Sete chaves para interpretação das profecias do Apocalipse

Existem pelo menos três linhas de interpretação profética: historicista, futurista e preterista. Não vou, agora, esclarecer cada uma delas, apenas dizer que a posição por mim adotada é a historicista. A razão para seguir esta linha de interpretação é o fato de que as simbologias mais importantes da profecia já foram explicadas na Bíblia. Vemos isso acontecer em Daniel capítulos 7, 8, 9 e 12, quando o anjo dá a interpretação para Daniel. Isso também ocorre em Apocalipse 17, o anjo explica as simbologias da “mulher” e das “bestas” com suas “cabeças” e seus “chifres”. Essas interpretações definem que quatro reinos mundiais existiriam antes da chegada do reino de Deus. Qualquer outro simbolismo, em qualquer outra profecia, deve ser encaixado neste esquema. Portanto, o princípio de interpretação já é dado e cabe a nós seguir o determinado por Deus. Os métodos futurista e preterista não consideram este princípio dado por Deus em boa parte de seus estudos proféticos. As interpretações perdem a relação com a história e pairam no vazio. A partir de então, tudo é válido.

O modelo historicista leva muitas vantagens sobre os modelos preteristas e futurista, pois, além de começar pelas explicações dadas na Bíblia, tem o compromisso de identificar na história todos os acontecimentos relacionados com a simbologia. Por exemplo, a “besta”, identificada com um reino, tem “olhos”, tem “chifres”, tem “asas”, tem “coroas” etc. O intérprete historicista se vê obrigado a explicar cada detalhe da profecia, comprovando com fatos históricos. O modelo futurista ao jogar tudo para um tempo posterior se desobriga de explicações e comprovações. Ficamos, neste caso, dependendo da aleatoriedade dos acontecimentos e pouco iluminados quanto à chegada do reino de Deus. O modelo historicista, pelo contrário, aponta para o exato momento em que estamos no relógio profético de Deus.

Quero apresentar algumas regras que adotei nas interpretações em meu livro O apocalipse é assim…  Estas regras foram poderosas para conduzir a pesquisa. Nada foi feito ao prazer do meu entendimento pessoal. O resultado foi poderoso, como podem comprovar aqueles que já leram o livro. Antes, porém, alguns comentário sobre profecias, simbologias e o livro de Daniel.

A profecia

É uma predição, um oráculo, um vaticínio. Previsão literal ou simbólica de um evento futuro. Pode ser proferida a partir de um sonho, de uma visão, de um sinal, de uma intuição etc. Há vários tipos de profecia. Aqui falamos da profecia bíblica. As passagens a seguir dão uma ideia. Através da profecia, Deus se comunica com seus servos: Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas. (Amos 3:7) Deus é a fonte da verdadeira profecia: Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade. (Isaías 46:9,10) Eis que as primeiras coisas já se cumpriram, e as novas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir. (Isaías 42:9) A profecia ilumina o homem: E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração, sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo. (I Pedro 1:19-21) Enfim, a profecia bíblica permite o homem entender a história antes que ela aconteça.

Símbolos proféticos

Compreender a profecia requer um pouco de conhecimento sobre os símbolos proféticos. Os símbolos não são complexos. Com um pouco de noção de linguagem, comunicação e cultura é possível converter símbolos em elementos mais compreensíveis. Os símbolos estão no dia a dia das pessoas. Um exemplo do cotidiano: a pessoa diz que teve uma brilhante ideia. Ideias não brilham, neste caso, é uma forma de linguagem, uma maneira simbólica de expressar. Um exemplo bíblico de símbolos são os “quatro animais” no livro de Daniel, capítulo 7.[1] Nesta passagem, os quatro ventos do céu agitam o mar grande, de onde se levantam quatro grandes animais. O anjo de Deus explicou que estes “animais” são quatro reis, ou reinos. Desta narrativa simbólica, tem-se uma narrativa literal, que é a história dos quatro grandes impérios mundiais (Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma). Os símbolos retratam as transformações políticas, econômicas, sociais, culturais e os seus agentes como reinos, reis, povos, ideias, religiões etc. Importante saber que na maioria das profecias bíblicas, a interpretação seus símbolos principais é dada pela própria Bíblia, o que descarta a necessidade da interpretação humana.[2]

As profecias do livro de Daniel

O livro do profeta Daniel comporta algumas profecias de fundamental importância para o entendimento do livro do Apocalipse. No capítulo 7 do livro de Daniel, Deus mostrou em visão quatro grandes bestas: leão, urso, leopardo e um animal terrível. Estes, como vimos, representavam quatro grandes reinos que dominariam o mundo civilizado.[3] No capítulo 2, Ele pré-anuncia os mesmos quatro reinos a Nabucodonosor através da visão da grande estátua. Nesta, Deus coloca a Babilônia como o primeiro dos quatro reinos mundiais. Daí que, a cabeça de ouro da estátua era Babilônia, os peitos e os braços de prata representavam a Média-Pérsia, o ventre e as coxas de bronze a Grécia, as pernas de ferro e os pés com os dez dedos em partes de ferro e barro representavam o Império Romano. Finalmente, uma pedra lançada sem auxílio de mãos representa o reino de Deus. Esta é a estrutura para os mesmos quatro reinos representados como bestas no capítulo 7. O leão era Babilônia, o urso, a Média-Pérsia, o leopardo com as quatro cabeças, o reino grego, e a quarta e terrível besta com dez chifres, Roma. O próximo reino mundial após Roma será o reino de Deus sob o governo de Cristo. Este é o esquema da História mundial que o Senhor deu para orientar o Seu povo quanto ao estabelecimento do Seu domínio[4] Deve-se ter este esquema sempre em mente ao estudar a profecia. O primeiro grande reino representado na visão de Daniel e no sonho do Rei Nabucodonosor foi a Babilônia, (606-538 a.C); o segundo reino foi a Média-Pérsia, (538-331 a.C.); o terceiro a Grécia, (331-168 a.C.); e o quarto grande reino foi o Império Romano, que iniciou seu domínio em 168 a.C e durou até 476 d.C. O quinto será o reino de Deus.

A profecia diz que as pernas da estátua eram de ferro.[5] Estas pernas representaram os tempos em que Império Romano era forte como ferro e vencia todos os seus inimigos. Este período durou até 395 da presente Era. Já os pés com partes de ferro e barro, porém, com alguma firmeza[6] representaram o Império dividido em duas partes, ocidental e oriental. A ocidental caiu em 476 e a oriental permaneceu forte até 1453. Os dez dedos dos pés com partes de ferro e barro misturados, o que representavam? Os dez dedos da estátua e os dez chifres da besta foram usados para representar a mesma coisa na história romana. Em Daniel 7:24, lê-se: Quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis. São eles: Anglo-Saxões, Alamanos, Burgúndios, Francos, Hérulos, Lombardos, Ostrogodos, Visigodos, Vândalos e Suevos. Foram eles que derrubaram o Império Romano dividindo-o em dez nações. Isto é certificado em qualquer livro de História Geral. Por fim, nos dedos dos pés havia ferro misturado com lodo de barro. Significa que estes reinos se misturariam através do casamento, mas nunca mais se tornaram uma só reino — o Império Romano.[7]

As regras de interpretação

O objetivo destas regras é contribuir para uma explicação precisa e segura das profecias do livro do Apocalipse. Por isso, uma metodologia de interpretação deve ser adotada. Não tem caráter acadêmico e nem teológico, mas servem para orientar a interpretação de forma que ela seja confiável, quiçá irrefutável.

Primeira

A primeira regra considera que o Apocalipse é história. O livro do Apocalipse é a revelação dos grandes acontecimentos históricos. Esta regra, parte do princípio de que o livro do Apocalipse é a revelação “de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer.[8] Suas profecias são os eventos da história.

Segunda

A sequência da narrativa profética é equivalente à sequência da narrativa histórica. A história é uma sequência, a narrativa profética também. A ordem da narrativa do Apocalipse, considerado capítulos e versículos, é a ordem dos eventos históricos. A história é um fenômeno de causa e efeito, onde um primeiro evento é causa de um segundo que, por sua vez, é causa de um terceiro e, assim, sucessivamente numa cadeia ininterrupta e linear. Não se pode interpretar a profecia de forma alinear. Este procedimento evita interpretações arbitrárias.

Observação: Apesar de existir uma sequência na narrativa, ela é circunscrita a cada texto. Os fatos narrados em diversos capítulos do livro, são entrelaçados e justapostos uns aos outros, uma vez que cada profecia trata de aspectos diferentes da história que aconteceram simultaneamente. Todavia, a alocação dos textos no livro do Apocalipse está em sequência lógica com a sequência da história.

Terceira

Uma pequena frase da narrativa profética pode significar um longo período da história. Uma frase do tipo: “derramou sua taça sobre o sol”, não representa um acontecimento de um dia, mas de um século. Pois, se Deus quer mostrar a seus servos os sinais dos tempos, não é lógico que o fizesse com acontecimentos de pouca importância e evidência. Quando uma pessoa instrui outra sobre um endereço numa cidade, ela indica as grandes referências, uma torre, um edifício, uma ponte, uma praça. Da mesma forma fez Deus através da profecia, Ele forneceu as grandes características da história até a chegada de Seu reino.

Um raciocínio simples colabora para esta ideia. Somados os sete selos, as sete trombetas e as sete taças totalizam vinte e uma profecias. No entanto, o sétimo selo compreende a cadeia das sete trombetas e a sétima trombeta compreende a cadeia das sete taças.[9] O cumprimento do sétimo selo se dá na consumação das sete trombetas e o cumprimento da sétima trombeta se dá na consumação das sete taças, logo, não há um evento histórico específico para estas duas profecias (sétimo selo e sétima trombeta). Têm-se, então, dezenove profecias para dezenove séculos de história do livro do Apocalipse. Coincidência? As profecias do Apocalipse tratam dos grandes acontecimentos históricos. Esta é uma ideia importante para ser seguida.

Quarta

Os significados dos símbolos, principalmente os mais importantes, devem ser encontrados no próprio texto bíblico. A Bíblia é a regra de si mesma. O significado de um símbolo é dado em seu contexto. A explicação dos símbolos está na Bíblia. Os significados de “sol”, “lua”, “estrelas”, “ventos”, “montes” etc são dados no contexto de outras narrativas bíblicas. Contudo, há alguns símbolos que são tão óbvios e usados de forma tão comum em qualquer linguagem que dispensaria a explicação bíblica. Mas, o significado com passagens da própria Bíblia tem mais valor, maior autoridade.

Quinta

A narrativa profética é feita de símbolos e os seus significados são sempre os mesmos em todas as ocorrências. Não é correto dar significados muito diferentes para um mesmo símbolo. Muitos escatologistas mudam e aplicam diversos significados para um mesmo símbolo. Isto é um erro. Se um significado for usado na interpretação de uma profecia, deverá ser usado o mesmo nas demais interpretações. Sendo assim, o cavalo branco do capítulo 19 do Apocalipse[10] tem o mesmo significado do cavalo branco do capítulo 6.[11] Os terremotos[12] que aparecem em várias partes do Apocalipse têm o mesmo sentido em todas as ocorrências. Assim, se sucede com todos os símbolos. Precisa ser aplicada a lógica e a coerência nas interpretações e dar sempre o mesmo significado em suas ocorrências. Fazer diferente é torcer o sentido.

Importante entender que dar o mesmo significado não é dizer que é o mesmo acontecimento. O acontecimento por trás do símbolo pode e na maioria das vezes é outro. Por exemplo, “terremoto” significa revolução social, mas isto não quer dizer que seja sempre a mesma revolução. Numa aparição da palavra pode representar a “revolução do cristianismo”, já na outra pode representar a “Revolução Francesa”. O contexto da profecia é que nos vai dizer a qual acontecimento histórico se refere.

Sexta

Toda a interpretação precisa do apoio de um fato histórico. O objetivo desta regra é sempre apresentar fatos inquestionáveis como cumprimento da profecia. Se as profecias do Apocalipse são história, sua interpretação não pode ser uma conjectura (ideias vagas sobre o que poderia ser). A maioria dos escatologistas apenas relaciona profecias com características semelhantes dentro do contexto bíblico, mas suas explicações não apresentam informações históricas concretas. Na verdade, isso não é interpretação, é comentário. O estudo interpretativo do livro do Apocalipse tem que traduzi-lo numa linguagem histórica. Esta regra corrobora com as duas regras anteriores, aquelas padronizam o entendimento do símbolo no contexto bíblico e esta padroniza no contexto da história.

Sétima

Diferenciar as linguagens do texto profético. O Apocalipse tem três tipos de linguagens: metafísica, simbólica e literal. A linguagem literal está no texto cujas palavras se assemelham com as palavras do texto secular. Neste caso, não é necessário fazer interpretação. Isso acontece com a expressão: “matando uns ao outros”, (Apocalipse 6:3). Expressão semelhante é encontrada nos livros históricos que descrevem o fato relacionado a esta profecia. Linguagem simbólica é aquela cuja expressões dependem de uma interpretação. Exemplo: o sol que escurece. Literalmente, este é um fenômeno físico, não histórico. Então, há um sentido por trás desta expressão profética. A diferença entre linguagem simbólica e linguagem literal é que uma requer interpretação, a outra dispensa. Linguagem metafísica é aquela parte da profecia cujas palavras falam de acontecimentos não pertencentes à dimensão humana. Não há uma nítida simbologia neste tipo de texto. Ele é apenas uma descrição da atuação dos poderes transcendentais (Deus, Jesus e outros seres celestiais). Portanto, não há fatos históricos relacionados a este tipo de texto. Um exemplo é a passagem que diz: “E, havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora”. (Apocalipse 8:1) Quem abre os selos é o Cordeiro (Jesus). Não há fato histórico no contexto do sétimo selo que pode ser relacionado à pessoa física de Jesus. Diante desta impossibilidade de encontrar uma explicação fatual, seja por limites deste estudo, ou por limites de nosso entendimento, foi abandonado qualquer especulação conjectural. Este estudo se preocupa com coisas concretas, não com questões metafísicas. Assim, o literal é entendido literalmente, o simbólico é interpretado e o metafísico não é especulado. Esta diferenciação é importante para traçar limites na interpretação e explicações destas profecias.

Nota: Minha opinião é a de que estes textos com aspectos metafísicos descrevem uma realidade celestial, que só serão alcançadas por um nível de espiritualidade e entendimento bem mais elevado da que temos atualmente. Como a preocupação aqui é com a realidade histórica, não especulei possibilidades sobre estas descrições.

Façamos bom uso destas regras e avançaremos na compreensão profética.

[1]. Daniel 7: 1-8; 17-23.

[2]. Daniel 7:16.

[3]. Daniel 7: 1-8, 23-27.

[4]. Daniel 2: 44, 45; 7:18, 22, 27.

[5]. Daniel 2: 33, 40.

[6]. Daniel 2: 33, 41.

[7]. Daniel 2: 40, 41, 43.

[8]. Apocalipse 1: 1.

[9]. Apocalipse 8:1,2; 11:15; 15:1-8.

[10]. Apocalipse 19: 11.

[11]. Apocalipse. 6: 2.

[12]. Apocalipse 6: 12; 8: 5; 11: 13, 19; 16: 18.

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