Por: Sandro Pozzi
A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, considerou a resolução da Assembleia Geral uma “agressão” à soberania, aos valores e aos interesses de seu país. E reiterou a ameaça − feita na véspera por Trump − de parar de fornecer ajuda aos países que criticam a posição americana. “Nossa boa vontade deve ser respeitada”, afirmou Haley ante o plenário, acrescentando: “Recordaremos este dia quando vierem nos pedir mais”.
Miroslav Lascak, atual presidente da Assembleia Geral, lembrou, antes da votação, que todos os países têm o dever de respeitar a Carta da ONU e isso significa que devem acatar o direito internacional. O chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, condenou com base nesse argumento a decisão dos EUA, afirmando que ela rompe de uma maneira “flagrante” o consenso sobre Jerusalém, “que é muito claro”.
O texto aprovado é muito semelhante ao esboço vetado segunda-feira no Conselho de Segurança. Ele reafirmando a dezena de resoluções adotadas pelo Conselho sobre Jerusalém desde 1967. Nelas se estabelece a exigência de que o status final da cidade seja resolvido de mútuo acordo entre Israel e Palestina. Qualquer decisão ou ação unilateral que o altere, assinala, “não terá efeito legal” e será “nula”.
Atitude inaceitável
A resolução não cita diretamente os EUA nem o presidente Donald Trump. Mas expressa sua “profunda preocupação” com as recentes decisões adotadas sobre o status de Jerusalém. O chanceler turco pediu por sua vez aos membros das Nações Unidas que não se ajoelhassem ante as ameaças de Washington. “Essa atitude é inaceitável”, afirmou ante o plenário.
Aliados chave dos EUA, como Reino Unido, França e Japão, votaram a favor do texto, apesar da pressão, para reafirmar assim os princípios e o marco legal já definidos a respeito do status de Jerusalém. Também ressaltaram que não pode haver nenhuma exceção quanto à questão das embaixadas. Canadá, México, Hungria e República Checa optaram por se abster. “Não podem existir obstáculos adicionais que prejudiquem o avanço”, disse o representante mexicano.
As diferentes delegações que participaram do debate advertiram que uma solução duradoura do conflito não será possível sem um acordo sobre Jerusalém e, nesse sentido, consideram que a vocação da cidade é a de ser a capital de dois Estados que vivam em paz. E, para reafirmar a necessidade de preservar o status quo, recordaram que há mais de 300.000 palestinos que vivem na cidade, o que representa 40% da população.
Extremismo
Os diplomatas que discursaram para explicar seu voto fizeram um chamado à calma e à contenção, para evitar o agravamento das tensões sobre Jerusalém. O risco, insistem, é que o conflito político se transforme em um conflito religioso que seja aproveitado pelos grupos radicais em detrimento dos moderados. Isso poderia, por sua vez, ter um efeito desestabilizador em toda a região.
O representante do Iêmen, em nome do grupo dos países árabes, disse ao apresentar a resolução para votação que a situação na região é “extremamente delicada” e a declaração dos EUA é uma ameaça à paz e à segurança. “É uma decisão inútil, perigosa, que mina as possibilidades de paz. Só serve para atiçar a violência e o extremismo”, advertiu.
O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, considerou irônico que o Iêmen seja o patrocinador desta resolução e se apresente como defensor do direito internacional. Também lamentou que o organismo “ignore totalmente” os atos de terror contra sua população. “A resolução incentiva os líderes palestinos a seguir esse caminho perigoso em nome de Jerusalém, a cidade da paz”, concluiu.