade, era o contrário. Então, um bispo ameaçou de morte quem fosse pego em mera posse dos livros proibidos de Tyndale.
Os reis apoiavam a Igreja. É o exemplo do rei Henrique VIII da Inglaterra. Conforme se sabe, o maior cliente de Tyndale foram os homens do rei, que compravam todas as cópias disponíveis para queimá-las. Mas, Tyndale usou seu dinheiro para reimprimir mais Bíblias. Ele foi preso por 500 dias e depois foi estrangulado e queimado na fogueira em 1536. As últimas palavras de Tyndale foram: “Oh Senhor, abre os olhos do Rei da Inglaterra”. Essa oração seria respondida apenas três anos depois, em 1539, quando o rei Henrique VIII, finalmente, permitiu, e até mesmo financiou, a impressão de uma Bíblia Inglês conhecido como a “Grande Bíblia”.
Como visto, a Igreja e os reis agiam contrariamente à difusão da mensagem bíblica. Eram inimigos. Faziam mal às Escrituras. Mas a profecia diz que “fogo” sairia da “boca” das “duas testemunhas” e devoraria “seus inimigos”. Foi o que aconteceu. A impressão da Bíblia em larga escala nas imprensas de Gutemberg favoreceu a sua leitura pelo povo comum. E à medida que muitas traduções surgiam, a verdade foi revelada às pessoas. A começar pelas 95 teses de Martinho Lutero nas portas da Igreja de Wittemberg em 1517. A produção do Novo Testamento por Erasmo incitou às pessoas experientes no grego a começar a examinar as bases sobre as quais determinadas doutrinas haviam sido estabelecidas. Os eruditos começaram a ver que a Bíblia não ensinava certas “doutrinas” como ensinava o catolicismo. Isto causou um verdadeiro movimento dentro da comunidade acadêmica. Em Nápoles, um espanhol João Valdes começou um grupo religioso para o estudo das Escrituras até sua morte em 1541. O culto a Maria, o purgatório, a trindade, a venda de indulgências e muitas outras doutrinas católicas foram posta em xeque por uma grande quantidade de eruditos. A partir de então, várias outras falsas doutrinas da igreja foram questionadas e começou um longo proceso de destruição de seu poder. Quem fizesse mal às “duas testemunhas” deviam ser mortas. Foi o que de fato aconteceu, pois elas “têm poder poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem” (Ap. 11:6).
Poder sobre o céu e sobre as águas #
Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem. (Apocalipse 11:6)
Continuando nossa explicação sobre as duas testemunhas, vamos, agora, entender o verso 6. Como já identificamos, anteriormente, as duas testemunhas são o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia. Na passagem citada acima, as duas testemunhas têm poder para fechar o céu, converter as águas em sangue e ferir a terra com toda a sorte de pragas. O que isto significa?
Duas simbologias estão presentes: não chover e águas convertidas em sangue. A chuva é símbolo de benção. Veja o que diz esta passagem de Salmos: Quando atravessam o vale árido, eles o transformam em fontes, e a chuva do outono vem cobri-los de bênçãos, (Salmos 84:6). A oração do rei Salomão demonstra que o céu fechado é sinal da falta da benção de Deus por causa do pecado: Quando os céus se fechar, e não houver chuva, por terem pecado contra ti… (I Reis 8:35a). A simbologia do sangue é sinal de guerra. Quanto às águas convertidas em sangue, devemos entender que rios, águas e mares são tomados na Bíblia como símbolo de nação, povos e gentes: O anjo me disse: As águas que viste, à beira das quais a Prostituta se assenta, são povos e multidões, nações e línguas, (Apocalipse 17:15). Portanto, águas convertidas em sangue significam povos em guerra. Com estes símbolos decifrados, é possível entender que durante o tempo do testemunho destes profetas, ou testemunhas (conforme a tradução), duas coisas aconteceriam: não viriam bênçãos sobre a terra e haveriam muitas guerras.
Como venho demonstrando nas postagens anteriores, esta profecia se cumpre na Idade Média. Neste período, a Europa enfrentou um grande declínio político, econômico e cultural. Como, também, muitas guerras e perseguições religiosas que trouxeram a morte de muitas pessoas.
Neste tempo, conhecido como Era das Trevas, o conhecimento estava restrito a um pequeno número de pessoas, geralmente aos monges, pois os livros que existiam estavam em sua maioria restritos às bibliotecas e estas, por sua vez, nos mosteiros e nas catedrais. E, mesmo o clero, boa parte dele vivia na ignorância. A maioria da população se encontrava na obscuridade cultural sem saber ler e escrever. O rei Carlos Magno, por exemplo, um dos mais célebres homens da história, não sabia ler. A leitura da Bíblia era quase impossível, uma vez que ela estava confinada nos mosteiros e na língua latina.
Na Idade Média, a economia européia também regrediu consideravelmente. Com a queda do Império Romano, em 476, o sistema produtivo entrou em decadência e foi substituído pelo feudalismo. Neste sistema de base agrária, a circulação de mercadorias e dinheiro foi praticamente extinguida. As estimativas de renda per capita ficaram num nível muito próximo ao mínimo de subsistência. Devido ao caráter expropriador do sistema feudal, os trabalhadores (servos) não se sentiam estimulados a aumentar a produção com inovações tecnológicas, uma vez que tudo que produziam de excedente era tomado pelo senhor. Por isso, o desenvolvimento técnico foi pequeno, limitando aumentos de produtividade.
Quanto à política, prevaleceu as relações de vassalagem e suserania. O suserano era quem dava um lote de terra ao vassalo, sendo que este último deveria prestar fidelidade e ajuda ao primeiro. O vassalo oferecia ao senhor fidelidade e trabalho em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. Todo o poder político se concentrava nas mãos dos senhores feudais.
A guerra na Idade Média era uma das principais formas de se obter poder. Os senhores feudais envolviam-se constantemente em campanhas militares para aumentar suas terras. Os cavaleiros formavam a base dos exércitos medievais. Corajosos, leais e equipados com escudos, elmos e espadas, representavam o que havia de mais nobre no período medieval. Por isso, não foi difícil para o Papa convencer os senhores feudais a empreender a Cruzada contra a Terra Santa. Mais de um milhão de pessoas morreram na primeira cruzada. Além disso, mais tarde, foi implantada uma máquina de matar homens, a Santa Inquisição. Séculos depois, ela teve seu nome vertido para Santo Ofício, que foi considerado um verdadeiro tribunal de sangue. Para complicar ainda mais a situação, em meados do século XIV, a Peste Negra devastou a população européia. Historiadores calculam que morreu aproximadamente um terço de seus habitantes.
Enfim, este período obscuro da Europa, durou mais ou menos mil anos, de 476 a 1453 d.C. A Europa, neste período, com raras exceções, não só não progrediu, como regrediu em relação às demais nações do mundo. Política, cultural e economicamente ela ficou estagnada no tempo. Foi como está escrito na profecia sobre as duas testemunhas: Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia. Também, a Europa viveu um período de constantes guerras e mortes por vários meios. As duas testemunhas tinham poder sobre as águas para convertê-las em sangue.
A profecia diz ainda que as duas testemunhas tinham poder para ferir a terra com toda a sorte de “pragas”. O que isto significa? “Praga”, “ira”, “flagelo” e “juízo” são usadas no Apocalipse para representar uma ação divina na história humana.* O poder das duas testemunhas representa a influência que a Bíblia deteve sobre a história européia. A Europa, desde os primórdios do cristianismo começou a ser moldada pelos ensinos do cânon sagrado. Com a ascensão de Constantino ao poder, em 313, decretando a liberdade de culto aos cristãos e principalmente com a abolição do paganismo por Teodósio, em 381, a Bíblia se tornou um elemento indispensável à vida dos europeus. Não ser cristão, era estar fora da lei. Do mais simples homem ao imperador, todos deviam se submeter às regras das Escrituras. Houve um esforço imenso para que todos os povos bárbaros fossem batizados. Até os índios americanos foram submetidos aos seus “ensinos”. Mas, a forma como estas “conversões” foram exigidas das pessoas não condiziam com a palavra do evangelho, pois foram impostas pela força da espada com objetivo de atender aos desejos políticos. Apesar de tudo, o fato importante é que na base das ações humanas estava a palavra de Deus influenciando os rumos da história. O que sucedeu na Europa durante a Era Cristã foi fruto da influência da Bíblia na mente dos homens. O Antigo e o Novo Testamento (Bíblia) são as duas testemunhas que tinham poder sobre toda sorte de pragas.
A morte das duas testemunhas #
E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará.
(Apocalipse 11:7)
Vimos no estudo do verso 6 que as duas testemunhas durante os dias de suas profecias tinham poder para fechar o céu, poder sobre as águas para convertê-las em sangue e poder para ferir a terra quantas vezes quisessem. Isto, literalmente, significa que a Bíblia influenciou a história europeia. Os reflexos foram sentidos em todos os aspectos da vida, resultando no atraso cultural, político e econômico, principalmente por causa das muitas guerras religiosas em nome de Deus. No estudo do verso 3, vimos que o período do testemunho destes “dois profetas” vestidos de saco seria de 1260 dias, ou seja, 1260 anos literais. A partir do verso 7, a profecia vai retratar os acontecimentos que se deram a partir do fim deste período. A narrativa profética diz que a “besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará”. O que nos cabe entender é quem é esta besta que sobe do abismo e que tipo de vitória ela conseguiu sobre os dois profetas, uma vez que no verso 11 (que estudaremos mais à frente) a profecia mostra que eles voltaram à vida.
Quem é a besta que sobe do abismo e vence as duas testemunhas? A besta é fartamente entendido pelos estudiosos da profecia se tratar de um reino, um poder humano. Duas passagens do Apocalipse falam da besta que sobe do abismo (mar). A primeira diz: E vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia, (Apocalipse 13:1). A segunda diz: A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá, (Apocalipse 17:8). Não vamos nos preocupar com o sentido pleno destes versos agora, apenas com o fato de que eles retratam a besta do abismo n’outros momentos históricos. O verso 1 de Apocalipse 13 fala do Império Romano no tempo do Imperador Justiniano (527 E.C). O verso 8 de Apocalipse 17 fala do Império Franco (atual França) no tempo de Carlos Magno (800 E.C.). Tanto um como o outro são ressurgimentos do Império Romano. O ressurgimento, ou continuidade, do Império Romano é fartamente tratado pela História Geral. A França, como depositária da herança romana, é a besta que sobe do abismo retrado nesta profecia. Ela foi o palco da proibição da leitura da Bíblia por ocasião da Revolução Francesa. Neste sentido, venceu as duas testemunhas.
Na praça da grande cidade #
E jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor também foi crucificado. (Apocalipse 11:8)
Como vimos no post anterior (A morte das duas testemunhas), a França era a besta que subiu do abismo e matou as duas testemunhas. Seus corpos foram expostos na cidade que em sentido espiritual pode ser comparada com Sodoma e Egito. Estes dois povos representam aversão a Deus. E a grande cidade na qual as duas testemunhas permanecem mortas também se posicionava contra Deus. Não é difícil entender que se trata da cidade de Paris, centro do governo francês.
Foi durante a Revolução Francesa, consequência de um processo de reforma do Estado iniciado em 1789 pelo Rei Luís XVI, que houve a proibição do culto religioso de qualquer religião. O cristianismo, a maior e quase que exclusivamente a única na França vai sofrer o maior impacto desta medida. A religião, a partir deste decreto, estava proibida, ou melhor, ela era assunto de Estado e deveria estar subordinado à lei.
Vejamos este fragmento histórico:
O que os revolucionários realmente tentaram foi substituir as religiões históricas por uma “religião de Estado”, com suas próprias pretensões teológicas, funcionários, elites e privilégios, visando assegurar que os cidadãos se submetessem à lei não apenas no comportamento externo, mas inclusive na consciência e no coração. A lei é que seria “deus”. (Site Aleteia)
Também:
A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” promulgou a liberdade religiosa, reservando ao Estado o poder de determinar quando as opiniões em matéria de credo eram incompatíveis com a lei. (Site Aleteia)
Por estes dois depoimentos, percebemos que tudo o que conferia às religiões, mas principalmente ao cristianismo, que era a religião predominante na França, estavam agora sob a égide do Estado francês. A Bíblia, símbolo máximo dos cristãos, deveria ser interpretada com base lei geral do país. A Bíblia (Antigo e Novo Testamento) não tem mais poder sobre o cidadão francês. Neste sentido, as duas testemunhas estavam mortas e seus corpos jaziam na praça da grande cidade que se chama Sodoma e Egito.
As consequências da adoção desta “igreja constitucional” podem ser resumidas na pressão do Estado por uma fidelidade dos sacerdotes e sua desfiliação da igreja tradicional. Caso recusassem, eram perseguidos, presos e mortos. Outra medida tomada pelo Estado Francês foi interromper a comunição de seus cidadãos com a Igreja de Roma. Também forma proibidos qualquer ritual em seu território como eucaristia e batismo. As reuniões eram ilegais e só aconteciam na clandestinidade no meio dos bosques ou em barcos afastados das praias. No lugar da religião cristã foi instituido o culto ao “Ser Supremo”, além de que sinagogas e igrejas foram transformadas em templos à Deusa da Razão.
Foi o caso, isto sim, de um esforço estatal impositivo para transformar o Estado não apenas no máximo ditador da consciência individual, mas em objeto, ele próprio, de devoção pública. (Site Aleteia)
Assim, morreram as duas testemunhas na grande cidade. Em linguagem não simbólica, a autoridade da Bíblia foi submetida ao poder do Estado francês.
A Bíblia é proibida na França #
E homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações verão seus corpos mortos por três dias e meio, e não permitirão que os seus corpos mortos sejam postos em sepulcros. (Apocalipse 11:9)
Vamos refletir sobre este versículo e desvendar seus símbolos. O texto do Apocalipse não deve ser apreendido somente em seu sentido primário. Apesar dessa possibilidade, a maior parte tem uma conotação indireta, ou seja, é preciso ler através da simbologia aplicada. Mas isso só é possível quando já deciframos os seus símbolos. Já sabemos que estes momentos finais da profecia sobre as duas testemunhas envolvem a Revolução Francesa, por isso, ao lermos este texto, já o faremos com ela em mente.
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“Homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações” não parece ser um texto difícil de entender. Objetivamente, estamos falando de outras nações do mundo, excluindo a França, onde os fatos ocorreram. As outras nações participaram deste momento histórico de forma indireta. Elas presenciaram a morte das duas testemunhas por “três dias e meio” e não permitiram que fossem sepultadas. Em outras palavras, o mundo foi contra as decisões tomadas na França.
Como vimos anteriormente, as duas testemunhas são o Novo e o Velho Testamento, a “morte” delas é a representação da proibição da Bíblia e da religião na França. Os “três dias e meio” representam o tempo que durou esta proibição. Três dias e meio profeticamente falando são 3,5 anos que se cumpriram dentro do período da Revolução. Não há como precisar claramente o momento que começa e termina este período. Mas é possível entender que o mais eletrizante período, o Reinado do Terror, cumpre esta profecia. Este período se dá entre 1792 e 1795. Durante este período, chamado de Convenção, vários acontecimentos parecem estar aparelhados com a profecia. Principalmente o fato de as grandes potências europeias intervirem na Revolução e assim “homens de vários povos” não permitirem “que os seus corpos mortos” fossem postos em sepulcros. A França com sua Revolução queria exterminar com a Bíblia e com a religião, mas as demais nações se opuseram.
Também, há interpretes que colocam este período entre os anos de 1793 a 1797. Ele também coincide com o período do Grande Terror, quando um decreto promulgado em Paris aboliu a religião. Vejamos o que diz o autor de uma interpretação postada no site apocalipsecomentadoversoaverso:
“Esse período começou a 26 de novembro de 1793 quando a França, por decreto se sua assembléia legislativa, declarou que não há Deus, o que foi motivo de regozijo para todos os seus habitantes, e durou até 17 de junho de 1797, quando o governo francês anulou o decreto e outra vez se permitiu a prática da religião na França. Durante este tempo a Bíblia foi queimada e abolida na França, foi ‘morta’. Todas as igrejas foram fechadas e proibiu-se a adoração de Deus por decreto da assembléia, que era o corpo legislativo da França. Também se decidiu que a semana seria de dez dias. O dia de descanso foi abandonado e em seu lugar se consagrava um dia em cada dez para a orgia e a blasfêmia. Negou-se abertamente a existência de Deus. Uma mulher imoral foi nomeada a deusa da razão, e as pessoas deviam adorá-la. Ficou proibido todo tipo de culto religioso.” [i]
A proibição da religião cristã, de fato durou este período. A proibição se deu no período de governos sob os jacobinos, mais radical e aliado ao povo, e sua extinção sob o governo dos girondinos, mais conservadores e próximo dos reacionários, que tinham apoio das nações europeias. Este momento ficou conhecido como descristianização da França:
“O programa de descristianização travado contra o catolicismo e incluiu: destruição de estátuas, placas e outras iconografias de locais de culto;[19] destruição de cruzes e sinos de igrejas;[19] a instituição de cultos revolucionários e cívicos, incluindo o Culto da Razão e posteriormente o Culto do Ser Supremo (primavera de 1794).[21] Um evento especialmente notável que ocorreu durante a descristianização da França foi o Culto da Razão, realizado na Catedral de Notre Dame em 10 de novembro de 1793.[8]”[1]
“As leis anticlericais foram aprovadas pela Assembleia Legislativa e sua sucessora, a Convenção Nacional, bem como pelos conselhos departamentais em todo o país. Muitos dos atos de descristianização em 1793 foram motivados pela apreensão do ouro e da prata da Igreja para financiar os ideais revolucionários.[32] Em novembro de 1793, o conselho do departamento de Indre-et-Loire aboliu a palavra dimanche (português: domingo).[33] O calendário gregoriano, instrumento decretado pelo Papa Gregório XIII em 1582, foi substituído pelo calendário republicano francês que aboliu o sábado, os dias santos e quaisquer referências à Igreja. A semana de sete dias passou a ser de dez dias.[34] Logo ficou claro, no entanto, que nove dias consecutivos de trabalho eram demais e que as relações internacionais não poderiam ser realizadas sem o retorno ao sistema gregoriano, que ainda era usado em todos os lugares fora da França.[35] Consequentemente, o calendário gregoriano foi reimplementado em 1795.[34][2]
“Desfiles anticlericais foram realizados, e o arcebispo de Paris, Jean-Baptiste-Joseph Gobel, foi forçado a renunciar a suas funções e obrigado a substituir sua mitra pelo Barrete frígio.[36] Nomes de ruas e lugares com qualquer tipo de conotação religiosa foram alterados, como a cidade de Saint-Tropez, que tornou-se Héraclée.[37] Os feriados religiosos foram banidos e substituídos por feriados para celebrar a colheita e outros símbolos não religiosos. Muitas igrejas foram convertidas em “templos da razão”, nos quais eram realizados cultos deístas.[34] A população local muitas vezes resistiu a essa descristianização e forçou os membros do clero que haviam renunciado a celebrar a missa novamente.[34]”[3]
Em suma, estes são os fatos que cumpriram esta profecia. A França proibiu a religião cristã e o uso de todos os seus símbolos, dias de culto, calendário e, principalmente, a Bíblia. Mas esta proibição não se sustentou porque a pressão internacional obrigou a França a retroceder e, exatamente, três anos e meio depois o cristianismo voltava a ter seu culto livre.
[1] WIKIPEDIA: Descristianização da França durante a Revolução Francesa. Acessado em 6 de abril de 2024.
[2] Idem.
[3] WIKIPEDIA: Descristianização da França durante a Revolução Francesa. Acessado em 6 de abril de 2024.
[i] http://apocalipsecomentadoversoaverso.blogspot.com/2015/07/apocalipse-11.html
NOTA IMPORTANTE:
Este estudo ainda não está completo. Faltam os versos 10, 11, 12 e 13. No momento oportuno, completaremos o estudo. Porém, deixamos aqui um breve comentário sobre os versículos finais para que os leitores tenham uma ideia geral.
Os versos:
10 E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra.
11 E, depois daqueles três dias e meio, o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram.
12 E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: “Subi para aqui.” E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram.
13 E, naquela mesma hora, houve um grande terremoto, e caiu a décima parte da cidade; e, no terremoto, foram mortos sete mil homens; e os demais ficaram muito atemorizados e deram glória ao Deus do céu.
Apocalipse 11:10–13
1. O verso 10 — “mandarão presentes uns aos outros” — é uma referência às consequências da famosa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Este foi um documento fundamental da Revolução Francesa, que estabeleceu princípios de liberdade e igualdade. A Carta declara que os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos, com distinções sociais baseadas na utilidade comum. Essa declaração influenciou profundamente o desenvolvimento dos direitos humanos modernos, estabelecendo um fundamento para a igualdade perante a lei e a proteção dos direitos individuais.
2. O verso 11 diz que as duas testemunhas se colocam de pé. Esta é uma referência ao fato de que a Bíblia foi novamente liberada e a prática da religião nela baseada voltou a ser permitida.
3. O verso 12 fala de uma “grande voz do céu” que chama as duas testemunhas a subirem ao céu. E elas subiram envoltas em uma nuvem. O “subir ao céu” representa a glorificação da Bíblia após ter sido proibida na França. A partir deste momento, ela passou a ser publicada aos milhares e, depois, aos milhões de cópias — sendo amada e aceita por bilhões de pessoas em todas as nações, embora frequentemente mal compreendida. A “nuvem” envolvendo as duas testemunhas simboliza justamente essa incompreensão que muitos cristãos têm da Palavra de Deus.
4. O verso 13, que é o último da profecia, fala de um “grande terremoto” que destrói a décima parte da cidade e provoca a morte de sete mil homens. Este terremoto representa a Revolução Francesa, com todas as suas consequências, como a carnificina e os assassinatos de membros do clero em Paris.
Essas ideias serão melhor desenvolvidas em breve. Aguarde e volte aqui para reler.
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